Page Nav

HIDE

Últimas notícias:

latest

Stalker de MG acreditava ter relacionamento amoroso e frequentava mesmo lugares de médico perseguido, diz delegado

Vítima registrou 42 boletins de ocorrência contra jovem; defesa afirma que 'erro' foi jovem ter se iludido com médico

Por Luisa Bertola — Rio de Janeiro

Kawara Welch foi presa no último dia 8 em uma universidade de Uberlândia — 
Foto: Reprodução/Instagram

Kawara Welch, de 23 anos, foi presa no início de maio pelo crime de stalking após perseguir um médico de Ituiutaba, em Minas Gerais. A artista plástica estava foragida desde março do ano passado e foi presa no último dia 8, em uma universidade de Uberlândia. Segundo a vítima, a mulher chegou a mandar 1.300 mensagens e ligar 500 vezes para ele e sua família. O delegado responsável pelo caso, Rafael de Freitas Faria, aponta que a jovem acreditava ter um relacionamento com o médico e chegava a frequentar os mesmos ambientes que o homem.

A defesa da jovem alega que os dois viviam um relacionamento. A vítima nega e registrou 42 boletins de ocorrência contra ela.

O delegado destaca que as investigações apontam que a obsessão criada por Kawara foi a motivação do crime. Ainda segundo Rafael Faria, a jovem "tinha necessidade de se autoafirmar com um relacionamento, com uma conexão inexistente com o médico".

— Ela tinha ilusões de que esse relacionamento realmente existia entre eles, isso fazia com que ela frequentasse os mesmos ambientes que a vítima, como locais de trabalho, residência, hospitais, clínicas. Ela o perseguia de forma reiterada. Não há nenhum indício da existência de um relacionamento entre eles, ou que o médico prometesse algo a ela, ou que ficasse dando indiretas a ela — explica o delegado.

Faria ainda pontua que em nenhum momento das investigações ficou comprovado que os dois tivessem um relacionamento amoroso. Ele ainda ressalta que o fato do médico sempre denunciar os episódios de perseguição, registrar boletins de ocorrência montagens de conversas feitas pela jovem também são indicativos que o relacionamento não existia.

O delegado ainda destaca que mesmo que o relacionamento tivesse ocorrido, o comportamento da artista plástica não é justificável.

— Uma vez que o crime de perseguição ameaça a integridade física e psíquica, psicológica da vítima. O crime diminui a capacidade de locomoção, restringe a liberdade, restringe a privacidade. Embora seja um crime considerado menor potencial ofensivo pela quantidade de pena máxima que o legislador optou, é um crime que causa efeitos catastróficos na vida da vítima. Nada justificaria, ainda que eles tivessem um relacionamento — ressalta Faria.

Em entrevista ao Fantástico, o médico contou que conheceu Kawara em 2018, quando ele a atendeu com um quadro de depressão. Ainda segundo o médico, as perseguições a ele e sua família começaram em 2019. Ele relatou que Kawara se dizia apaixonada por ele.

Por conta das insistentes tentativas, a artista plástica foi excluída da lista de pacientes do profissional. Com isso, ela passou a fazer ameaças e também ligar para os familiares do médico, inclusive o filho dele, de 8 anos. Ela ainda teria enviado fotos a ele com lençóis e cordas amarrados no pescoço e outras em tom de despedida. Ele e a esposa registraram 42 boletins de ocorrência por perturbação do sossego, lesão corporal, ameaça e extorsão.

Kawara também teria começado a segui-lo nas ruas. Em 2022, de acordo com o profissional de saúde, a jovem invadiu o seu consultório e houve um desentendimento entre ela e a esposa do médico, com agressões. Um ano depois, também na clínica, houve mais um episódio que a jovem invadiu o espaço e teria furtado o celular da esposa do médico. A artista plástica chegou a ser presa, mas foi liberada após pagar fiança de R$ 3,5 mil e passou a responder ao processo em liberdade.

Em nota, a Polícia Civil informou que cumpriu o mandado de prisão preventiva contra Kawara em 8 de maio. A ordem judicial foi expedida pelo poder judiciário de Ituiutaba. O delegado também informou que a polícia investiga o caso desde o início e que ela foi presa pela primeira vez em 2021.

Nas redes sociais, a jovem se identifica como artista plástica e modelo. Nas publicações, ela compartilha fotos suas e de suas obras. Kawara acumula mais de 6,5 mil seguidores.

Kawara Welch, de 23 anos, foi presa pelo crime de stalking — Foto: Reprodução/Instagram

O que diz a defesa?

Procurada pelo O GLOBO, a defesa da jovem alega que os dois tinham um relacionamento. Ainda segundo os advogados que representam a artista plástica, o relacionamento teria começado quando ela era adolescente, entre seus 16 e 17 anos.

"A companheira da suposta vítima descobriu então essa situação e passou 'coagir' a suposta vítima, que sem alternativa foi obrigada a confeccionar essas denúncias. Infelizmente, como dito, a Sr. Kawara não teve a oportunidade de declarar tudo o que agora declara por sua defesa e fornecer documentos para que tudo fosse apurado", afirmam em nota.

Eles ainda destacam que Kawara "nunca foi intimidada" para prestar qualquer esclarecimento sobre os fatos.

"O único erro da Sra. Kawara é de permanecer iludida pela suposta vítima em ter um relacionamento com a própria", destacou a defesa em nota.

Crime de stalking

O crime de perseguição, também conhecido como “stalking”, foi incluído no Código Penal em março de 2021. O crime de stalking consiste em perseguir uma pessoa reiteradamente e por qualquer meio, que pode ser o virtual, “ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade, ou privacidade”.

Com pena prevista de seis meses a dois anos, mais multa, a norma altera o decreto-lei número 2.848 do Código Penal de 1940.

Como identificar o crime de “stalking”:

  • O autor vigia a vítima, observando-a insistentemente
  • Segue a vítima
  • Ronda os locais frequentados pela vítima, como trabalho, escola, universidade e academia
  • Contata reiteradamente a vítima de forma indesejada ou agressiva
  • Faz ameaças ou divulga injúrias
  • Invade a privacidade da vítima, acessando indevidamente redes sociais, e-mails e dispositivos de mensagens.

Latest Articles