Ele é o poste de Lula também na economia. E a imediata imediatista do presidente é Gleisi Hoffmann. Precifiquem aí, amigos, amigas e amigues
Rafaela Felicciano/Metrópoles
Na posse de Fernando Haddad como ministro da Fazenda, ontem, a locutora usou a linguagem neutra. Cumprimentou a “todos, todas e todes”. Comovente. Enquanto o PT fazia a sua revolução na linguagem oficial, o mercado revirava o estômago dos investidores, com as ações derretendo na bolsa brasileira, em especial as das Petrobras — que, ontem também, foi retirada por uma canetada de Luiz Inácio, no Diário Oficial da União, da lista de empresas a serem desestatizadas, assim como os Correios e outras pérolas do estatismo brasileiro. A sinceridade presidencial na definição do teto de gastos como “estupidez” não deixa margem a qualquer dúvida sobre o iminente bundalelê econômico, que teve apenas o seu prenúncio com a aprovação da CPI do Estouro ou da Gastança, escolha você o nome.
O mercado vai precificar o bundalelê, porque, como não canso de repetir, está precificando até perna quebrada. Luiz Inácio conta com tal inevitabilidade para seguir adiante no seu trabalho de demolição da responsabilidade fiscal e de agigantamento do estado. Para ele, companheiro, o mercado é como papel: aceita tudo. Mas precificar, veja só, não significa confiar. Se a coisa não descamba para uma Venezuela, o mercado faz como mulher traída, que resolve permanecer casada por conveniência, sem beijo na boca e votos de amor eterno. Ou seja, seguiremos atraindo menos investimentos duradouros do que poderíamos, para ficar jogando o caxangá com os especuladores financeiros.
Conversa chata, eu sei, está todo mundo mais interessado no hoje é um novo dia de um novo tempo que começou. Mas já termino, rapaziada. Vocês querem a ilusão, eu lhes dou a verdade, modestamente. Quem comanda o bundalelê não é o ministro da Fazenda, porque não existe ministro da Fazenda. Fernando Haddad é só o que sempre foi: poste. O timoneiro na economia é Lula e a sua imediata é Gleisi Hoffmann.
Na posse, Fernando Haddad, coitado, ficou na defensiva diante de todos, todas e todes. Como registrou o Estadão: “O ministro continua usando frases de efeito sobre responsabilidade fiscal e ajuste robusto para cobrir o rombo, boas para manchetes dos jornais, mas que, diante da ausência de detalhamentos, acabam caindo num vazio perigoso”. O vazio é, além de perigoso, ululante: ele não tem plano nenhum, para além desse trololó aí.
Fernando Haddad não tem plano, apenas vagas intenções, e não manda nada, desenhemos. Logo depois de consumada a posse na presidência da República, Luiz Inácio assinou a Medida Provisória que prorroga a desoneração de impostos federais sobre os combustíveis — por mais um ano para o diesel e por mais dois meses para a gasolina. Deixou Fernando Haddad com cara de palhaço, já que ele era contra sangrar os cofres do governo dessa maneira (pois é, Haddad, o previdente).
Numa conta feita para o Metrópoles, a perda será de 25 bilhões de reais. Gleisi Hoffmann, a imediata imediatista da política, ganhou a parada, ecoando o argumento de que Luiz Inácio não poderia aumentar o preço dos combustíveis na sua chegada ao Palácio do Planalto. Agora basta explicar que temos a desoneração do mal, de Jair Bolsonaro, e a desoneração do bem, de Luiz Inácio. Tudo muito auspicioso.
Vamos precificando até quando der, amigos, amigas e amigues.
Fonte - Mário Sabino (Metrópoles)