Em entrevista exclusiva, jogador cita características que o aproximam do torcedor rubro-negro e fala bastante de duelos marcantes com o São Paulo, de Sampaoli e Dorival Júnior
Por Carlos Gil, Fred Gomes e Marcel Lins — Rio de Janeiro
rande "reforço" para a reta final de 2023, Bruno Henrique ganhou praticamente tudo de vermelho e preto. Mas a Copa do Brasil, competição que o Flamengo tenta vencer pelo segundo ano consecutivo, tem sabor de título inédito para o ídolo. Uma lesão multiligamentar tirou BH das marcantes disputas contra Atlético-MG, Athletico-PR, São Paulo e Corinthians, nas fases finais da edição passada.
Esforçou-se para superar a desconfiança provocada pela grave ruptura sofrida no joelho direito e se tornou o melhor jogador do time desde que voltou a jogar com frequência, em junho passado. Aos 32 anos, com 209 jogos e 85 gols pelo Flamengo, Bruno quer coroar a redenção com seu 12º título.
- Com certeza. Não estava no ano passado (nas finais), e ganhar a Copa do Brasil era um sonho. E agora, tendo a oportunidade de novo de ganhar, é fazer o meu melhor para conquistar esse título. Vou fazer o esforço que for necessário para ganhar essa Copa do Brasil - prometeu, em entrevista exclusiva ao ge.
Bruno Henrique, do Flamengo, em entrevista ao ge.globo — Foto: Fred Gomes
A Copa do Brasil não seduz Bruno Henrique apenas para cobrir a lacuna deixada pela ausência nas fases agudas de 2022, mas também por acreditar que as muitas taças conquistadas pelo Flamengo são as responsáveis pela grande identificação criada com a camisa rubro-negra nesses cinco anos de relação.
- O mais importante foram os títulos. Os títulos coroaram tudo que fiz aqui no Flamengo e criaram esse laço e identificação que tenho com o clube. E as partidas que fiz também.
Sim, sem dúvidas, o esguio atacante de passadas largas, altíssima velocidade e sorriso fácil virou sinônimo de Flamengo . Não apenas por faixas de campeão, mas por sua essência. Carismático e um frasista de mão cheia, o mineiro do bairro de Concórdia sabe o que o rubro-negro gosta.
- Sou a cara do Flamengo, jogador que vai para cima, que não desiste, que briga, que corre e que faz tudo que eu acho que um torcedor queria no time dele. Acho que essa é a identificação que tenho com o Flamengo - explicou Bruno, que, apesar de nascido em Belo Horizonte, está totalmente familiarizado com o que é ser Flamengo.
Bruno Henrique, do Flamengo, em entrevista ao ge.globo — Foto: Fred Gomes
BH também falou de Dorival Júnior e Jorge Sampaoli, relembrou grandes jornadas contra o São Paulo em 2021 e abordou a pressão potencializada pelo fato de a Copa do Brasil soar como última chance de diminuir os muitos arranhões provocados pelo frustrante ano de 2023.
Confira abaixo:
Como é a fome de conquista para quem já ganhou tanto?
- Acho que o prazer do futebol é ganhar. Todo mundo tem um sonho, não sei qual é o de cada um, mas é de ganhar alguma coisa. Sempre sonhamos estar ganhando títulos, é para isso que temos esse elenco e essa nação toda nos apoiando sempre. A fome é de estar sempre no auge e ganhando títulos.
Bruno Henrique após a conquista da Libertadores contra o River Plate —
Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
Como lida com a pressão interna dos próprios jogadores e a externa da torcida e da imprensa pelo tratamento dado à Copa do Brasil de ser a única chance de título neste ano ano, já que o Brasileiro é muito difícil?
- O ano não foi bom, mas a gente sabe que tem essa competição para tentar conquistar. A gente vai atrás e fazer o esforço que for para sair campeão. Temos que ter a cabeça boa porque são dois jogos. Se a gente não tiver cabeça boa, vai passar em branco mais uma vez na competição. Tem que esquecer tudo que ficou para trás e focar somente nesses dois jogos, porque o mais importante para nós é vencer essa competição.
A campanha do Flamengo, com vitórias contundentes sobre Fluminense, Athletico-PR e Grêmio, faz do time mais merecedor do título nessa final?
- Chegaram os dois times que mereciam. Final não tem merecimento. Se fosse por merecimento, pela campanha que você citou, a gente ganharia. Mas são 180 minutos, e as duas equipes têm totais condições de vencer. Sabemos que vai ser um jogo muito difícil, então temos que estar focados e com a cabeça boa para fazer esses 180 minutos de forma brilhante e sair com esse título.
O quanto você, Gabigol, Arrascaeta e Everton Ribeiro são importantes num momento de turbulência? O quanto essa experiência de conquistas ajuda?
- Acho que a importância é de todo mundo. A gente está há mais tempo e conquistou vários títulos. Todos os jogadores que estão aqui conquistaram a Copa do Brasil, então a importância é de todos. Mas a gente tem uma importância maior por estar aqui há mais tempo e ter conquistado os outros títulos também. Então todos estão prontos para fazer o melhor e conseguir vencer, que é o mais importante.
Bruno Henrique, do Flamengo, em entrevista ao ge.globo — Foto: Fred Gomes
Decidir dentro ou fora de casa faz diferença?
- Acho que não, mas a gente sabe que decidir dentro de casa é muito bom. Temos totais condições de vencer lá, já vencemos vários jogos lá. Já sabemos o caminho de como fazer para poder vencer lá, mas primeiro temos de focar no primeiro jogo. Temos de fazer um belíssimo jogo e um bom resultado no Maracanã. Então o primeiro jogo é mais importante que o segundo.
Histórico contra o São Paulo (cinco gols em nove jogos)
- Tenho um repertório de gols contra o São Paulo. Que isso esteja comigo de novo nessa final para eu poder ajudar minha equipe marcando gols, dando assistências ou tirando gols. Da forma que for, eu vou estar ali para poder ajudar.
Há um Flamengo 5 a 1 sobre o São Paulo, em 2021, que você fez três gols, em um dos seus três "hat-tricks" pelo clube. É um dos seus jogos mais especiais?
- Para falar a verdade, eu achava que eram dois gols, nem sabia que eram três. Cara, foi um dos melhores jogos que fiz contra eles. Mas acho que no 4 a 0 no Morumbi fui superimportante. Dei assistência (duas), fiz gol também e joguei bem. Esse jogo também me marcou bastante nessa época contra o São Paulo.
Como é a sensação de saber que faz parte da história do Flamengo? Isso dá uma motivação maior para colocar uma nova estrelinha na vida particular?
- Sempre que vejo todas essas fotos e homenagens que temos no CT, eu fico muito feliz por representar uma grande nação. E também por saber que é difícil chegar em finais. O Flamengo desde 2019 chega em todas as competições, às vezes não ganha, e a frustração é grande pelo elenco e o investimento que temos. Mas temos que saber que do outro lado há companheiros que querem ganhar e lutam para fazer o melhor contra nós.
- Sempre falei que, depois de 2019, todo mundo vem diferente contra o Flamengo. Eles sabem que a gente sempre chega em finais e sempre está ganhando. Acho um ponto muito importante a gente saber a importância de se ganhar uma competição.
Bruno Henrique, do Flamengo, em entrevista ao ge.globo — Foto: Fred Gomes
Elogios ao São Paulo quando cita a qualidade do Flamengo
- A gente não chega por acaso. "Ah, o Flamengo tem um time milionário". "Ah, o Flamengo tem vários jogadores". Se você pegar o São Paulo hoje, olha a qualidade do time deles e dos jogadores. Olha os reforços. Pode ter uma folha salarial um pouco menor do que a nossa, mas tem jogadores de Copa do Mundo. O futebol hoje está muito parelho, a gente tem que saber perder e ganhar também. Hoje é muito difícil chegar no futebol, e a gente está sempre chegando.
Vocês e Dorival se conhecem muito uns aos outros. Quem leva mais vantagem?
- Acho que o treinador tem mais vantagem porque a gente conhece bem o que ele fez aqui no Flamengo, mas ele pode mudar. A gente não sabe o que pode acontecer da parte dele. O carinho que a gente tem por ele e o carinho que ele tem por nós existe, a gente foi muito feliz junto, mas agora é ele do lado de lá e a gente do lado de cá. É uma final que ele quer muito, e a gente quer muito também.
Bruno Henrique, do Flamengo, em entrevista ao ge.globo — Foto: Fred Gomes
O que acha que pode ganhar ainda pelo Flamengo? Você tem 85 gols. Pensa no 100º? Falta algum título específico?
- Não sou muito de ficar olhando números e me preocupar com essas coisas. Eu quero é jogar bem. Se eu jogar bem, troco por esses gols. Estar aqui no Flamengo é um fator muito importante para mim, sempre tive sonho de jogar em time grande. Quando recebi convite de vir para cá, fiquei muito feliz. Sabia que era muito difícil, mas também sabia do meu potencial e que poderia trazer algo de bom para o Flamengo.
Falamos do Dorival, mas como é o Sampaoli no contato diário com você e com o elenco?
- O Jorge (Sampaoli) é igual a mim. É um pouco reservado (risos), eu também sou, sou mais na minha. Mas ele conversa com os jogadores e tem uma relação boa com todo mundo. Só é um pouco mais na dele, mas sempre está ali para nos apoiar e nos criticar também na hora que tem de criticar. É um treinador que tem todo o respaldo do Flamengo.
Bruno Henrique, do Flamengo, em entrevista ao ge.globo — Foto: Fred Gomes
Escalações diferentes a cada jogo não atrapalham?
- Todo mundo está preparado. A gente sabe que cada treinador tem uma filosofia. A filosofia do Jorge (Sampaoli) é essa, de sempre mudar os jogadores, e todo mundo está preparando para entrar em campo e dar o melhor.
Com que palavra ou frase define esse momento da vida em que volta em alto nível após uma grave lesão?
- Iluminado. Sou um cara muito iluminado. Já passei por diversas situações em que não desisti. A palavra que deixo sobre minha pessoa é iluminado.
O quanto esse título é importante para deixar tudo normal?
- Normal não vai ficar, né (risos)? Porque é um título que a gente quer e vem de outros que a gente não conquistou. Trazendo esse título, isso pode ser um divisor de águas. Que seja uma porta para a gente no ano que vem traçar novos objetivos, traçar tudo do zero e traçar tudo alinhado para poder conquistar tudo o que a gente disputar em 2024.
Bruno Henrique, do Flamengo, em entrevista ao ge.globo — Foto: Fred Gomes