Francisca Marcela Ribeiro foi atingida durante troca de tiros entre o PM de folga e criminosos que tinham roubado a moto do casal no bairro do Ipiranga, na Zona Sul. Ela estava com o casamento marcado para 26 de outubro e foi velada com o vestido que usaria na cerimônia.
Por Fabrício Lobel, Gabriel Siqueira, TV Globo e g1 SP — São Paulo
"O policial virou, mirou e atirou nela", diz noivo de mulher morta a menos de um mês para o casamento
O motoboy Wilker Michel, noivo de Francisca Marcela da Silva Ribeiro – morta durante uma tentativa de assalto na região do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo no último domingo (06) - contou que a jovem de 33 anos foi atingida por disparos efetuados por um policial de folga que tentou intervir na ação dos assaltantes em que o casal era vítima.
Naquela manhã, Wilker e Francisca fariam uma viajem curta para a cidade de Nova Odessa, onde passariam o dia e almoçariam.
Antes da viagem, eles pararam em um posto de gasolina da rua Malvina Ferrara para calibrar os pneus e abastecer, quando foram abordados por cerca de dez assaltantes que estavam em várias motos.
Segundo o relato do motoboy, ele já tinha entregado a motocicleta em que estava com a noiva aos bandidos, quando o policial militar de folga Daniel Lins Ferreira surgiu na cena do crime e começou a atirar nos criminosos.
“O policial deu alguns passos, pegou a visão do bandido correndo e abriu dois disparos. Ele mirou em mim e deu um disparo que passa por cima da minha cabeça, e dois tiros na direção dela. Aí só lembro de acordar e gritar: ‘para, para, para, é a minha esposa’. E ele meio que dá uma olhada e sai correndo, em direção à rua para continuar alvejando os bandidos”, contou Wilker.
Francisca Marcela da Silva Ribeiro morta durante roubo de moto no Ipiranga, Zona Sul de São Paulo. — Foto: Montagem/g1/Acervo Pessoal
O motoboy afirmou que ainda foi conversar com o policial e perguntar por que ele havia atirado nas vítimas. E nada ouviu da parte dele.
“Perguntei pra ele: ‘cara, por que você fez isso?’ Ele me olhou sem nenhuma expressão de dor, arrependimento, com uma expressão fria, e desviou o olhar. Em nenhum momento veio olhar pro rosto dela, em nenhum momento pediu desculpas, pediu perdão”, lembrou o noivo.
Francisca Marcela da Silva foi atingida com um tiro nas costas. Ela chegou a ser socorrida para o hospital de Heliópolis, mas não resistiu e morreu 20 dias antes do casamento, que estava marcado para o dia 26 de outubro.
“Um dia antes do acontecido, no sábado, ela provou o vestido e falou: ‘amor, eu vou ter que fazer a barra porque eu sou muito baixinha’”, lembrou o noivo emocionado.
O casal Wilker Michel e Francisca Marcela da Silva Ribeiro, que tinha casamento marcado para 26 de outubro. — Foto: Acervo pessoal
O corpo de Francisca Marcela foi velado na noite desta segunda-feira (7), das 19h às 23h, no Memorial Ossel (Avenida Goiás, 459, em São Caetano do Sul).
Depois, foi encaminhado para a cidade de Campo Maior, no Piauí, onde Francisca nasceu.
A cunhada da vítima informou que Francisca será enterrada com o vestido que usaria no dia do casamento.
Francisca Marcela da Silva Ribeiro — Foto: Acervo pessoal
O que disse o PM na delegacia
Ao registrar o boletim de ocorrência no 26° Distrito Policial do Sacomã, na Zona Sul, o PM Daniel Lins Ferreira disse que parou no posto para abastecer quando ouviu alguém anunciar o assalto.
Ele achou que o posto estava sendo assalto e, como estava rodeado de motociclistas de preto, não se deu conta que as vítimas eram o casal.
O policial afirmou, ainda que foi cercado por dez bandidos e que só sacou a arma depois que viu que os criminosos estavam armados.
Daniel Lins Ferreira disse ainda que trocou tiros, mas não soube dizer quantas vezes disparou. Durante o tiroteio, que ele chama de fatiamento, escutou alguém dizendo "vítima".
O que disse a SSP
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que o caso citado é investigado pelo 26° DP (Sacomã), por meio de inquérito policial.
Segundo a pasta, durante a ação, dois homens foram presos em flagrante após roubarem uma moto em um posto de combustíveis.
“A autoridade policial analisa as imagens e realiza diligências para esclarecer o fato. Paralelamente a isso, foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM)", afirmou a SSP.