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SAÚDE - ‘Sou grato por estar vivo’, diz homem curado por vírus do HIV em rara entrevista

Paul Edmunds, 67 anos, foi submetido a um raro e arriscado transplante de células-tronco que fez a doença entrar em remissão total

Paul Edmunds é a quinta pessoa no mundo a se curar do vírus HIV Reprodução/ Facebook

Em rara entrevista para uma emissora americana, a identidade do quinto paciente curado do vírus do HIV foi revelada. O homem se chama Paul Edmunds, ele tem 67 anos e mora em Desert Hot Springs, na Califórnia. Ele foi diagnosticado com AIDS em 1988, durante o pico da epidemia no país e teve a remissão total da doença em julho de 2022. Na época, ele era conhecido anonimamente como o 'paciente da Cidade da Esperança', em homenagem ao hospital em que foi tratado.

Ele foi curado usando um raro, mas arriscado, transplante de células-tronco do sangue de uma pessoa que tem uma mutação sanguínea que os torna resistentes ao HIV. O transplante muitas vezes pode resultar em infecção mortal. Por causa disso, é reservado para pessoas como Edmunds, que sofrem de câncer em estágio avançado.

“Fiquei incrivelmente agradecido. Estou grato por estar vivo. Fiquei grato por haver um doador”, disse ele à ABC.

Edmunds cresceu na Geórgia. Em meados da década de 1970, ele se mudou para San Francisco, Califórnia, para estar perto de uma comunidade gay maior. Anos depois, surgiria a epidemia de AIDS, em cidades como São Francisco e Nova York. A doença foi referida pela primeira vez como Imunodeficiência Relacionada a Gays (GRID) em 1981, quando o vírus se espalhou pela comunidade.

No pico da epidemia em 1995, 41.000 americanos morreram de AIDS. Uma grande parte deles eram homens gays. No final da década de 1980, cerca de 10.000 mortes eram registradas anualmente.

Edmunds lembra na entrevista de ter visto obituários de seus amigos e entes queridos toda semana. O homem teve medo de ser testado para o vírus no início, temendo que fosse uma “sentença de morte”. Em 1988 ele finalmente fez um teste e ficou “chocado” com o resultado positivo. “No começo, era como uma maldição. As pessoas tinham medo umas das outras”, disse ele.

O rápido aumento da doença na década de 1980 pegou o mundo médico de surpresa, e havia pouca informação disponível para tratamento e prevenção. Anos mais tarde, o aumento da conscientização pública sobre o HIV/AIDS fez com que os números de casos e mortes voltassem a cair.

Em 1987, chegou ao mercado a primeira terapia antirretroviral, que fortaleceu o sistema imunológico apesar da AIDS e tornou a doença indetectável e intransmissível. Edmunds usou esses tratamentos.

Em 2012, a profilaxia pré-exposição (PrEP) chegou ao mercado. Os usuários da pílula diária podem reduzir o risco de contrair o HIV através do sexo em 99 por cento. A combinação dessas drogas tornou as doenças controláveis para homens como Edmunds.

Em 2018, porém, Edmunds foi dianosticado com leucemia, câncer no sangue. Embora a doença seja relativamente rara, muitas vezes é mortal. Enquanto ele passava pela quimioterapia, os médicos perceberam que tinham uma chance de curar o Sr. Edmunds de ambas as doenças ao mesmo tempo.

Transplante raro e inovador

Um raro transplante de células-tronco que havia sido usado com sucesso em quatro pacientes anteriores que sofriam das duas doenças tornou-se uma opção.

Como o tratamento em si pode ser mortal, os médicos só o utilizam em pessoas que estejam com a doença em níveis avançados, como foi o caso de Edmunds.

No procedimento, os médicos selecionam um doador om uma mutação genética que levava a não expressão de um receptor chamado CCR5.Esse receptor é uma proteína que fica na superfície das células do sistema imunológico chamadas linfócitos T CD4, que são os principais alvos do HIV.

Ele atua como uma espécie de fechadura por onde o vírus entra na célula. Porém, com a mutação e a ausência do receptor, a célula se torna resistente à infecção, interrompendo a replicação do vírus no organismo e eventualmente o eliminando.

“É uma mutação muito rara. Existe em cerca de 1 por cento da população. Portanto, não é, não é algo que encontramos com muita frequência”, disse Jana Ditker, médica de Edmunds no City of Hope, à ABC.

Esses tipos de transplantes podem ser mortais, pois há uma chance de o sistema imunológico do corpo rejeitar e começar a atacar as células implantadas. Felizmente, não foi o que aconteceu com Edmunds.

Depois de receber tratamentos de quimioterapia de intensidade reduzida que tornariam o transplante mais tolerável, ele recebeu um transplante de células-tronco do sangue no início de 2019. Dois anos depois, em meados de 2021, o Sr. Edmunds foi declarado curado do HIV.

“Ficamos emocionados em informá-lo de que seu HIV está em remissão e que ele não precisa mais tomar a terapia antirretroviral que vinha usando há mais de 30 anos. Ele viu muitos de seus amigos morrerem de AIDS nos primeiros dias da doença e enfrentou tanto estigma quando foi diagnosticado com HIV em 1988. Mas agora, ele pode comemorar esse marco médico”, disse Dickter.

Embora esse tratamento seja promissor e possa dar esperança a muitas pessoas que sofrem, suas aplicações são relativamente limitadas. Ainda assim, os especialistas estão esperançosos de que as descobertas feitas nos últimos meses permitirão melhores tratamentos para a formação do vírus.

Fonte - O Globo

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