Juiz explica que a possibilidade existe, mas não é imediata; jovem ainda precisa demonstrar interesse formalmente à Vara da Infância
Crianças brincam no abrigo Vivendas da Fé, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, para onde Lucas foi levado após ficar nas ruas sozinho por dez dias. Hoje ele está numa casa de guardiões — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Quando Lucas (nome fictício) foi resgatado, no ano passado, das ruas da Zona Oeste do Rio pelo Conselho Tutelar, a irmã mais velha dele, de 18 anos, estava em outro canto da cidade, morando com o marido e a filha bebê. Ela soube do ocorrido por boatos de conhecidos, e, até hoje, não sabe exatamente como tudo aconteceu. Para ela, vizinhos contaram que o menino havia saído de casa para morar com uma comadre, mas o mau comportamento o fez ser levado pelos conselheiros.
No entanto, a história registrada na delegacia é bem diferente: Lucas, de 9 anos, teria entrado numa padaria para se proteger da chuva. A atendente, que fez a ocorrência, questionou a presença do menino ali naquele momento. Ele, então, revelou ter sido abandonado pela família — a mãe, dependente química, e mais oito irmãos — enquanto jogava bola com colegas do bairro, e já estava há dez dias vagando pelas ruas. Diante disso, a mulher resolveu abrigá-lo em casa e, na manhã seguinte, procurou a polícia. Atualmente, o garoto está disponível para adoção, já que, depois de oito meses em um abrigo, a Justiça não conseguiu encontrar nenhum parente dele até agora.
Irmãos separados
A irmã de Lucas está há mais de um ano sem vê-lo. De acordo com ela, os dois eram próximos, apenas ela o entendia e conseguia colocar limites. Quando soube que ele havia sido levado pelo Conselho Tutelar, chorou muito e se culpou pela situação da família.
— Ele era meu irmão mais próximo, cuidava muito dele. Nos afastamos quando eu fui morar com meu marido. O Lucas tem um "probleminha de cabeça", caiu de uma beliche quando era bebezinho.... Só eu entendia ele, cuidava mesmo. Fiquei muito triste quando soube que ele tinha sido levado pelo Conselho Tutelar, chorei muito. Se eu quiser ficar com ele, eu ainda consigo? — questiona a irmã.
Em abril deste ano, depois de oito meses abrigado e sem receber visitas ou ser procurado, uma audiência marcou o fim do poder parental da mãe de Lucas, mas outros parentes ainda podem demonstrar interesse pela guarda dele.
De acordo com o juiz Sérgio Luiz Ribeiro, da 4ª Vara da Infância, da Adolescência e do Idoso, existe a possibilidade de a irmã ficar com a guarda, mas a intenção dela precisa ser formalizada. Se assim o fizer, a jovem ainda passará por uma série de avaliações para comprovar a capacidade dela e da família de cuidarem efetivamente de Lucas, com atenção e segurança.
Fonte - O Globo