Desconfiança sobre insubordinação militar e críticas à "fraqueza" do ministro da Defesa: nos bastidores, os sinais de que a crise não acabou
Igo Estrela/Metrópoles
Para além da inação das forças de segurança do Distrito Federal nos atos deste domingo, chamou atenção a tardia atuação do Batalhão da Guarda Presidencial, unidade do Exército cuja tarefa precípua é proteger os palácios presidenciais.
Em circunstâncias normais de temperatura e pressão, era de se esperar que homens do BGP, como é conhecido o batalhão, organizassem em tempo hábil barreiras de proteção em torno do Planalto, invadido e depredado por radicais bolsonaristas e infiltrados. A medida poderia ter ao menos atenuado a sanha dos invasores.
Na tarde desta segunda-feira, a coluna enviou perguntas ao Exército e à Presidência da República sobre o tema, mas não houve resposta. Extraoficialmente, a Presidência sugeriu que as indagações fossem feitas diretamente ao Exército. Sintomático. O Exército não respondeu.
A demora na entrada do BGP em cena é mais um dos muitos fatores a serem esclarecidos nas investigações sobre os ataques, mas nos bastidores de Brasília tem sido ponto de partida para uma série de questionamentos que avançam até para o grau de obediência do atual comando do Exército ao governo do presidente Luiz Inácio.
Não é algo trivial. Para se ter uma ideia, na tarde desta segunda-feira havia ministros do STF ainda preocupados com o risco de uma ruptura institucional.
O comandante
O novo comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, foi nomeado por Jair Bolsonaro em seus últimos dias como presidente, mas teoricamente já chancelado por Luiz Inácio e por seu ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Teoricamente. Há quem diga que o nome foi imposto pela própria força. O preferido de alas relevantes do novo governo era outro, o general Tomás Miguel Paiva, tido como alguém de perfil mais moderado.
A se considerar a ordem de antiguidade, depois de Marco Antônio Freire Gomes, o último comandante do governo Bolsonaro, Arruda era o próximo na fila para chefiar a corporação. Publicamente, José Múcio Monteiro chegou a dizer que o escolheu “pela internet”, num esforço retórico para passar a mensagem de que tomou a decisão respeitando o critério de antiguidade da caserna.
O ministro
A postura do ministro, tida como excessivamente passiva, tem suscitado críticas, dentro do próprio governo e também no STF. O caldeirão de queixas inclui, evidentemente, o fato de ele ter minimizado os riscos dos acampamentos bolsonaristas em frente às unidades militares, em especial o que era mantido até horas atrás em frente do Quartel-Geral do Exército.
Uma pergunta que se faz é se ele tem, de fato, a ascendência que se espera sobre as três forças ou se está apenas cumprindo papel de intermediário entre o novo governo e altos oficiais que parecem torcer o nariz para Lula. Na manhã desta segunda, o presidente chamou Múcio e os comandantes no palácio. Foi uma tentativa de deixar claro quem manda. Não significa muito, porém.
Temor de golpe
Das conversas que tiveram com gente do Executivo, incluindo o próprio Luiz Inácio, ministros do STF saíram com a impressão de que há um desacerto em curso entre os comandos militares — especialmente o do Exército — e o presidente da República, que para eles estaria minimizando o problema para não aprofundar a crise.
A leitura dessa mesma ala do STF é a de que a tragédia de domingo ainda não terminou. Parece absurdo, mas entre os onze da Suprema Corte há quem esteja preocupado — ainda — com o risco de golpe. O drama de domingo ainda não terminou.
Fonte - Metrópoles