Para supostamente recuar dos atentados, os criminosos elaboraram lista com algumas regalias para beneficiar, também, detentos da Papuda
Rafaela Felicciano/Metrópoles
Marcado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para esta terça-feira (28/11), o “salve nacional”, espécie de ordem para integrantes da facção cometerem ataques contra transportes públicos, hidrelétricas e agentes da segurança pública, ligou o sinal de alerta de autoridades locais e federais.
O bando elaborou uma lista com algumas regalias que deveriam beneficiar, também, os criminosos que estão encarcerados no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. A coluna teve acesso à série de exigências feitas pelos faccionados. Entre elas, estão a extensão do tempo das visitas e a melhoria na qualidade da comida servida nas cadeias.
A coluna apurou que os detentos querem o retorno do antigo sistema de visitação, quando os parentes entravam nas cadeias às 9h e permaneciam até as 15h. Atualmente, as visitas ocorrem em blocos de duas horas. O descontentamento do PCC pode provocar ataques violentos ao redor do país, além de manifestações organizadas por parentes de presos em frente ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), também nesta terça (28/11).
Veja regalias exigidas pelo PCC para recuar em ataques:
- Extensão do tempo de visitas – das 9h às 15h
- Melhoria na qualidade da alimentação servida para os detentos
- Reduzir a superlotação das celas, redistribuindo os encarcerados para outras unidades prisionais
- Aumentar o rol de critérios de análise para que a visita íntima possa alcançar mais presos
- Superlotação incomoda
Entre as regalias que fazem parte do rol de exigência dos presos, está a redução do número de detentos nas celas da maioria da cadeias públicas espalhadas pelo país. Os facionados querem que ocorram remanejamentos para unidades com quantidade menor de internos.
A qualidade da comida servida cinco vezes por dia em todas as unidades prisionais também consta na lista da facção. A coluna apurou que a revolta dos condenados ganhou força após o fechamento das cantinas, que ofereciam uma série de alimentos, como bolos, biscoitos e chocolates. No entanto, o dinheiro que circulava dentro da Papuda também fomentava o tráfico de drogas.
Por fim, os facionados também querem flexibilização relacionada à questão das visitas íntimas. Atualmente, o benefício é muito restrito, e a massa carcerária quer aumentar os critérios de análise para que mais presos sejam alcançados pela benesse.
“Salve”
Além das ações voltadas aos interesses dos internos da Papuda, há outra questão: como revelado pela coluna Na Mira, a cúpula do PCC teria divulgado um “salve” — espécie de ordem para que todos os integrantes da facção espalhados pelo país levantem todo tipo de informação sobre servidores dos sistemas penitenciários estaduais.
Os faccionados teriam recebido como determinação duas datas, estabelecidas pelos chefões, para atacar os servidores da segurança pública: 28 de novembro e 3 de dezembro.
As informações circularam entre detentos encarcerados no Presídio do Distrito Federal (PDF) I, na Papuda.
Na última semana, em documento sigiloso obtido pela coluna Na Mira, a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) destacou que policiais penais federais deveriam permanecer em alerta máximo, principalmente os lotados nos presídios de Campo Grande (MS) e Brasília.
No caso do sistema penitenciário do Distrito Federal, na PDF I, os chamados “catatais” — gíria dos presos para identificar bilhetes escritos em pedaços de papel — falavam sobre o levantamento de dados relacionados a policiais penais de Brasília.
Leva e traz do PCC
Uma detenta que cumpre pena no Presídio Feminino (PFDF) e estava em regime de trabalho externo foi interceptada enquanto levantava e repassava informações de servidores para criminosos que atuam nas ruas.
A descoberta ocorreu há cerca de seis meses, e a presidiária perdeu o direito ao trabalho externo. Depois, ela foi incluída na chamada “tranca” — quando o interno fica no regime fechado.
Um advogado também teria sido identificado por levantar informações sobre servidores. Ele atenderia a um grupo de faccionados supostamente ligados ao PCC e atuava como um “leva e traz” de ordens, de dentro das cadeias para a rua.