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Divórcio, assédio e acusações: o racha na igreja que parece boate

Pastor que já foi indicado ao Grammy foi preso por suspeita de importunação sexual e trava batalha contra ex-esposa e antigos aliados


Reprodução/ Instagram

Com roupas de gala, o pastor Davi Passamani e a esposa, a também pastora Giovanna Lovaglio, desfilaram no tapete vermelho do Grammy Latino na noite de 16 de novembro do ano passado, no Centro de Conferências de Sevilha, na Espanha.

Davi concorria a um dos maiores prêmios da música mundial na categoria Gospel pelo álbum Novo Tempo, da banda Casa Worship, formada dentro da Igreja Casa, fundada por Davi em Goiânia (GO).

Quem visse o casal sorridente e elegante, ele de smoking preto e ela de vestido longo azul brilhante, não imaginaria a crise que acontecia nos bastidores da congregação e do casamento de uma década.

Davi e Giovanna se separaram naquele mesmo mês de novembro e, em março deste ano, ela conseguiu uma medida protetiva da Justiça contra o agora ex-marido, que a estaria perseguindo sem aceitar o divórcio. O pastor está proibido de se aproximar da ex-esposa ou tentar contato.


Na noite da última quinta-feira (4/4), ele foi preso pela Polícia Civil de Goiás por suspeita de crimes sexuais. Para a delegada que investiga o caso, Amanda Menuci, o líder religioso representa um risco para a sociedade.

Denúncias e acusações

Três ex-membros da igreja Casa já denunciaram Davi por assédio ou importunação sexual desde o ano de 2020. Ele fez acordo com o Ministério Público em um dos casos e foi condenado a uma indenização de R$ 50 mil em outro. Um terceiro caso é investigado pela Polícia Civil.

Agora, Giovanna denunciou o ex-parceiro por violência psicológica, pois ele estaria enviando mensagens insistentes, indo nos locais onde a vítima frequenta e fazendo calúnias contra ela e os atuais líderes da igreja.

Davi, que está afastado de forma definitiva da Casa desde dezembro e abriu uma nova igreja chamada A Porta, alega que é vítima de uma conspiração para apropriação do seu patrimônio. Ele nega todas as acusações dos ex-membros e da esposa.

Igreja boate

A Casa foi fundada em abril de 2017 por Davi Passamani e chamou atenção pelo estilo jovem e irreverente, virando uma febre no meio evangélico, mas criticada entre os religiosos mais tradicionais.

O interior da congregação em Goiânia é escuro e com as paredes pintadas de preto, lembrando boates. Os cultos contam com um aparato de luzes, músicos profissionais e dançarinos, não ficando para trás em relação à estrutura de shows de artistas famosos.

Para se ter uma ideia, em 2020 a igreja recebia uma média de 14 mil fiéis por semana. Vários cultos eram realizados na mesma noite para conseguir atender a demanda e filas se formavam na entrada do imóvel, que funciona em uma área nobre da capital goiana.

Enquanto isso, a banda Casa Worship se tornou um fenômeno na internet. A música “A Casa É Sua” teve a marca impressionante de mais de 90 milhões de streams no Spotify, se tornando a canção gospel mais executada da plataforma no Brasil em 2022. Os músicos chegaram a realizar um tour na Europa no final do ano passado e já se apresentaram no programa Encontro, da Globo.

Propostas sexuais

A primeira denúncia de assédio sexual contra Davi surgiu em 2020. O caso teria acontecido em 2018. O pastor teria entrado em contato com uma jovem de 19 anos por mensagens. Segundo a denúncia, ele inicialmente puxou assunto sobre o relacionamento dela com o namorado, mas logo a conversa avançou e ele fez propostas de conotação sexual.

Durante a conversa, Davi pediu que a vítima imaginasse ele chegando perto do seu pescoço e colocando o dedo em sua boca. As mensagens de conotação sexual eram intercaladas por versículos bíblicos.

Em depoimentos, o pastor reconheceu que fez as propostas, mas definiu o caso como um pecado e não um abuso. Esse primeiro caso foi arquivado na área criminal por falta de provas, mas Davi foi condenado em 2ª instância no dia 26 de março a pagar R$ 50 mil para instituições que acolhem vítimas de violência, como indenização por dano moral.

O caso chamou a atenção na mídia porque, durante o julgamento, um dos desembargadores chegou a insinuar que a vítima era “sonsa”.

No caso em que Davi fez acordo com a Justiça, após denúncia do MP em dezembro de 2023, o religioso teria chegado a fazer uma chamada de vídeo com uma jovem membro da Casa e mostrado o pênis.

Perseguição e acusações

Inicialmente, a pastora Giovanna perdoou o marido. No entanto, com o surgimento de novos casos, ela decidiu pelo divórcio. Segundo boletim de ocorrência feito por ela, logo após a separação surgiu uma página na internet que publicava calúnias e difamações contra a atual gestão do templo.

Uma das mensagens desta página fala de “provas e fatos” sobre um atual representante da igreja que teria tido uma relação gay, o que é condenado pela doutrina. Outra mensagem fala de um religioso da congregação que teria traído a esposa com uma modelo durante uma viagem para a Europa.

“Estamos comprometidos em expor os pecados recentes e atuais de outros pastores que ainda ocupam cargos na liderança atual da Casa”, diz uma das mensagens publicada na página apócrifa.

Também foram publicadas mensagens em tom de ameaça: “Estamos prontos para expor mais um segredo”. Para Giovanna, Davi e pessoas ligadas a ele podem estar por trás desta página. Davi nega qualquer envolvimento.

Alegações fantasiosas

A pastora Giovanna escreveu, em mensagem ao Metrópoles, que não há um racha na igreja e que não pretende comentar nenhum caso envolvendo Davi, pois todos estão em segredo de Justiça.

“Não existe racha na igreja Casa. A nossa igreja segue sendo o que sempre foi, um ambiente de adoração e culto a Deus. Eu já me encontro divorciada de Davi, de modo que por respeito e empatia a mim e meu filho menor de idade e à nossa igreja, peço que nos deixem totalmente a parte do que diz respeito a ele”, escreveu.

Além disso, Giovanna disse que as afirmações do ex-marido, de que os atuais dirigentes da congregação estavam tentando retirar seu patrimônio, são falsas.

“Não pretendo comentar nenhum caso, uma vez que todos são segredos de justiça. Quanto às alegações do advogado de Davi, infelizmente se trata de uma alegação fantasiosa. De modo que a própria justiça vem demonstrando isso”.

Questionado pela reportagem, o advogado do pastor Davi Passamani, Leandro Silva, manteve as afirmações sobre as denúncias serem resultado de conspiração e garantiu que tudo será esclarecido em breve.

“A defesa do pastor Davi Passamani declara que todas as acusações formalizadas ou veiculadas na mídia são falsas e provará que tudo é fruto de uma conspiração para destituí-lo da direção da Igreja Casa e apropriação de seu patrimônio. Em breve, tudo será esclarecido”, diz o comunicado.

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