Idosos foram imunizados por laboratórios privados, mesmo a vacina ainda não sendo recomendada para o público com mais de 60 anos
Hugo Barreto/Metrópoles
No Distrito Federal, pelo menos 1.950 pessoas com 60 anos ou mais receberam doses da vacina contra a dengue. Entre os vacinados, há até uma pessoa de 112 anos. A informação consta no Portal InfoSaúde, da Secretaria de Saúde (SES-DF).
O imunizante contra a dengue em aplicação na rede pública do Distrito Federal e na maioria dos laboratórios privados, não teve aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser aplicado em pessoas com mais de 60 anos.
Os dados do InfoSaúde foram consultados pelo Metrópoles na última terça-feira (26/3). A maioria dos idosos vacinados “erroneamente” têm 60 anos ou mais.
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Off-label e erro
Procurada, a Secretaria de Saúde afirmou que essas imunizações foram feitas na rede privada e são consideradas off-label, ou seja, ou seja uso sem recomendação em bula, com prescrição médica que avaliou risco.
A pasta ainda afirmou que essas aplicações são consideradas “erro de imunização”. “Essas pessoas têm de ser observadas pelo serviço por 30 dias”, destaca a Saúde.
Por meio da área técnica, a SES-DF cobra a notificação do erro dos laboratórios privados.
Riscos
A vacina contra a dengue aplicada no Brasil é a Qdenga, a primeira de uso geral aprovada pela Anvisa para pessoas com idades entre 4 e 60 anos.
Embora os idosos sejam os mais vulneráveis aos casos graves e mortes por dengue, a Qdenga não foi indicada para o grupo etário porque os estudos apresentados pela farmacêutica à agência reguladora não continham informações sobre segurança e eficácia para o público.
“Os dados apresentados para a Anvisa não incluíram estudos com essa faixa etária, portanto não foram avaliados dados de eficácia da vacina com adultos acima de 60 anos”, explica a Anvisa.
Em entrevista ao Metrópoles, em janeiro deste ano, a pediatra Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) explicou que o uso off label do imunizante deve ser feito apenas sob orientação médica, uma vez que não há dados que comprovem a segurança (com a ausência de riscos à saúde) ou a eficácia dele em pessoas mais velhas.
Dengue no DF
Segundo o último boletim epidemiológico publicado pela Saúde, em 1º de abril, o DF já registrou mais de 190,9 mil casos prováveis de dengue em 2024.
Até o momento, foram registradas 205 mortes por dengue na capital federal. Outras 55 estão em investigação. Em média, são 15 mortes a cada período de sete dias, e duas por dia.
O DF segue como a unidade da Federação com a maior incidência de dengue no país. A capital federal tem uma média de 6.271 casos a cada 100 mil habitantes. Em seguida aparecem Minas Gerais, com 3.627; e Espírito Santo, com 2.139.