Confira os detalhes sobre o cativeiro escolhido pelo PCC para sequestrar Sergio Moro
Revista VEJA
O processo de mais de seis mil páginas que apura o plano de sequestro do senador Sérgio Moro trouxe detalhes sobre o lugar escolhido pelos integrantes do PCC para servir de cativeiro para o parlamentar.
A revista Veja teve acesso à íntegra dos autos e trouxe a seguinte descrição sobre o local:
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“Os muros de 3 metros de altura impediam que quem estivesse do lado de fora observasse o que se passava dentro da chácara. As serpentinas de arame farpado desestimulariam qualquer aventureiro a entrar sem ser convidado ou alguém a fugir sem passar por um portão de ferro, o único acesso. A privacidade era garantida. O lugar é cercado por uma densa vegetação, o vizinho mais próximo, uma senhora de quase 80 anos, está a mais de 200 metros de distância. Havia outros pontos positivos. A propriedade fica a 48 quilômetros de Curitiba e a única maneira de chegar lá é dirigindo 18 quilômetros por uma estrada de terra sem nenhum movimento.
A casa principal não tem móveis nem telefone. Até a piscina e a churrasqueira, teoricamente dispensáveis, podiam ser úteis. A única coisa inconveniente era a presença de câmeras de segurança com as quais o proprietário gravava o que acontecia do lado de dentro e podia dar uma espiada para conferir se estava tudo sob controle. Esse foi o local escolhido pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para servir de cativeiro do hoje senador Sergio Moro, que, graças a um imprevisto, escapou do sequestro e provavelmente da morte na mais ousada ação planejada pelo grupo desde que ele foi criado, há trinta anos.”
PCC está entre as maiores organizações criminosas do planeta
Segundo especialistas ouvidos pela revista Veja, o PCC está entre as três organizações criminosas mais bem estruturadas do planeta
O grupo tem ramificações em pelo menos quinze países europeus, em toda a América Latina, parcerias com criminosos italianos, movimenta bilhões de dólares, controla o tráfico de armas e cocaína que que passa pelo território brasileiro e já se enfronhou na política.
Umas das ações que mostrou a força desses criminosos foi justamente o plano de sequestro e morte do senador da República Sérgio Moro, que não logrou êxito graças as forças policiais do Brasil.
Segundo a íntegra do processo, o objetivo dos líderes do PCC era sequestrar Moro no dia 30 de outubro, data do segundo turno das eleições. Sete meses antes, os criminosos levantaram todos os detalhes da rotina de Moro. Eles rastrearam os locais por onde o ex-juiz e sua família costumavam frequentar, o endereço residencial, os hábitos e os horários.
O plano era sequestra-lo assim que ele deixasse o local de votação. Na época, Sérgio Moro estava apenas a poucos dias sem o aparato de segurança que o acompanhou por anos.
A escolha do cativeiro de Moro
A escolha do cativeiro foi o último movimento do PCC. Segundo os autos do processo, uma mulher procurou a dona da chácara por meio de um aplicativo de mensagens e ofereceu pagar dez diárias, o que não era praxe, já que o local era usado para festas de fim de semana, mas Tânia Castro, a proprietária, concordou. “Coloquei logo um preço bem alto na diária para que a cliente desistisse, mas ela topou.”
A locatária, que havia se identificado como Luana, exigiu que o pagamento fosse feito exclusivamente em dinheiro vivo e que ninguém, absolutamente ninguém, aparecesse no imóvel enquanto ela e seus hóspedes estivessem no local.
Segundo a proprietária do imóvel, no dia seguinte à ocupação da casa, as câmeras de segurança foram desligadas e a central de armazenamento das imagens, instalada em um poste a 5 metros de altura, desapareceu. Tânia Castro desconfiou da situação e decidiu vistoriar a região com um amigo policial, porém, segundo ela, não havia mais ninguém no local, apenas restos de uma refeição, indicando que hóspedes estiveram no local.
“Eu poderia ter morrido no instante em que entrei de volta na minha própria chácara. Só soube que aquele pessoal era do PCC tempos depois, quando um delegado federal me telefonou para pedir que fizesse o reconhecimento de uma das pessoas envolvidas”, relatou a proprietária do imóvel
Base de operações do PCC
Os criminosos também alugaram um apartamento em Curitiba, a 42 quilômetros do cativeiro, que servia como uma espécie de base de operações para a realização do sequestro. Foi onde aconteceu o imprevisto que salvou a vida do senador.
O entra e sai de pessoas e carros diferentes no prédio chamou a atenção de alguns moradores, que acionaram a imobiliária, que decidiu checar mais uma vez a documentação dos novos inquilinos.
Ocorre que, na cédula de identidade de um deles, a cidade paranaense de Cascavel aparecia como localizada no estado de São Paulo, indicando que o documento era falso.
A empresa então entrou em contato com o locatário, um membro do PCC, e ameaçou acionar a polícia. Os bandidos abandonaram o imóvel e abortaram a missão. Em novembro, os criminosos retomaram o plano. Porém, um antigo integrante da alta cúpula da facção procurou o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco), pediu proteção e ofereceu informações em troca.
Em depoimento gravado, ele contou sobre o plano de sequestro de Sergio Moro e para provar que não estava blefando, o dissidente do PCC forneceu quatro números de celulares ligados ao homem que, a mando da cúpula da facção, seria responsável por coordenar a trama: Janeferson Aparecido Mariano Gomes, conhecido como Nefo, o líder da Sintonia Restrita, uma espécie de grupo de inteligência da organização criminosa especializado em eliminar os ex-faccionados apontados como traidores e promover atentados contra policiais e carcereiros por vingança.
No momento da delação, Moro ainda não havia sido sequestrado, mas o plano já estava em ação, e os criminosos aguardavam apenas o aval de Marcola para executá-lo. Porém, com a quebra de sigilos telefônicos e interceptações autorizadas pela Justiça, a Polícia Federal desvendou a trama, prendeu os responsáveis e evitou o crime.
Fonte - Correio de Santa Maria