Quadrilha liderada por professora movimentou R$ 54,5 milhões, apesar de a renda mensal declarada dela ser de R$ 9,4 mil
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Indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por liderar quadrilha especializada em fraudes contra bancos públicos e privados e lavagem de dinheiro, uma professora aposentada da rede pública do DF foi alvo de mandados judiciais que sequestraram uma série de bens dela e de outros 10 investigados por também integrarem o esquema, que movimentou R$ 54,5 milhões.
A ação faz parte da terceira fase da Operação Rainha do Gado, da 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia).
A coluna apurou que a base da organização criminosa era em Brazlândia e liderada pela professora aposentada Vanesia Maria Rodrigues de Araújo (foto em destaque), presa na primeira fase da operação, deflagrada em 18 de junho deste ano. De cunho familiar, a estrutura fraudulenta contava com outros parentes da detida, bem como empregados dos bancos.
A pedido da PCDF, a Vara Criminal de Brazlândia, com aval do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), determinou o sequestro de bens e bloqueio de contas bancárias dos 11 investigados até o limite de R$ 24,6 milhões. Mais de R$ 3 milhões em bens foram encontrados pela PCDF. Já foram apreendidos sete veículos, totalizando R$ 490 mil, sete imóveis, totalizando R$ 2,6 milhões, e cerca de R$ 47 mil em ativos financeiros.
Veja imagens da “Rainha do Gado”:
O esquema
Após um ano e meio de investigação, a 18ª DP apurou um esquema fraudulento de empréstimos em bancos, com a cobrança de porcentagem de participação sobre o valor obtido da instituição financeira, que girava em torno de 5% a 20% do montante emprestado.
Gerentes de um banco público e de bancos privados estavam envolvidos no esquema, facilitando a obtenção dos empréstimos com a cobrança de juros abaixo do mercado, por meio da concessão de financiamentos imobiliários. Havia também o uso de documentação fraudulenta para conseguir os créditos, com o conhecimento dos gerentes envolvidos.
A organização criminosa era hierarquizada e composta de “corretores”, “fraudadores” e “intimidadores”. Os corretores eram responsáveis por oferecer condições de crédito ilícitas aos beneficiários finais dos empréstimos, agindo como uma espécie de aliciadores de clientes para o grupo criminoso.
Os fraudadores criavam a documentação falsa utilizada para obtenção dos créditos. Eles falsificavam notas fiscais, procurações, escrituras de imóveis, dentre outros documentos, para fundamentar documentalmente o empréstimo concedido. Por fim, os intimidadores eram responsáveis por ameaçar os clientes que tentavam desistir de obter o empréstimo fraudulento oferecido.
Os elementos de informação colhidos pela investigação apontaram que os intimidadores possuem ligação com criminosos com histórico de tráfico de drogas, estupro, roubo e furto e se utilizavam dessa conexão para ameaçar e coagir os clientes que tentavam desistir do empréstimo fraudulento. O dinheiro ilícito obtido por meio do esquema sustentava o padrão de vida do grupo criminoso e era utilizado para adquirir empresas.
Movimentação milionária
De acordo com informações bancárias produzidas na primeira fase da operação, o grupo liderado por ela movimentou a quantia de R$ 32,7 milhões, em transações atípicas, apesar de a renda mensal declarada da professora aposentada ser de R$ 9.433,34.
Com a segunda fase da operação, verificou-se a movimentação de outros R$ 12 milhões supostamente ilícitos, em período inferior a um ano, gerando um total movimentado de R$ 54,5 milhões nos últimos cinco anos.
Ao analisar o perfil das contas envolvidas, notou-se que a maior parte das movimentações, tanto a crédito como a débito, foram transferências entre servidores da Fundação Educacional do DF, principalmente professores e agentes de serviços gerais. A investigação apontou ainda a suposta alteração de contracheques de servidores do GDF, para aumento temporário da margem de crédito dos beneficiários do esquema.
Segundo o apurado, a líder do grupo alterava contracheques do GDF por meio de um programa de computador, aumentando o salário bruto do beneficiário do esquema para que sua margem de crédito fosse maior e iludisse a instituição financeira responsável pela concessão do empréstimo, gerando um crédito acima da capacidade financeira do servidor. Os envolvidos responderão, além dos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro, por crimes contra o sistema financeiro, podendo as penas alcançarem 24 anos de prisão.