A roteirista e palestrante Triscila Oliveira está há oito anos no celibato. Dentre tantos motivos, ela conta a Marie Claire que a hipersexualização da mulher negra foi um dos pontos leventados para ela tomar essa decisão
Triscila Oliveira aderiu o celibato há oito anos Arquivo pessoal
A roteirista e palestrante Triscila Oliveira tomou uma decisão há oito anos que mudou sua vida: aderiu ao celibato. Não por religião ou alguma outra crença, mas, sim, porque estava cansada dos relacionamentos atuais.
“Não pensei. Foi algo que aconteceu naturalmente devido ao combo de racismo e sexismo que sempre enfrentei na tentativa de vivenciar relações amorosas e a minha sexualidade”, conta ela, em entrevista a Marie Claire. A decisão foi tomada, conta a roteirista, depois de muitos anos sofrendo machismo e sexismo. Além disso, por ser uma mulher negra, além do racismo, também precisou lidar com a hipersexualização e a objetificação de seu corpo.
“É muito comum a ideia de a mulher usar seu corpo como moeda de troca para ter afeto. E isso é ainda mais pesado nas vivências de mulheres negras, pois somos vistas como objetos sexuais e descartáveis. A solidão se faz tão presente, inclusive em relatos de mulheres que viveram anos em relacionamentos nos quais eram escondidas por seus parceiros por serem negras”, revela.
A decisão de Triscila não é isolada. A sexóloga Camila Gentile acrescenta que cada vez mais, os relacionamentos atuais deixam as mulheres cheias de traumas, e elas acabam optando não se relacionar para não se machucar mais.
Atrelado a isso, os relacionamentos deixaram de ser prioridade para o público feminino, que foca em ter sua independência, tanto financeira como sexual. “A evolução da mulher trouxe uma independência enorme, porém também deixou outros resquícios. A mulher hoje tem voz, é analítica e pode só querer uma relação sem sentimento, casual, ou só sexual mesmo”, completa a sexóloga.
Vantagens e desvantagens
Triscila tinha medo de falar para as pessoas sobre sua decisão a respeito de algo tão íntimo em sua vida, mas, quando foi se abrindo, revela que a reação da maioria foi de incredibilidade e julgamento. “O sexo é superestimado, e a quantidade de parceiros usada como régua de validação por muita gente”, completa.
Ela avalia que a decisão teve a grande vantagem de, ao colocar de lado a vida amorosa, levá-la a se concentrar 100% em seu crescimento pessoal e profissional. “E ainda por cima sem o risco de alguém ao meu lado questionando ou diminuindo meus sonhos e objetivos, se sentindo intimidado ou ameaçado, sentimento típico de muitos homens cis e héteros”, completa.
A roteirista ainda acrescenta que construiu o amor-próprio nestes anos, mas que o celibato conta com um ponto negativo: “A única desvantagem, para mim, é por vezes a solidão de não ter alguém para compartilhar momentos. Mas solidão não mata, ela ensina a solitude --que, no entanto, não deve ser romantizada, pois todo ser humano busca conexões.”
Camila também acrescenta que essa solidão pode ser preenchida com amigos e familiares. E lembra que, se a pessoa sente saudade da vida sexual, pode usar sex toys e vibradores.
“O vibrador tem seu encanto, e ele tem crescido. Provoca orgasmos que nenhum homem conseguiria nos dar. Mas acho que as mulheres estão sem paciência e temerosas em suas relações. Por isso o vibrador virou uma excelente opção”, conclui.
Fonte - Revista Marie Claire — São Paulo