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RELIGIÃO - Autópsias de vítimas de seita evangélica no Quênia revelam ausência de órgãos e 'tráfico bem coordenado'

Autoridades que analisaram 112 corpos, em sua maioria de crianças, afirmam que a principal causa das mortes foi fome, resultado do culto ao jejum extremo pregado por pastores


Autópsias realizadas em corpos encontrados numa floresta no sudeste do Quênia — onde membros de uma seita evangélica se reuniam — revelaram ausência de órgãos, segundo um documento judicial divulgado nesta terça-feira pela AFP, que também aponta indícios de tráfico.

"Laudos de autópsia revelaram que faltavam órgãos em alguns corpos das vítimas exumadas até agora", indica o documento, com data de segunda-feira. O texto também menciona "tráfico de órgãos humanos bem coordenado que envolve vários atores".

Mais de cem corpos, em sua maioria de crianças, foram descobertos em abril na floresta de Shakahola, onde se concentravam os fiéis de uma seita que recomendava o jejum extremo para "conhecer Jesus". A floresta de 325 hectares fica próxima da cidade costeira de Malindi, e investigadores estão em busca de valas comuns. De acordo com a Cruz Vermelha queniana, há registro de 212 desaparecidos.

A descoberta dos corpos provocou sentimentos de horror, indignação e incompreensão no país da África Oriental, de cerca de 50 milhões de habitantes e mais de 4 mil igrejas registradas, segundo o governo. O presidente William Ruto prometeu agir contra aqueles que "usam a religião para promover uma ideologia obscura e inaceitável" e os comparou a "terroristas".

De acordo com as autópsias realizadas em 112 corpos, a maioria das vítimas morreu de fome após ter supostamente seguido os conselhos de Paul Nthenge Mackenzie, um autoproclamado pastor da Igreja Internacional das Boas Novas.

Algumas das vítimas, no entanto, foram estranguladas, golpeadas e afogadas, indicou na semana passada o responsável pelas operações de autópsia, o médico Johansen Oduor.

O pastor, que se encontra detido, será processado por "terrorismo", anunciaram os promotores em 2 de maio. Nthenge tinha um programa de televisão intitulado "Mensagem dos últimos tempos" que evocava "ensinamentos, pregações e profecias sobre o final dos tempos, comumente chamados escatologia". Em 2017, também lançou um canal no YouTube no qual se podem encontrar vídeos em que alertava enfaticamente seus fiéis sobre práticas "demoníacas", como usar perucas e fazer transações digitais sem dinheiro vivo.

No documento, a Direção de Investigações Criminais (DCI) pede o bloqueio das contas bancárias de outro pastor, Ezekiel Odero, detido em 28 de abril por este caso e solto na quinta-feira sob fiança. Segundo o DCI, o influente religioso, que também pregava na TV, recebeu "enormes transações em espécie" procedentes das quantias entregues pelos fiéis a Mackenzie, que lhes pediu que vendessem suas propriedades. Ele é acusado de homicídio, sequestro, radicalização, genocídio, crimes contra a Humanidade, crueldade infantil, fraude e lavagem de dinheiro.

Odero admitiu em abril que 15 pessoas morreram durante suas "intervenções espirituais" na mesma localidade onde foram encontrados mais de 100 cadáveres na propriedade de Nthenge. Apesar da afirmação do líder religioso, seus advogados argumentam que os falecidos já estavam "em estado crítico" quando chegaram ao centro:

— Quando as pessoas morrem, a polícia é informada; não houve nenhum caso de mortes em que as forças de segurança não tenham sido informadas — disseram os advogados do evangelista em declarações ao jornal 'The Nation', citadas pela Efe.

Fonte - O Globo

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