Corpo do ex-governador, senador, ministro e presidente de honra do PP, mesmo partido do atual presidente da Câmara, é velado na Zona Sul do Rio
Por Fernanda Alves — Rio de Janeiro
Presidente da Câmara Arthur Lira no velório de Francisco Dornelles, no Rio —
Foto: Ana Branco/Agência O Globo
A cerimônia do velório de Francisco Dornelles, realizada nesta sexta-feira em um auditório da FGV do Rio, reúne desde políticos atuais e da história do estado até o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Além do presidente da Câmara, sigla do mesmo partido de Dornelles, os ex-governadores Fernando Pezão e Sérgio Cabral foram prestar condolências à família, assim como o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD-RJ). Dornelles morreu na quarta-feira, aos 88 anos.
Presidente de honra do Progressistas, Francisco Dornelles estava afastado da vida pública no período mais recente, mas experimentou como poucos a política brasileira, tendo atuado como ministro, senador, deputado, secretário da Receita Federal, vice-governador e governador do Rio de Janeiro. O velório reflete sua trajetória política, com representantes de diferentes períodos da política do estado.
Lira chegou ao local no fim da manhã, e cumprimentou familiares do político. Paes chegou acompanhado do ministro das Relações Institucionais do governo, Alexandre Padilha, que representava o presidente Lula na cerimônia. Parlamentares do Rio, como o deputado Júlio Lopes, Marco Antônio Cabral e Dr. Luizinho também foram à cerimônia.
— Fiz questão de vir aqui, também em nome do presidente Lula, reforçar nossa solidariedade e pesar. Uma perda para a política brasileira, para democracia brasileira. Ele sempre foi um grande mestre para uma geração enorme de lideranças políticas e não à toa estão todos aqui — falou Padilha, veio ao Rio também para uma reunião com Paes.
O ex-governador Luiz Fernando Pezão no velório de Francisco Dornelles —
Foto: Ana Branco/Agência O Globo
Encontro de ex-aliados
O ex-governador Luiz Fernando Pezão foi um dos primeiros a aparecer na cerimônia. Pezão teve um reencontro com seu antigo aliado, o também ex-governador Sérgio Cabral. Foi o primeiro encontro deles após a saída de Cabral da prisão. No entanto, os ex-aliados não se cumprimentaram.
Cabral, que tinha uma relação próxima com Dornelles, a quem considerava “consultor informal”, fez questão de demonstrar sua admiração pelo político. O ex-governador enviou uma coroa de flores.
Ex-governador Sérgio Cabral no velório de Francisco Dornelles —
Foto: Ana Branco/Agência O Globo
Arthur Lira foi cumprimentado pelas lideranças políticas presentes e estava acompanhado do secretário de Saúde do estado, Dr. Luzinho (PP), liderança carioca de seu partido. O político é apontado como o nome escolhido de Lira para assumir a liderança do PP na Câmara, com a ida eminente do deputado federal André Fufuca, atual ocupante do posto, para o ministério de Lula.
Velório do ex-senador e ex-governador do Rio de Janeiro Francisco Dornelles, na sede da Fundação Getúlio Vargas (FGV), na Praia do Botafogo, na zona sul do Rio. Na foto, o prefeito Eduardo Paes. — Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Mineiro e primo de Getúlio
Dornelles nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em 1935. Ele fazia parte de uma família com ampla vocação política. Por parte de pai, era primo de segundo grau do ex-presidente Getúlio Vargas. Pela da mãe, sobrinho dos ex-presidentes Tancredo Neves e Castelo Branco, além de ter como tio Ernesto Dornelles, que já foi senador e governador do Rio Grande do Sul.
Com contatos influentes na família, o político se formou em Direito e Finanças Públicas e foi secretário da Receita Federal no governo João Figueiredo, em 1979, durante a ditadura militar. Foi durante sua administração que foi criado o símbolo do leão como imagem representativa do Imposto de Renda e da instituição, presente até os dias de hoje. Como secretário, defendeu ainda um sistema tributário baseado em impostos progressivos sobre a renda, seletivos sobre o consumo, e sobre o patrimônio imobiliário.
Em 1985, Dornelles deixou a Receita e assumiu o Ministério da Fazenda para uma breve gestão. Embora tenha morrido antes de assumir a Presidência da República, Tancredo Neves já havia designado o sobrinho para a pasta. O vice José Sarney, que assumiu a presidência, manteve Dornelles à frente da pasta. Porém, diante de seu isolamento dentro do governo e diante de um índice de inflação mensal superior a 14%, ele se demitiu da Fazenda cinco meses depois.
Mais tarde, seria ainda ministro da Indústria, Comércio e Turismo durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. No cargo, defendeu a desregulamentação da economia como forma de reduzir o chamado “custo Brasil” e o protagonismo do setor privado na definição da política industrial do país.
Já no segundo mandato de FHC ele assumiu a pasta do Trabalho e do Emprego. Em janeiro de 2000 foram sancionadas duas iniciativas de Dornelles para reformar as relações de trabalho: a instituição da conciliação prévia e a introdução da figura do rito sumaríssimo nos processos trabalhistas. Além disso ele implementou inovações no FGTS como a regra que permitiu aos trabalhadores em estágio terminal de doenças graves sacar o fundo de garantia.
Pelo Rio de Janeiro, foi um dos deputados federais constituintes e permaneceu na Câmara até 2007, por cinco mandatos consecutivos, com passagens por PFL, PPR e PPB. Já pelo PP, conquistou uma vaga no Senado nas eleições de 2006 e ficou na Casa até 2014, ano em que renunciou, já na reta final do mandato, após ser eleito vice-governador do estado na chapa de Luiz Fernando Pezão (PMDB).