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'Me arrependi de fazer a cirurgia bariátrica. Eu vomitava e tinha diarreia quase todos os dias'

Adryelle Jessica Bomfim, de 29 anos, recorreu à operação ao chegar aos 145 quilos. Oito meses após o procedimento, ela perdeu 43 quilos, mas afirma que não faria a cirurgia novamente depois do que viveu no pós-operatório

Por Alice Arnoldi, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo

Adryelle antes e depois da operação — Foto: Arquivo pessoal

Embora tenha feito acompanhamento nutricional por dois anos ao perceber que estava engordando, Adryelle Jessica Bomfim, de 29 anos, chegou aos 145 quilos. Por indicação médica, a supervisora de repositores de frigobar decidiu passar por uma cirurgia bariátrica.

O que parecia ser uma jornada de sucesso contra a obesidade se tornou um pesadelo no pós-operatório. Duas semanas depois do procedimento, o corte no tórax se abriu por completo.

“Eu conseguia ver tudo por dentro. Tive uma infecção no corte, o médico me passou antibiótico e, mesmo assim, começou a sair um seroma dele. Fiquei quase dois meses com esse líquido vazando, tendo que colocar absorvente porque não tinha gaze que o estancasse. Fedia muito”, lembra.

Além do problema com a cicatrização, ao longo dos três primeiros meses após a cirurgia bariátrica, Adryelle não conseguia manter nenhum alimento dentro do organismo, mesmo seguindo à risca a dieta indicada para o pós-cirúrgico.

“Foi nesse período que eu me arrependi muito porque não tinha mais vida. Eu vomitava e tinha muita diarreia quase todos os dias. Nesse momento, eu tive que ter minha família o tempo todo do meu lado, porque eu achava que não iria mais viver”, lembra.

Ao procurar pelo pronto-atendimento, Adryelle ouvia que era normal o que estava vivendo, porque fazia parte da adaptação do seu corpo. Em outros momentos, ela escutava que o vômito e a diarreia eram culpa dela porque os profissionais de saúde duvidavam que ela estava seguindo a dieta pós-bariátrica à risca.

Adryelle antes e depois da operação — Foto: Reprodução / Instagram

Adryelle decidiu procurar por um médico do plano de saúde para entender o que estava acontecendo com ela. Ela descobriu que estava com uma infecção gastrointestinal e renal. O médico a orientou a procurar por quem havia a operado pelo SUS, porque ela ainda estava em carência no plano de saúde.

“Com medo de voltar para o hospital, fiquei dois dias sem conseguir comer, com muita diarreia e vômito. Quando estava deitada, comecei a ter febre e convulsão. Então, fui para o médico”, conta.

Na internação, constatou-se que a supervisora estava com uma infecção no intestino, no rim e que sua costela estava trincada desde a cirurgia. Ela foi tratada com antibiótico na veia durante três dias e, ao ter alta, precisou receber injeções que ajudaram na cicatrização da costela.

“Antes da cirurgia, eu tinha pedras no rim. Porém, após a bariátrica, eu descobri uma má absorção do órgão”, relata Adryelle. Esse problema pode fazer com que a supervisora precise reverter a cirurgia, mas isso ainda não é uma certeza. Por enquanto, seu quadro está estável.

Dificuldade na absorção de vitaminas

Uma das consequências mais difíceis da bariátrica é a dificuldade que o organismo passa a ter de absorver nutrientes e vitaminas.

“As cirurgias bariátricas induzem a uma subnutrição programada para um nível que leva ao emagrecimento e que tenta evitar o reganho de peso. O ajuste fino desse equilíbrio, por vezes, é bastante difícil por meio da alimentação. O paciente necessita de reposição de alguns nutrientes e vitaminas por toda a vida”, explica o endocrinologista Bruno Geloneze, membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Um dos nutrientes que a pessoa pode ter dificuldade de absorver é o ferro. “Esse problema se dá pelas modificações anatômicas e funcionais do tubo digestivo, além de os pacientes terem maior dificuldade de ingerir carne após as cirurgias”, esclarece o especialista.

A falta de ferro combinada com a redução de absorção de ácido fólico e vitamina B12 facilita a anemia, como aconteceu com Adryelle ao completar os três meses após a bariátrica.

“Agora, com oito meses, eu estou com a B12 e a ferritina baixas, tendo que suplementar essas vitaminas na veia para evitar a anemia novamente”, relata a supervisora.

Há também quem tenha déficits de proteínas, zinco e vitamina D, o que aumenta o risco de osteoporose. Nessa doença, a pessoa passa por uma perda progressiva de massa óssea e tem maior risco de fraturas.

“Vale lembrar que pessoas com obesidade podem ter deficiências nutricionais antes da cirurgia e devem ser adequadamente orientadas e tratadas antes de serem operadas”, reforça Bruno Geloneze.

“Eu não faria de novo”

Após oito meses da cirurgia bariátrica, Adryelle já perdeu 43 quilos e conseguiu vencer as infecções do início do pós-operatório. Sua costela cicatrizou e o problema no rim está controlado. Ainda assim, a supervisora diz que não passaria por tudo novamente para emagrecer.

“Hoje, não sinto o arrependimento que tinha no começo. Porém, eu não passaria por tudo novamente, mesmo fazendo a bariátrica por saúde. Nunca pensei em fazê-la por estética”, reforça.

O caso de Adryelle é um lembrete sobre a importância de profissionais da saúde conversarem com o paciente com obesidade sobre os prós e contras da cirurgia bariátrica, para que a pessoa possa se preparar de forma integral. Além disso, é fundamental que a intervenção cirúrgica não seja prescrita para todos os quadros de obesidade, como a forma mais rápida de emagrecimento.

“Os benefícios da bariátrica superam os riscos em cirurgias bem indicadas. Operar pessoas com menos problemas de saúde (menos peso também) pode resultar em menor risco de complicações. Mas esses pacientes não devem ser os preferenciais para procedimentos cirúrgicos, já que podem ser tratados clínica e farmacologicamente”, pontua Bruno Geloneze.

O endocrinologista ainda completa: “Os pacientes com índices de massa corporal maiores têm mais chances de complicações peri-operatórias. Porém, esses mesmos pacientes são aqueles com maior benefício no emagrecimento intenso”.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), a obesidade afeta 6,7 milhões de brasileiros. Em 2022, 863.086 de pessoas foram diagnosticadas com obesidade mórbida ou índice de massa corporal (IMC) grau III, quadro em que a cirurgia bariátrica pode ser uma grande aliada para perda de peso significativa.

A Organização Mundial da Saúde define a obesidade como uma doença crônica, progressiva, recidivante. A enfermidade é considerada uma epidemia global.PróximaAlém do nódulo: conheça outros sinais de câncer de mama

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