Eli Tukamoto, de 55 anos, criou 71 álbuns descrevendo, em detalhes, o contexto de cada imagem impressa. Nas redes, vídeo do antigo hobby do pai fez sucesso no perfil da filha, Bruna Tukamoto.
Por Bruna Melo, g1 PR — Londrina
Muito antes de ser comum publicar uma foto com legenda, localização e marcação de pessoas em redes sociais como o Instagram, o paranaense Eli Tukamoto, de 55 anos, seguia a mesma lógica ao fazer álbuns de fotografias da filha, Bruna Tukamoto, durante meados dos anos 1990. Só que tudo de maneira analógica.
Pensando em garantir para a filha um acervo vasto da infância, ele a fotografa quase todos os dias, mandava revelar os filmes e fazia álbuns que iam além da função de apenas guardar as imagens. Neles, Tukamoto colocava a localização de onde a foto havia sido tirada e também "marcava" pessoas que fizeram parte do registro, usando tiras de papel impressas.
O que começou como um hobby, hoje é um acervo rico em detalhes na história de toda a família. Assista acima.
Nos armários da casa, em Londrina, são 71 álbuns com as mesmas características.
O antigo hábito do pai ganhou destaque depois que Bruna, de 28 anos, postou um vídeo do acervo. A publicação foi assistida mais de um milhão de vezes, e muitos usuários brincaram que foi Tukamoto quem inspirou o Instagram, aplicativo criado em 2010 e comprado em 2012 pelo dono da Meta, Mark Zuckerberg.
"Tentava fazer o mais detalhado possível para que, quando eles crescessem, eles pudessem ler aquilo e falar ‘olha só, eu era assim, eu tinha isso, eu gostava disso, eu comia aquilo’...", contou Tukamoto.
Em alguns casos, a legenda criada é do mesmo tamanho que a foto. — Foto: Arquivo pessoal
Nos álbuns, cada foto analógica está acompanhada de uma legenda – algumas feitas em máquina de escrever, outras feitas em computadores, impressas e coladas junto a cada imagem. Em muitos casos, as descrições são tão extensas que ocupam uma folha inteira.
Graças aos álbuns do pai, Bruna sabe que, no primeiro ano de idade, batia palminha, gostava de tirar coisas da gaveta e tinha oito dentes na frente, sendo um único no fundo da boca.
Cada fotografia tem uma descrição rica em detalhes. — Foto: Arquivo pessoal
"É como se eu realmente revivesse esses momentos da minha vida, da minha infância, mas eu não me lembrasse de fato. É que alguém registrou. Está em terceira pessoa", contou Bruna.
Aos dois anos, entre tantas outras curiosidades, o pai registrou que ela parecia "uma vitrola" pelo tanto que falava.
Sem deixar passar nenhum detalhe, o pai também fez questão de registrar até o que estava disponível para as refeições no momento das fotos: quantidade de doces, peso da carne e os tipos de corte.
Legendas mostram tipo e quantidade de comida servida. — Foto: Arquivo pessoal
Anos depois, o sentimento dele ao olhar os álbuns que fez é de nostalgia.
"Quando revelava, eu e minha esposa olhávamos as fotos e tentávamos relembrar onde estávamos, já fazíamos as anotações para poder imprimir e colar junto ao álbum. Hoje, devido à correria, acho que talvez tenha perdido um pouco esse negócio de bater foto. Mudou muita coisa. Antigamente parece que era mais gostoso", contou o pai.
Tukamoto "marcava" cada pessoa que fazia parte da foto. — Foto: Arquivo pessoal
Como tudo começou
Tukamoto contou que investiu no hobby porque queria garantir aos filhos algo que ele não teve na infância: memórias impressas. A provocação veio porque, após se tornar adulto, buscou fotos de quando era pequeno para ter mais informações sobre própria vida, mas só achou quatro registros.
Ele decidiu, então, que isso não se repetiria com os dois filhos. Os filmes eram revelados a cada dois meses.
"A minha mãe fala que quando eu era bebê, meu cabelo era cacheado e depois do primeiro corte ficou liso. Mas não tinha foto para eu poder ver como que era. Pelo menos os meus filhos vão saber como eles eram quando pequenos”, disse Tukamoto.
Nas lembranças de Bruna, o pai está sempre com a câmera fotográfica nas mãos. Em apresentações da escola, por exemplo, ele mesmo coordenava os registros e chamava outras pessoas para que fizessem parte.
A tradição foi passada para frente e hoje Bruna, herdeira do hobby, foi quem passou a garantir que as memórias não fossem apagadas – mas, desta vez, tudo no mundo digital.
Bruna com os pais e irmão em registro recente. — Foto: Arquivo pessoal
Para ela, ter uma vida documentada pelos olhos dele foi um privilégio.