Réptil que vive isolada há 16 anos em cativeiro de parque na Costa Risca marca o primeiro registro de partenogênese facultativa em um crocodilo
Fêmea de crocodilo botou 14 ovos sem a participação de macho Warren Booth et.al
Pela primeira vez, pesquisadores relataram em uma fêmea de crocodilo um caso de partenogênese facultativa — quando o animal é capaz de ter descendentes mesmo sem fazer sexo. A mãe “virgem”, apesar de isolada por pelo menos 16 anos, botou ovos sem a fecundação de um macho.
O episódio — ocorrido no Parque Reptilandia, na Costa Rica, com uma crocodilo-americano (Crocodylus acutus) — foi registrado nesta quarta-feira (7) na revista Biology Letters. Segundo o site LiveScience, a fêmea foi levada para viver em cativeiro em 2002, quando tinha 2 anos de idade.
Vivendo isolada desde então, em janeiro de 2018 ela botou por conta própria uma ninhada de 14 ovos, dos quais sete pareciam férteis. Os cuidadores do parque incubaram esses ovos, mas eles não eclodiram. Depois de três meses, os especialistas abriram os ovos e notaram que o conteúdo de seis deles "não era discernível", mas um continha um feto totalmente formado. A análise genética mostrou que o bebê morto era quase idêntico à mãe.
Crocodilo fêmea botou 14 ovos por partenogênese — Foto: Warren Booth et.al
Por meio de um programa de computador chamado ParthenoGenius, a equipe confirmou que os crocodilos em desenvolvimento eram realmente partenogênicos, compostos por material genético exclusivo da mãe.
Os pesquisadores escreveram no estudo que foi "decepcionante" o fato do ovo com o material genético dela não ter eclodido. Mas não é incomum que filhotes nascidos por partenogênese sofram anormalidades e não cresçam.
“Com jiboias e pítons, tendemos a ver partenogênicos nascidos externamente saudáveis”, conta Warren Booth, principal autor da pesquisa, ao site IFLScience. “Com cobras venenosas, como cascavéis, serpentes etc., e cobras-d'água e cobras jarreteiras, vemos o contrário. A maioria dos partenogênicos são natimortos ou gravemente deformados”.
Segundo Booth, em tubarões e pássaros, os efeitos da partenogênese variam. “Alguns parecem saudáveis, outros não. Criamos partenogênicos até a idade adulta e os reproduzimos, mas a maioria morre depois de alguns meses ou alguns anos”, afirma o expert.
Nesses casos, o que ocorre, segundo o pesquisador, é que o genoma é quase totalmente homozigoto, ou seja, o indivíduo apresenta pares de genes alelos iguais. “Portanto, é essencial e altamente endogâmico, o que obviamente não é propício para uma vida saudável”, ele diz.
É provável que os pterossauros e os dinossauros também tivessem capacidade de partenogênese — Foto: Warren Booth et.al
A descoberta da partenogênese na fêmea de crocodilo revela que o fenômeno, apesar de desfavorável à sobrevivência, está presente nos vertebrados arcossauros. “Os primeiros membros desse grupo são os crocodilianos e os mais recentes são os pássaros”, conta Booth, ao IFLScience. “Entre eles estão os pterossauros e os dinossauros”.
Com isso, é muito provável que os seres pré-históricos também fossem partenogênicos. “Agora sabemos que essa forma específica de partenogênese ocorre tanto em crocodilos quanto em pássaros”, observa o pesquisador. “Acontece também nos ancestrais evolutivos desse grupo, que são os répteis e lagartos. Como tal, é muito provável que tanto os pterossauros quanto os dinossauros tivssem a capacidade de se reproduzir por partenogênese”.
Por muito tempo, a partenogênese era considerada uma “síndrome de cativeiro”, mas Booth explica que, nos últimos anos, mais e mais animais partenogênicos foram encontrados na natureza, como a serpente-mocassim-cabeça-de-cobre (Agkistrodon contortrix) e a mocassim-d'águia (Agkistrodon piscivorus).
É provável, portanto, que "partos virgens” sejam apenas mais reconhecidos em animais em cativeiro porque há tratadores por perto para notá-los. Em busca de mais informações, Booth e seus colegas continuam a pesquisar as peculiaridades da reprodução dos crocodilianos.
Fonte - Galileu