A falta de Silvio Santos e de Faustão na televisão reabriu o debate sobre o fim da era de ouro da TV nacional e o crescimento de outros meio
A televisão brasileira enfrentou, ao longo dos seus 70 anos, transformações e mudanças advindas da evolução natural. Mas, nessa trajetória, algo sempre foi comum: a marcante presença de apresentadores tradicionais. Durante seis décadas, por exemplo, Silvio Santos está no ar – mesmo que nos últimos anos, o Homem do Baú esteja afastado por questões de saúde. Nas últimas semanas, com a saída de Fausto Silva da Band, o isolamento do dono do SBT e a internação de Raul Gil, uma pergunta começa a ecoar: a era dos grandes comunicadores estaria acabando?
O Programa Silvio Santos, por exemplo, completou 60 anos no domingo (4/6) e o SBT preparou um especial para o veterano. Acontece que o momento de homenagem não contou com o homenageado: o Dono do Baú não compareceu ao evento na emissora, e foi representado pela pelas filhas e pela esposa, Íris Abravanel.
A última vez que Señor Abravanel apareceu nos bastidores do canal foi em setembro do ano passado. A família alega que Silvio Santos está em um momento de descanso, enquanto o SBT afirma repetidas vezes que o apresentador continua ativo e bem de saúde.
Além disso, durante os anos como apresentador, Silvio foi acusado de racismo, gordofobia, machismo e precisou pagar indenização por constranger uma criança durante um programa, entre outras coisas. O dono do SBT também é conhecido por falas polêmicas.
Senor Abravanel, também conhecido como Silvio Santos, nascido em 1930, é um apresentador e empresário brasileiro. Natural da Lapa, no Rio de Janeiro, é o dono de uma das maiores emissoras de TV do Brasil, o SBT .
Aos 14 anos, começou a trabalhar vendendo carteirinhas de plástico e canetas nas ruas do Rio de Janeiro. Nesse mesmo período, passou a frequentar os programas de auditório da Rádio Nacional.
Ao atingir a maioridade, precisou servir ao Exército. Sem poder trabalhar como camelô, pediu emprego na Rádio Mauá e passou a trabalhar como locutor. Tempos depois, migrou para a Rádio Tupi e, em seguida, para a Rádio Continental, localizada em Niterói .
Para ir até Nitéroi, precisava pegar uma barca. Em uma das viagens ao trabalho, teve a ideia de criar uma “rádio” para transmitir músicas durante o percurso. Entre uma música e outra, no entanto, fazia propagandas. Com a venda do espaço publicitário, ele viu a renda aumentar.
Tempos depois, ele criou a revista Brincadeiras Para Você e a vendia nos comércios. Assim como os demais empreendimentos, a empreitada deu certo. Visionário, Silvio Santos cuidava de toda a parte financeira .
Em 1958, Manoel da Nóbrega, amigo pessoal do dono do SBT, pediu ajuda para administrar a empresa Baú da Felicidade. À época, Nóbrega estava com dificuldades para tocar o negócio. Enxergando potencial no empreendimento, ele comprou a empresa e começou o Grupo Silvio Santos .
Em 1961, o empresário estreou o primeiro programa na TV, o Vamos Brincar de Forca, que mais tarde se tornaria o programa Silvio Santos, na TV Paulista, onde fazia propaganda do Baú da Felicidade. O sucesso foi tanto que ele passou a dominar as tardes de domingo da TV .
Nesse meio tempo, Silvio criou diversas outras empresas. Uma delas, inclusive, a Baú Financeira, se tornou o Banco PanAmericano, cerca de 20 anos depois. Em 1991, após a empresa Liderança Capitalização ser adquirida por Santos, o empresário passou a vender Tele Sena .
Em 1975, com o sonho de adquirir uma emissora própria, Silvio Santos venceu a concorrência na compra do Canal 11, do Rio de Janeiro. Tempos depois, ganhou a concessão de mais quatro canais e fundou o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Em 1982, entrou no ar o canal SBT .
Hoje, além do SBT e da Tele Sena, por exemplo, Silvio Santos é dono de diversas empresas, tais como: Jequiti, Sisan, Jequitimar, entre outras .
Entre 1962 e 1977, Silvio Santos foi casado com Cidinha, que morreu aos 38 anos, vítima de câncer. Com ela, o empresário teve Cíntia Abravanel e adotou Silvia Abravanel. Anos depois, engatou relacionamento com a atual esposa Íris Abravanel, com quem tem as filhas Patrícia, Rebeca, Daniela e Renata.
Em 1989, o empresário chegou a lançar campanha à Presidência na TV, mas teve candidatura barrada pela Justiça por ser dono de uma concessionária de TV .
Em agosto de 2001, viu a filha Patrícia Abravanel ser sequestrada na porta da casa onde morava, em São Paulo. Depois de dias de negociação, o resgate foi pago e a jovem liberada .
Logo em seguida, o sequestrador tornou a voltar à casa do empresário e fez todos de refém. Foi necessária a presença de Geraldo Alckmin, governador do estado de São Paulo, à época, para que o criminoso se entregasse .
A carreira de Silvio Santos, no entanto, também teve problemas. Em 2011, por exemplo, o empresário precisou vender o Banco PanAmericano após rombo de quase R$ 4 bilhões por fraudes .
Além disso, durante os anos como apresentador, Silvio foi acusado de racismo, gordofobia, machismo e precisou pagar indenização por constranger uma criança durante um programa, entre outras coisas. O dono do SBT também é conhecido por falas polêmicas .
Senor Abravanel, também conhecido como Silvio Santos, nascido em 1930, é um apresentador e empresário brasileiro. Natural da Lapa, no Rio de Janeiro, é o dono de uma das maiores emissoras de TV do Brasil, o SBT.
Além de Silvio, o Brasil já não pode contar mais com o “ô loco meu” de Fausto Silva. A Band anunciou, no mês passado, o fim do contrato de 1 ano e meio com o veterano. Até o momento, ainda não se sabe se o apresentador voltará à TV.
Mas não só dos que decidiram se aposentar ou deixar o trabalho diário nos palcos de emissoras espalhadas pelo país, o Brasil também se viu órfão após a morte de ícones da era de ouro da televisão nacional, como Gugu Liberato (1959-2019), Chacrinha (1917-1988), Jô Soares (1938-2022) e Hebe Camargo (1929-2012).
Hoje, Ratinho, Ana Maria Braga, Carlos Alberto de Nóbrega, Serginho Groisman, Pedro Bial, Eliana e outros ainda atuam na televisão e tantam manter o legado dos grandes ícones, mesmo em um contexto no qual a TV aberta tem perdido, constantemente, parcelas da audiência para o mundo digital.
“É interessante ver os comunicadores mais tradicionais sendo tão enaltecidos atualmente. Quando esses artistas despontaram na TV, eles eram espezinhados pela imprensa. Havia alta carga de preconceito, inclusive por conta da origem simples de vários deles: Hebe Camargo foi empregada doméstica, Raul Gil foi feirante, Silvio Santos foi camelô… Aliás, essa origem explica em parte a forte conexão que tais figuras tem com as massas. Existe uma empatia enorme”, indica Fernando Morgado, consultor e professor de televisão.
O autor dos livros Comunicadores S.A. e Silvio Santos – A Trajetória do Mito ainda afirma que essa “debandada” dos antigos apresentadores “é um processo de mudança geracional, e não de extinção da figura do comunicador”.
Tetel Queiroz, roteirista e desenvolvedor de conteúdo para televisão, aponta também as alterações no consumo dos produtos audiovisuais, que foram profundamente impactos pelo surgimento de novas tecnologias:
“Os programas de auditório, especialmente os dominicais, sempre foram longos e carregavam a missão de falar com a família inteira. A família já não se reúne para assistir a mesma coisa. Hoje, a família pode até estar na mesma sala, mas cada um na sua tela. Então, estes apresentadores passaram a disputar uma parcela de público que foi envelhecendo e que ainda consome por hábito.”
O começo, o meio e a continuidade
Apesar dessa evolução natural citada pelos especialistas, ambos também pontuam o “começo, o meio e a continuidade” da história da televisão. No começo, por exemplo, citam Chacrinha, que estreou na televisão em meados dos anos 1950 e esteve na TV Tupi, Globo, Record e Band.
Em seus programas de auditório, com o conhecido figurino extravagante, Chacrinha lançou vários artistas para o estrelato e moldou os programas de auditório que viriam pela frente.
Silvio Santos, Gugu, Hebe, Raul Gil, Ratinho e outros deram continuidade ao legado de Chacrinha e foram seguidos por Marcos Mion, Luciano Huck, Fátima Bernardes, Eliana, Celso Portiolli e tantos outros que tentam acompanhar a evolução natural da tecnologia em seus programas adaptados aos novos públicos.
“Os comunicadores pioneiros de fato construíram estilos que servem de base para todos os profissionais que vieram depois. Silvio Santos, por exemplo, inspirou o Gugu. E o Gugu inspirou o Marcos Mion. O panda e o Globolinho lembram muito as personagens que lotavam o palco do Viva a Noite. Silvio Santos é o grande animador, enquanto Blota Jr. foi o grande mestre de cerimônias, Hebe Camargo foi a grande entrevistadora, Flávio Cavalcanti foi referência ao combinar entretenimento com jornalismo no palco”, opina Morgado.
“Thiago Leifert — caso queira voltar a ser apresentador —, Tadeu Schmidt e Mion são nomes interessantes [para dar continuidade aos apresentadores] na medida em que oferecem uma dinâmica e uma prosódia capaz de dialogar com a velocidade exigida por uma sociedade hiperestimulada”, completa Tetel Queiroz.
Apesar da mudança natural, Morgado citou que as emissoras entendem a importância da continuidade dos apresentadores: “Quando o Faustão saiu de lá [da Globo], a emissora optou por seguir ocupando a noite de domingo com um programa de auditório personalíssimo, o Domingão com Huck.”
“E fez o mesmo nas tardes de sábado, colocando o Marcos Mion, nas manhãs de segunda a sexta, lançando a Patrícia Poeta no lugar de Fátima Bernardes, e nas madrugadas, com o Pedro Bial ocupando o horário que foi de Jô Soares. E certamente fará esse mesmo tipo de movimento quando Ana Maria Braga, por qualquer razão, deixar o vídeo”, completa.
Era de mudanças
Tetel Queiroz e Morgado também destacam a presença da TV fechada e do streaming na mudança do consumo do público. Nos anos 1980, por exemplo, não havia outra opção que os programas de auditório aos domingos na televisão aberta. Hoje, no entanto, a guerra dos streamings ganha cada vez mais competidores.
Grandes nomes da TV, inclusive, já seguem para atuar como apresentadores em produções do streaming. Eliana esteve no Ideias à Venda, da Netflix, enquanto Fernanda Souza também foi contratada pela locadora vermelha para o Iron Chef Brasil. Angélica foi para o Jornada Astral, da HBO Max, e Tiago Leifert atua no Amazon Prime Video.
Para os amantes do cinema clássico, o streaming MUBI é uma ótima opção. Além de disponibilizar filmes antigos, ele também oferece no catálogo obras que estreiam em festivais cult. Para ter acesso à plataforma é necessário desembolsar R$ 29,90 no plano mensal ou R$ 214,80 no plano anual .
Se o consumo de conteúdos de streamings já se encontrava em ascensão antes da pandemia, com o evento global, o sucesso das plataformas chegou de vez no Brasil. Confira a seguir quais são os principais aplicativos disponíveis no país.
A Netflix chegou ao Brasil em 2011, mas a popularização do serviço ocorreu em 2013, com a estreia da série House of Cards. Em setembro de 2021, o streaming completou 10 anos no país. Atualmente, para ter a assinatura do plano básico da Netflix, com tela única e sem HD, basta desembolsar R$ 25,90. A plataforma também oferece outros pacotes e período de teste por 30 dias.
O Amazon Prime Vídeo é outro streaming disponível no Brasil. O serviço, que faz parte do pacote Amazon, está disponível no país desde 2019 e também oferece ao beneficiário frete grátis em compras no site, além de outras coisas. Para ter assistir aos diversos filmes, séries e documentários do Prime Vídeo é necessário desembolsar R$ 9,90 no plano mensal ou R$ 89 no plano anual. A plataforma também oferece teste por 30 dias.
Além da Netflix e do Amazon Prime Vídeo, os brasileiros também podem optar por adquirir o HBO Max. O serviço, da Warner Bros, oferece aos assinantes conteúdos dos estúdios DC, Cartoon Network, Warner e, claro, da HBO. Os valores da plataforma são disponibilizados em planos mensais.
Totalmente brasileiro, o streaming da GloboPlay, pertencente à Rede Globo, é um dos mais utilizados no país. Disponível desde 2015, a plataforma oferta conteúdos novos e antigos da própria emissora, séries e filmes de outros países e conteúdos de canais como Megapix, Multishow e Universal, por exemplo.
A Apple TV+ é outra plataforma disponível que apresenta um dos preços mais acessíveis. Por R$ 9,90 no plano mensal, é possível ter acesso às produções originais da ferramenta. Diferentemente dos outros, no entanto, a Apple TV+ tem um catálogo menor.
Também da Disney, a Star+ é a plataforma da companhia estadunidense voltada para o público adulto. A ferramenta oferece um leque de conteúdo para os assinantes. Além de séries, desenhos e filmes renomados, o streaming também disponibiliza programas famosos de esportes.
A Paramount+ chegou ao Brasil no início de 2021. O serviço, pertencente à ViacomCBS, oferece em seu catálogo diferentes filmes, reality shows, animações, programas de humor, séries clássicas e originais. Para ter acesso a plataforma é necessário desembolsar R$ 19,90 no plano mensal.
Dentre as opções de streamings disponíveis no Brasil, a Starz Play é uma das mais baratas. Custando aproximadamente R$14,90 no plano mensal, a plataforma chegou ao país em 2019 e oferece conteúdo do canal americano Starz. O streaming permite teste gratuito por 7 dias.
Para os amantes do cinema clássico, o streaming MUBI é uma ótima opção. Além de disponibilizar filmes antigos, ele também oferece no catálogo obras que estreiam em festivais cult. Para ter acesso à plataforma é necessário desembolsar R$ 29,90 no plano mensal ou R$ 214,80 no plano anual .
Se o consumo de conteúdos de streamings já se encontrava em ascensão antes da pandemia, com o evento global, o sucesso das plataformas chegou de vez no Brasil. Confira a seguir quais são os principais aplicativos disponíveis no país.
“Esse é um indicativo de que a era dos grandes apresentadores mudou! Foi-se o tempo em que o comunicador podia se dar ao luxo de trabalhar em apenas uma mídia. Tanto o público quanto os anunciantes querem conteúdos em múltiplos meios, afinal, todos nós consumimos tudo ao mesmo tempo e agora. O on demand é complementar à TV linear. Sendo assim, é preciso estar tanto no streaming quanto na televisão convencional, seja ela aberta ou paga”, definiu Morgado.
“A geração mais velha não contava com a diversidade de conteúdo e meios que temos hoje. Então foram décadas construindo uma relação de fidelidade e conforto”, conclui Tetel.