Em participação na Agrishow, no dia 1º/5, em Ribeirão Preto (SP), Bolsonaro deve fazer afagos ao agronegócio e desferir ataques ao MST
Valter Campanato / Agência Brasil
São Paulo – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vai aproveitar o cenário amistoso de um dos principais eventos do agronegócio no país, na terra governada por seu afilhado político, para fazer sua reestreia no palanque da oposição, na próxima segunda-feira (1º/5).
Ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Bolsonaro irá participar da abertura da Agrishow, tradicional feira agro realizada em Ribeirão Preto, cidade do interior paulista.
Segundo aliados, o ex-presidente usará o evento para afagar empresários do setor, que o apoiaram em peso na eleição de 2022, e atacar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que tem promovido uma série de ocupações de terras no chamado “abril vermelho”.
Bolsonaro pretende usar sua primeira viagem política pelo Brasil desde que voltou da temporada de três meses nos Estados Unidos, em março, para enfatizar as diferenças com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se impor como líder da oposição.
No mesmo dia, o petista também estará em São Paulo para participar do tradicional ato do Dia do Trabalhador, promovido pelas centrais sindicais na capital paulista. Neste ano, o evento será no Vale do Anhangabaú, no centro paulistano, recheado de comícios políticos e shows.
A opção por São Paulo como palco do retorno de Bolsonaro aos palanques é porque, maior colégio eleitoral do país, o estado foi onde o ex-presidente mais recebeu votos na eleição passada – foram mais de 14 milhões de votos no segundo turno, contra 11 milhões em Lula.
O estado também elegeu o governador Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro que foi lançado candidato por ele e derrotou, no segundo turno da disputa estadual, o atual ministro da Fazenda de Lula, Fernando Haddad (PT).
Tarcísio já declarou publicamente a “gratidão” que tem pelo ex-presidente por causa da aposta eleitoral. O governador estará presente ao lado de Bolsonaro na Agrishow, mas foi aconselhado a evitar falas polêmicas para não desconstruir o perfil moderado que tem demonstrado no início do governo e suscitado elogios de adversários de campanha.
MST: “A bola da vez”
O discurso de Bolsonaro na Agrishow vai mirar o MST, que será alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados, por causa das ocupações de terra e de denúncias de extorsão envolvendo ex-integrantes. Um aliado do ex-presidente afirmou, reservadamente, que o MST é “a bola da vez” do bolsonarismo.
As ocupações de terras preocupam empresários do setor, que ajudaram a financiar a campanha de Bolsonaro no ano passado e enxergam no governo Lula um risco às suas propriedades. O receio deles também deve ser utilizado por Bolsonaro como justificativa para se opor ao decreto de Lula que limita o registro e a compra de armas de fogo. No discurso, o ex-presidente pretende defender o direito dos fazendeiros em possuir armas para proteger suas propriedades.
Além disso, Bolsonaro preparou uma lista de ações que realizou em prol do agronegócio nos seus quatro anos de mandato (2019-2022) para elencar no discurso, assim como investimentos feitos no setor.
Saia-justa com o governo Lula
O governo federal é um dos principais patrocinadores da Agrishow, mas o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), não deve participar do evento.
Em entrevista ao Globo Rural, o presidente da feira, Francisco Maturro, admitiu ter avisado Fávaro de que um eventual encontro com Bolsonaro no dia 1º de maio poderia ser constrangedor. No entanto, ele negou ter “desconvidado” o ministro.
Já Fávaro alegou ter se sentido “desconvidado” da abertura do evento após Matturro ter sugerido que ele comparecesse apenas no segundo dia da feira, e não no primeiro, para evitar uma saia-justa. Fávaro não aceitou a proposta.
Fonte - Metrópoles