Atriz estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, e lutava contra um câncer no pulmão desde outubro
Reprodução/Gshow
A arte está de luto. Morreu, na manhã desta segunda-feira (7/8), aos 83 anos, Aracy Balabanian. A atriz veterana, que foi diagnosticada com câncer no pulmão no fim do ano passado, estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro.
A notícia do falecimento da artista foi confirmada por uma fonte da coluna. Segundo o programa A Tarde é Sua, em outubro, ao passar por um tratamento para um derrame pleural, que causa acúmulo de líquido nos pulmões, Aracy descobriu dois tumores nos órgãos e ficou bastante abalada.
Aracy Balabanian não era vista em um projeto inédito desde 2019, quando participou do especial de fim de ano da TV Globo A Magia Acontece. No ano anterior, ela fez uma aparição em Malhação: Vidas Brasileiras.
Natural de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Aracy Balabanian estreou na televisão em 1965 ao estrelar "Antígona" numa versão teleteatral pioneira da TV Tupi. Antes disso, a então jovem artista se destacava pela atuação nos palcos em espetáculos com o grupo Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC. De lá pra cá, a atriz sempre se dividiu entre os tablados e os estúdios televisivos.
ARACY BALABANIAN — Foto: DIVULGAÇÃO / TV GLOBO
A artista apenas teve a aceitação do pai — a família, oriunda da Armênia, não aprovava sua incursão pelas artes — depois de estrelar "Antônio Maria" (1968), novela da TV Tupi em que contracenava com Sérgio Cardoso. Filha de imigrantes, Aracy teve a paixão despertada pelo teatro ainda criança, quando já morava em São Paulo e foi levada pelas irmãs mais velhas para assistir a uma peça de Carlo Goldoni com a companhia de Maria Della Costa. "Chorei muito. Estava emocionada porque era aquilo que eu queria. É muito difícil para uma criança de 12 anos, ainda mais naquela época, querer ser atriz e já perceber que ia ter muitas dificuldades", relembrou, ao site "Memória Globo".
Entre os folhetins em que atuou, destacam-se títulos como "O Casarão" (1976), "Coração alado" (1980) e "Locomotivas" (1986), além do programa infantil "Vila Sésamo" (1972), todos exibidos pela TV Globo.
Miguel Falabella lamenta morte de Aracy Balabanian: 'Amor de muitas vidas'
Artista morreu aos 83 anos após ser diagnosticada com câncer no pulmão no fim de 2022
Miguel Falabella lamentou a morte da companheira de cena Aracy Balabanian —
Foto: Reprodução/Instagram
Um dos grandes parceiros de cena de Aracy Balabanian, o ator e diretor Miguel Falabella lamentou a morte da artista, confirmada nesta segunda-feira (7). A atriz de 83 anos havia sido diagnosticada com câncer no pulmão no fim do ano passado e estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Na pele da personagem Cassandra, Aracy contracenou durante anos ao lado de Falabella, o Caco Antibes, em "Sai de Baixo" (1996-2002). Pelas redes sociais, o ator e diretor ressaltou a tristeza em perder a colega de trabalho, a quem chamou de "rainha" e "amor de muitas vidas".
"E então você se foi, assim, nesse dia ensolarado, como são ensolaradas as lembranças que invadem a minha cabeça, num jorro incessante, ainda que meu coração esteja nublado. Minha amada Aracy, minha rainha, atriz de primeira grandeza, companheira irretocável, amor de muitas vidas", destacou Falabella.
Na publicação, o ator agradeceu pelos trabalhos em conjunto e jurou amor eterno à artista.
"Obrigado pela honra de ter estado ao seu lado exercendo nosso ofício, obrigado pelo afeto, pelos conselhos, pelas gargalhadas e pela vida que você tão delicadamente me ofereceu. Consola-me saber que estaremos para sempre juntos em alguma reprise de uma futura sessão nostálgica. Te amo para sempre. Até um dia!", escreveu ele.
Miguel Falabella fez post de homenagem para Aracy Balabanian — Foto: Reprodução/Instagram
Claudia Raia postou foto e vídeo da atriz conhecendo seu filho mais novo, Luca:
"Aracy sempre foi uma amiga maravilhosa, uma artista gigante e talentosa. A arte brasileira perde muito com a sua partida, mas sem dúvidas, recebemos hoje um grande legado.
Ela será sempre nosso tesouro nacional, obra prima de pura devoção ao seu ofício. Que alegria ter encontrado sua alma nessa vida, que honra compartilhar um pouco do meu caminho com o seu! Que o céu te receba com todos os aplausos e que a falange dos artistas te acolha com muito amor.
Te amo para sempre minha amiga, te reencontro na próxima vida", escreveu Claudia.
Claudia Raia e Aracy Balabanian — Foto: Instagram
Natural de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Aracy Balabanian estreou na televisão em 1965 ao estrelar "Antígona" numa versão teleteatral pioneira da TV Tupi. Antes disso, a então jovem artista se destacava pela atuação nos palcos em espetáculos com o grupo Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC. De lá pra cá, a atriz sempre se dividiu entre os tablados e os estúdios televisivos.
Resistência entre a família
A artista apenas teve a aceitação do pai — a família, oriunda da Armênia, não aprovava sua incursão pelas artes — após estrelar "Antônio Maria" (1968), novela da TV Tupi em que contracenava com Sérgio Cardoso. Filha de imigrantes, Aracy teve a paixão despertada pelo teatro ainda criança, quando já morava em São Paulo e foi levada pelas irmãs mais velhas para assistir a uma peça de Carlo Goldoni com a companhia de Maria Della Costa. "Chorei muito. Estava emocionada porque era aquilo que eu queria. É muito difícil para uma criança de 12 anos, ainda mais naquela época, querer ser atriz e já perceber que ia ter muitas dificuldades", relembrou, ao site "Memória Globo". "Comecei numa época em que não era bonito fazer televisão, nem teatro", acrescentou.
Entre os folhetins em que atuou, destacam-se títulos como "Corrida de ouro" (1974), "Bravo!" (1975), "O Casarão" (1976), "Coração alado" (1980), "Locomotivas" (1986), "Rainha da sucata" (1990) — que lhe rendeu sua personagem mais famosa, a mãe super protetora Dona Armênia — e "A próxima vítima" (1995), além do programa infantil "Vila Sésamo" (1972), todos exibidos pela TV Globo.
Cassandra, em 'Sai de baixo'
Mais recentemente, a atriz chamou atenção ao interpretar a divertida personagem Cassandra, em "Sai de baixo", seriado de humor criado por Miguel Falabella, e que ficou no ar, na TV Globo, entre 1996 e 2002.
A atração fez sucesso entre diversas gerações e cristalizou seu nome entre um público amplo, devido às constantes reexibições do programa. "Eu me vi fazendo uma coisa que é o sonho de todo ator: teatro e televisão, ao mesmo tempo. Só que era um espetáculo ensaiado numa tarde", relembrou ela, ao falar sobre o trabalho no sitcom — gravado ao vivo num teatro — em que contracenava com nomes como Miguel Falabella, Marisa Orth e Luis Gustavo.
A proposta da atração era mesmo incorporar todos os imprevistos e improvisos que poderiam ocorrer em cena, algo que Aracy lidava com certa dificuldade, como a própria admitia. "Marisa Orth e eu fomos as primeiras a chegar para o Daniel Filho e dizer: 'Não vai dar, tira a gente'. Mas eu acho que nós fomos ficando sem-vergonhas e descobrimos que o público gostava mesmo era de nos ver errar. Quando passou esse susto de 'não podemos errar', a gente se divertiu muito", relembrou, em entrevista recente.
Quais novelas Aracy Balabanian fez?
Nas duas últimas décadas, após o fim de "Sai de baixo", a atriz integrou o elenco de novelas na TV Globo, entre elas "Da cor do pecado" (2004), "A lua me disse" (2005), "Eterna magia" (2007), "Passione" (2010), "Cheias de charme" (2012), "Saramandaia" (2013), "Geração Brasil" (2014) e "Sol nascente" (2016). Ela demonstrava que interromper a carreira não era uma opção.
"Sou preocupada com a idade, a saúde... Mas acho que é o agora que é importante, porque esse agora é que vai ser para sempre. É o que a gente não vai esquecer", afirmou, em entrevista ao programa "A arte do encontro", em conversa com Tony Ramos, há dois anos. "A arte existe, pois a vida tem que ser entendida. A gente não entenda do que acontece, né? E a arte, essa fantasia, esse brinque, esse lúdico, explica um pouco a vida e por que existimos uns para os outros. Acho que a arte é a explicação da vida", disse, à época.
"Quando vou a um teatro e há a catarse, e a gente se identifica com o espetáculo, saio de lá tão aliviada...! E é porque o espetáculo explicou alguma coisa da existência. Fiz uma peça muito difícil com a Nicette Bruno, e que se chamava 'Boa noite, mãe', sobre uma suicida que se preparava para se matar, avisando a mãe que se mataria em determinado horário. Era uma peça pesada, difícil. E, quando terminava a sessão, as pessoas saíam do teatro muito tocadas, e nós duas íamos passear. Íamos comer macarronada, porque acontecia alguma coisa nas nossas vidas. A gente se aliviava e ia comer macarronada, feliz da vida! E às vezes eu me sentia até culpada. Mas nós, que levávamos aquela mensagem, saíamos do teatro compensadas, loucas para passear. Então é isto: acho que a arte é a explicação da vida", afirmou.
Aracy Balabanian descobriu paixão pelo teatro
A paixão pelo ofício nos teatros era cultivada, com vigor, desde a adolescência. Aos 14 anos, Aracy Balabanian viu uma palestra de Augusto Boal, então diretor do Teatro de Arena, no Colégio Bandeirantes, onde estudava. Uma chave foi acionada ali, como a própria costumava recordar. Convidada pelo dramaturgo, ela realizou um teste e entrou para o Teatro Paulista do Estudante.
A primeira montagem com o grupo foi "Almanjarra", de Arthur Azevedo, que lhe rendeu elogios dos críticos Décio de Almeida Prado e Sábato Magaldi. "Eles escreveram uma crítica que terminava dizendo: 'Aracy Balabanian: guardem esse nome'. Eu fiquei possuída", rememorou a atriz, ao "Memória Globo". Aos 18 anos, prestou vestibular para a Escola de Arte Dramática de São Paulo e também para Ciências Sociais, na USP, atendendo ao desejo de seu pai. Mas logo abandonou o último curso para se dedicar às artes cênicas.
Aracy Balabanian pediu para deixar o Sai de Baixo: “Sofri horrores”
Intérprete da icônica Cassandra em Sai de Baixo, Aracy Balabanian revelou ter pedido para sair do humorístico da Globo por um motivo curioso: ela não conseguia parar de rir dos improvisos de Tom Cavalcante e, principalmente, Miguel Falabella, que constantemente saía do roteiro original para zoar o penteado da veterana.
“No Sai de Baixo, eu sofri horrores, porque tinha uma coisa que meu pai me corrigia muito: eu ia contar uma coisa e ria ou chorava antes de concluir. Eu pedi para o Daniel [Filho] para sair. Nessa época, o Daniel ainda estava dirigindo”, disse a atriz, em entrevista, em agosto do ano passado.
“Disse: ‘Daniel, eu tenho que sair porque não estou correspondendo’. Ele: ‘Por quê?’. ‘Não, porque o outro começa a falar, principalmente o Miguel Falabella e o Tom Cavalcante, que faziam improvisações, e na hora eu não conseguia me controlar, chegava a me unhar toda!’”, prosseguiu Aracy.
Daniel Filho, então, autorizou a intérprete de Cassandra a também fugir do roteiro. “‘Ria. Se você está com vontade de rir, ria’. Virou, como disse o próprio Miguel, que eu fechava a piada. Foi isso o que aconteceu, porque eu não tinha condições de fazer graça diante deles”, declarou.
Matéria em atualização
Fonte - O Globo