Segundo o astrobiólogo Dirk Schulze-Makuch, a agência espacial dos Estados Unidos deveria adotar uma nova abordagem para buscar sinais de vida no planeta vermelho
Por Renata Turbiani
Nasa Viking 2 — Foto: NASA/JPL
Experimentos realizados pela nave espacial Viking 1, da Nasa, na década de 1970, podem ter encontrado vida em Marte e, involuntariamente, a matado. Essa é a teoria do astrobiólogo Dirk Schulze-Makuch, da Technische Universität Berlin, da Alemanha.
Reportagem do Space destaca que, na época, pouco se sabia sobre as condições ambientais de Marte, e os experimentos de detecção de vida da missão foram modelados a partir de técnicas de cultura comumente usadas para identificar micróbios na Terra.
Esses métodos envolviam adicionar água e nutrientes às amostras de solo coletadas, monitorando, então, quaisquer sinais que sugerissem que micróbios pudessem estar vivendo nelas. Tais sinais eram associados a respostas aos aditivos — essencialmente um influxo de componentes necessários para completar os ciclos de vida normais como os conhecemos — e incluíam coisas como crescimento, reprodução e consumo de alimentos para energia.
Em um determinado dia, os módulos da Viking 1 relataram uma detecção potencialmente positiva de atividade microbiana em suas amostras de solo. Inicialmente, a avaliação era de que a vida marciana havia sido descoberta. Mas, hoje, a maioria dos cientistas acredita que os resultados foram negativos ou inconclusivos.
O astrobiológo Dirk Schulze-Makuch — Foto: Wikimedia Commons
Dirk Schulze-Makuch, no entanto, tem outra explicação. Para ele, a missão da Nasa pode, de fato, ter descoberto vida em Marte, mas a natureza aquática dos experimentos realizados pode tê-la matado.
Em publicação recente feita no periódico Nature Astronomy, ele argumentou que, como o planeta vermelho é ainda mais seco do que um dos lugares mais áridos da Terra – o Deserto do Atacama –, qualquer vida marciana análoga seria altamente sensível à adição de água líquida. Mesmo uma gota a mais poderia ameaçar sua existência.
“Eu trabalhei muito no Deserto do Atacama, que é um ambiente análogo a Marte. E nós obtivemos algumas pistas sobre como os organismos sobrevivem lá. A partir daí, não foi tão difícil juntar tudo”, disse o astrobiólogo, em entrevista ao Space.
Segundo ele, o conceito científico neste caso é que sais, e organismos com a ajuda dos sais, podem puxar água diretamente da atmosfera. Há também um efeito no qual, conforme a água é removida, há um tipo de atraso — uma histerese — porque o sistema resiste à cristalização.
“Isso significa que a água pode permanecer em um sal por mais tempo do que o esperado, o que é crucial porque aumenta a atividade da água em um nível microscópico, tornando-a acessível aos micróbios. A vida é muito boa em tirar vantagem desses efeitos físicos ou químicos. Há muitos exemplos na biologia, que é muito boa em usar esses tipos de efeitos — eu quase os chamaria de truques porque eles estão usando esse tipo de física ou química peculiar”, complementou.
Schulze-Makuch salientou que não se pode dizer que definitivamente há um organismo em Marte explorando esses efeitos. “Mas Marte, quase 4 bilhões de anos atrás, era muito parecido com a Terra, com água abundante. À medida que se tornava mais seco, movendo-se em direção ao seu atual estado desértico, esses são os tipos de adaptações que eu esperaria que qualquer vida restante desenvolvesse.”
Por fim, ele apontou que, se as suposições sobre organismos prosperando nas condições hiperáridas de Marte forem precisas, a Nasa deveria repensar sua estratégia de longa data de “seguir a água” para encontrar vida além da Terra. Em vez disso, sugeriu adotar uma abordagem de “seguir compostos hidratados e higroscópicos” (sais).