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Nova testemunha contesta 'teoria da bala mágica' em assassinato de John F. Kennedy, há 60 anos

Agente secreto que fazia segurança do presidente dos EUA contesta apuração e documentos analisados pela Comissão Warren e diz ter ouvido três tiros naquele 22 de novembro de 1963

Por El País — Nova York

John F. Kennedy pouco antes de ser assassinado em 22 de novembro de 1963 em Dallas, EUA — 
Foto: Dallas Times Herald/The Sixth Floor Museum at Dealey Plaza

Sessenta anos após o assassinato de John F. Kennedy em Dallas, as teorias sobre o primeiro assassinato da História a ser transmitido ao vivo se estenderam em documentários e teorias da conspiração, com supostas "pontas soltas" da investigação. Mas o aparecimento de uma testemunha agora arrisca desmontar a "teoria da bala mágica", estabelecida pela comissão especial que apurou a morte, em 1964.

Para a Comissão Warren, um só projétil teria matado o presidente e ferido o governador do Texas, John Connally, que viajavam juntos no carro conversível. No entanto, segundo a testemunha, identificada como Paul Landis — um dos quatro agentes secretos que, de pé no estribo do veículo, tentavam proteger o presidente naquele dia — não foi isso que aconteceu.

Os fatos citados pela Comissão Warren e toda a documentação no Arquivo Nacional de Washington, que tem um centro específico e uma exposição permanente sobre o assassinato, foram contestados por Landis, que afirma ter encontrado uma segunda bala no carro em que estava Kennedy. Esta hipótese põe em dúvida a existência de um único atirador, Lee Harwey Oswald, preso pelo assassinato e morto dois dias depois na delegacia central de polícia de Dallas, enquanto estava sob custódia.

De toda a documentação oficial relacionada ao caso, 97% está acessível ao público. Há 11 meses, o serviço de estudos do Arquivo Nacional estimou o número de documentos classificados (sigilosos) na sua totalidade em apenas 515 e os parcialmente classificados em outros 2.545.

A decisão mais recente a este respeito é um memorando do presidente Joe Biden, datado de 15 de dezembro de 2022, no qual afirma que “a partir da data deste memorando até 1º de maio de 2023, as agências relevantes e o Nara [Arquivos e Registros Nacionais] irão revisar conjuntamente o material restante nos arquivos [...] a fim de maximizar a transparência e divulgar todas as informações nos registros relativas ao assassinato, exceto quando razões mais fortes aconselharem o contrário. Qualquer informação que as agências proponham para o adiamento contínuo da divulgação pública além de 30 de junho de 2023 será limitada ao mínimo absoluto de acordo com o padrão legal.”

Documentos secretos

Os 3% dos documentos que permanecem sob sigilo, por força do artigo 5.º da Lei JFK (que impõe a reserva para salvaguardar a defesa nacional, as operações de inteligência ou as relações externas), alimentam a imaginação de muitos. E quem melhor do que Landis, que estava lá, para refutar a história oficial? Em entrevistas concedidas na véspera da publicação das suas memórias, "The Final Witness" (A Última Testemunha, em tradução livre), em outubro, o homem disse ter ouvido três tiros — e não dois, como afirmou no depoimento escrito que apresentou às autoridades uma semana após o assassinato — e visto o presidente desabar.

Embora rejeite teorias da conspiração, Landis contesta a principal conclusão da Comissão Warren, segundo a qual uma das balas disparadas naquele dia atingiu o presidente pelas costas, com um buraco de saída na frente da garganta, e atingiu o governador Connally, ferindo-o gravemente nas costas, peito, pulso e coxa. Descrentes de que uma única bala pudesse fazer tudo isso, os céticos batizaram a conclusão do caso como "teoria da bala mágica".

Os investigadores chegaram a essa conclusão em parte porque a bala foi encontrada em uma maca que supostamente transportou Connally para o Parkland Memorial Hospital, então presumiram que ela havia sido removida de seu corpo durante os primeiros socorros. Mas Landis, que nunca foi ouvido pela Comissão Warren, disse que não foi isso que aconteceu. Na verdade, Landis diz que foi ele quem encontrou aquela bala — não no hospital, mas sim, no banco traseiro do carro onde Kennedy estava sentado.

Landis afirmou ter pegado a bala para evitar que ela desaparecesse na confusão, colocado o objeto na maca de Kennedy no hospital e então, de alguma forma, ela teria aparecido na maca de Connally.

Landis sempre pensou que Lee H. Oswald era o único atirador, mas “neste momento, estou começando a duvidar de mim mesmo”, disse ele ao New York Times em setembro. A investigação concluiu que as balas foram disparadas por um rifle Mannlicher-Carcano C2766 encontrado no sexto andar do Texas Textbook Depository, hoje um edifício da administração pública. Se o governador Connally, como sugere o depoimento de Landis, fosse atingido por outra bala, não parece provável que Oswald tivesse tido tempo de recarregar seu rifle tão rapidamente.

Dois novos documentários

Os laudos médicos post-mortem são os protagonistas do documentário JFK: What the Doctors saw (JFK, o que os médicos viram, em tradução livre), que reúne as experiências dos profissionais no pronto-socorro do Parkland Memorial, para onde o presidente foi transferido.

Os testemunhos que a produção recolhe também contradizem as conclusões da Comissão Warren, como um buraco de entrada frontal na garganta de uma bala que, para alguns médicos, indicam ter havido mais de um atirador. O documentário, que dura uma hora e meia, também desvenda as inconsistências entre os ferimentos que os médicos observaram no hospital de Dallas e o relatório da autópsia, realizada em Bethesda.

Já a minissérie documental JFK: One Day in America (JFK: um dia nos EUA) aborda em três capítulos a história daquele 22 de novembro de 1963. Segundo a crítica do jornal The Wall Street Journal, o principal mérito desta produção é reunir imagens particulares, tomadas relativamente desconhecidas e ângulos desconhecidos – de Jack Ruby, por exemplo, rondando a imprensa e a polícia na delegacia de polícia de Dallas na noite anterior ao assassinato de Oswald; ou de Jackie Kennedy no meio da multidão, esperando para acompanhar o caixão do marido no avião de volta a Washington. O documentário traz depoimentos de dois agentes do serviço secreto, Clint Hill e Landis, que não comenta sua teoria balística na produção.

Especulações sobre o personagem Ruby, assassino de Oswald quando ele estava sob custódia, aparecem refletidas nos depoimentos de jornalistas. Em 1964, a Comissão Warren concluiu que Ruby agiu sozinho para vingar a morte de Kennedy, assim como o assassinado Oswald teria agido sozinho.

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