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Em entrevista após vitória, Trump diz que ‘não há preço alto demais’ para seu plano de deportação em massa nos EUA

Republicano disse ter vencido para 'trazer o bom senso' ao país e afirmou ter tido conversas 'muito agradáveis e respeitosas' com Kamala e Biden por telefone

Por O Globo e agências internacionais — Washington, D.C.

Donald Trump é eleito para um novo mandato à frente dos Estados Unidos. — 
Foto: Doug Mills/The New York Times


O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse à NBC News na quinta-feira que uma de suas primeiras prioridades ao assumir o cargo em janeiro será tornar a fronteira do país “forte e poderosa”. Questionado sobre sua promessa de implementar deportações em massa, o republicano declarou que sua administração “não terá escolha” a não ser realizá-las. Ele também afirmou que considera sua ampla vitória sobre a vice-presidente Kamala Harris um mandato para “trazer o bom senso” aos EUA.

— Obviamente, temos que tornar a fronteira forte e poderosa e, ao mesmo tempo, queremos que as pessoas venham para o nosso país. E, você sabe, eu não sou alguém que diz: ‘Não, você não pode entrar’. Queremos que as pessoas entrem — disse Trump, que, como candidato, prometeu repetidamente realizar “o maior esforço de deportação em massa da História americana”. — Não é uma questão de custo [para implementar a medida]. Realmente, não temos escolha. Quando pessoas mataram e assassinaram, quando grandes traficantes de drogas destruíram países, agora eles vão voltar para esses países porque não vão ficar aqui.

Apesar da declaração, não há dados públicos disponíveis sobre quantos migrantes nos EUA passaram algum tempo na prisão, mas há informações sobre quantos têm condenações criminais. Dos 1,5 milhão que cruzaram a fronteira ilegalmente até setembro deste ano — e nas quais as autoridades conseguiram verificar os bancos de dados —, 15.608 foram de pessoas com histórico criminal. A condenação mais comum, segundo a rede britânica BBC, foi por entrada ilegal em outro país (9.545), seguida por dirigir sob influência de substâncias (2.577) e delitos de posse e tráfico de drogas (1.414).

Na campanha eleitoral, Trump também afirmou que “13 mil assassinos condenados” haviam entrado nos EUA durante o governo de Joe Biden, indicando que eles estariam “circulando livremente” no país. Segundo análise da equipe Verify, da BBC, ambas as falas são enganosas. A primeira delas porque a afirmação do republicano foi baseada em dados que abrangem um período de 40 anos, incluindo todas as administrações presidenciais desde pelo menos Ronald Reagan (1981-1989). E a segunda, de acordo com o Departamento de Segurança Interna americano, porque os dados foram “interpretados incorretamente”. Muitos dos migrantes que Trump alegou “circularem” pelo país, disse o órgão, estão “sob custódia ou atualmente encarcerados”.

Apesar de o número de apreensões de migrantes na fronteira ter aumentado para níveis recordes durante a administração Biden, os números não alcançam o nível que Trump costuma afirmar sem apresentar fontes. Desde janeiro de 2021, quando o democrata assumiu o cargo, houve mais de 10 milhões de apreensões. Sob Trump, foram 2,4 milhões. O número de apreensões, no entanto, não representa a contagem de indivíduos que permanecem nos Estados Unidos: alguns dos migrantes são devolvidos a seus países de origem, e a mesma pessoa pode ser registrada tentando entrar várias vezes. Além disso, também existem casos de pessoas que cruzaram a fronteira sem serem detectadas.

Em janeiro de 2022, o Departamento de Segurança Interna americano estimou que havia 11 milhões de migrantes em situação irregular no país. O diretor interino do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas do país, Patrick Lechleitner, disse à NBC em julho deste ano que um esforço de deportação em massa seria um grande desafio logístico e financeiro. Dois ex-funcionários da administração Trump envolvidos em imigração durante o primeiro mandato do magnata republicano disseram ao jornal que o esforço exigiria cooperação de agências federais, incluindo o Departamento de Justiça e o Pentágono.

'Operação aurora'

A vitória esmagadora de Trump não teria sido possível sem o apoio dos latinos. A mudança no eleitorado hispânico, tradicionalmente democrata, levou à vitória de quem assumiu como bandeira a luta contra a imigração. Ainda que os latinos que são cidadãos americanos e votaram no republicano não se sintam ameaçados pelas promessas do ex-presidente, a verdade é que, se ele cumprir todos os seus projetos de campanha contra a imigração, há estimativas de que cerca de 19 milhões de latinos podem ser afetados.

Na entrevista, feita por telefone na quinta-feira, ele creditou parcialmente sua mensagem sobre imigração como razão para vencer a disputa. O republicano afirmou que a população quer “ter fronteiras” e que “gosta que as pessoas entrem, mas precisam entrar com amor pelo país, (...) legalmente”. Apesar da afirmação, entre os possíveis planos apoiados por Trump está a chamada “Operação Aurora”, uma proposta de invocar uma lei usada em tempos de guerra e que prevê a expulsão de inimigos que invadem os EUA. Desde sua promulgação, no final do século XVIII, a norma só foi aplicada três vezes: na guerra de 1812 e na Primeira e Segunda Guerras Mundiais.

Assessores e aliados mais próximos de Trump têm preparado decretos, regulamentos e memorandos que restringem várias formas de imigração irregular, algumas das quais poderiam afetar a capacidade das empresas de contratar trabalhadores estrangeiros, publicou o Wall Street Journal. Os planos incluem o retorno de políticas controversas do primeiro mandato de Trump, como a proibição de viagens aos EUA a partir de vários países de maioria muçulmana, a suspensão do reassentamento de refugiados e a regra de “carga pública”, que busca bloquear imigrantes de baixa renda, deficientes ou com inglês limitado, para que essas pessoas não utilizem benefícios públicos no futuro.

— Comecei a ver que um realinhamento poderia acontecer porque os democratas não estão alinhados com o pensamento do país. Não se pode defender o desfinanciamento da polícia, essas coisas. Eles não querem abrir mão, e essas coisas não funcionam. O povo entende isso — disse ele, que também comentou sobre as ligações que recebeu de Kamala e de Joe Biden desde a eleição. — [Foram] chamadas muito agradáveis, muito respeitosas de ambos os lados. [Kamala] falou sobre a transição e disse que gostaria que fosse o mais tranquila possível, o que concordo, claro.

Trump também mencionou que ele e Biden concordaram, por telefone, em almoçar juntos “muito em breve”. Ele disse ter conversado com “provavelmente” 70 líderes mundiais desde quarta-feira de manhã, incluindo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Ele acrescentou que não conversou com o mandatário russo, Vladimir Putin, mas que “acha” que vão dialogar. Também durante a campanha, Trump prometeu acabar com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, chegando a afirmar que encerraria o conflito antes mesmo de tomar posse.

Nesta sexta-feira, a nova presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse que Trump mencionou a questão da fronteira entre os EUA e o México durante uma ligação telefônica “muito cordial” que tiveram na quinta-feira. Ela disse que os dois terão “espaço para falar sobre isso” no futuro, e o ministro das Relações Exteriores mexicano, Juan Ramon de la Fuente, afirmou que o programa de migração do México está funcionando e continuará em vigor.

Trump avança em terrenos democratas

Trump venceu entre o grupo de homens latinos por 8 pontos — apenas quatro anos depois de perder por 23 pontos. O resultado mostrou que os esforços de sua campanha para conquistar esses eleitores deram certo e que o discurso insultuoso do comediante Tony Hinchcliffe sobre porto-riquenhos num comício de Trump não causou o dano que os democratas esperavam. Em outubro, Hinchcliffe se referiu a Porto Rico, território associado dos EUA, como uma “ilha de lixo flutuante”.

Como os americanos votaram em 2020 vs 2024 — Foto: Editoria de Arte

A democrata Kamala Harris, por sua vez, perdeu terreno em comparação com o desempenho de Biden há quatro anos entre as parcelas de eleitores jovens, independentes, moderados e até mesmo entre as famílias de trabalhadores sindicalizados. Eleitores que consideram a democracia a questão mais importante na hora de decidir o voto apoiaram Kamala majoritariamente, mas Trump venceu entre aqueles que identificaram a economia do país como o tema principal.

No geral, as pesquisas de boca de urna feitas pela CNN pintaram o quadro de um eleitorado insatisfeito com a situação do país e com a liderança democrata. Quase três quartos dos eleitores disseram estar insatisfeitos ou irritados com o rumo que os Estados Unidos estão tomando — e Trump obteve cerca de três quintos desses votos. A administração de Biden foi vista de maneira desfavorável, com 58% dos eleitores desaprovando seu desempenho como presidente. Quatro em cada cinco desses eleitores apoiaram Trump.

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