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INTOLERÂNCIA RELIGIOSA - Destruição de 28 imagens de santos em paróquia no Paraná é atribuída a intolerância religiosa e a momento eleitoral

Às vésperas da comemoração do Dia de Nossa Senhora Aparecida, bispo do Sul diz que país vê se alastrar 'conflitos por meio de ódio'

Imagens de santos foram destruídas na Paróquia São Mateus, em São Mateus do Sul, no Paraná — Foto: Divulgação

A destruição de cerca de 28 imagens na Paróquia São Mateus, em São Mateus do Sul, no Paraná, foi atribuída pelo bispo Walter Jorge Pinto ao momento eleitoral. Na segunda-feira (10), um homem invadiu a igreja, por volta da hora do almoço, e destruiu peças com mais de cem anos. Na página da paróquia em redes sociais, o bispo diocesano fez um texto sobre o ato de vandalismo, às vésperas do dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que será comemorado nesta quarta-feira (12).

"Estamos presenciando alastrar-se pelo mundo, e também no Brasil, especialmente neste período eleitoral, todo tipo de conflito por meio do ódio que vai dividindo as pessoas, sobretudo usando as redes sociais, levando-os àquela divisão que só faz crescer o mal, que separa as pessoas, que não permite o diálogo, ensinando a ver em quem pensa diferente de nós um inimigo a ser combatido a qualquer preço", afirmou o bispo, acrescentando que ainda não há suspeito identificado para o crime.

Suspeito foi preso

O homem teria entrado na igreja por volta das 11h e fechado as portas, que ficam abertas para os fiéis fazerem suas orações. Ele destruiu imagens de Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Assunção e do Sagrado Coração de Jesus, algumas com mais de cem anos. O ataque teria acontecido em pouco mais de uma hora. Um suspeito foi preso em flagrante pela polícia e vai responder por crime de vilipendiar publicamente objeto de culto religioso.

O delegado Sérgio Luiz Alves, da 3ª Subdivisão Policial de São Mateus do Sul, que instaurou um inquérito para apurar o caso, afirma que o homem que atacou a igreja é conhecido na região pelo abuso no uso de alcool e drogas. Quando cometeu o crime, ele estaria sob efeito de ambas as substâncias, o que teria motivado o surto, que culminou no ataque.

— Ele foi identificado através de uma testemunha que frequenta a praça. Ele foi visto no momento em que chegou. É uma figura conhecida aqui na cidade. Ele fez uso de crack antes de entrar na igreja. Aparentemente, entrou sozinho e não foi visto pela paróquia porque não há câmeras internas — conta o delegado. — Foi quando pessoas que estavam na praça ouviram um grande barulho. Ele, então, pegou a bicicleta e saiu do local. Nós fomos acionados e, por conta da descrição, conseguimos pegá-lo no meio do caminho. Ele ainda havia cometido um furto de celular nesse percurso.

O homem foi indiciado por vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso, com pena prevista de detenção de um mês a um ano, ou multa.

— Ele é conhecido no meio policial por praticar pequenos delitos, coisas insignificantes. É usuário de drogas. É sempre visto bebendo ou fumando crack. Vive numa casa abandonada, que pertencia à avó, já falecida. Por vezes, também dorme no quartinho de um amigo.

'A Igreja não pode servir de palanque'

Nesta terça-feira (11), os padres Diego Nakalski e José Carlos, da paróquia, afirmaram, em coletiva de imprensa na igreja, que o suspeito foi identificado por uma testemunha ocular. Segundo o padre Diego Nakalski, que foi ordenado há um mês e é vigário da paróquia desde fevereiro deste ano, ele nunca viu o suspeito na igreja. Ele disse que nunca abordou questões políticas em suas homilias e que não permitira que a paróquia fosse usada como "palanque":

— Precisamos agir com bom senso neste cenário. A igreja não pode servir de palanque. Eu não permitiria que isso acontecesse — diz o padre Diego, que não acredita que haja chance de recuperação da imagem da Nossa Senhora de Assunção, co-padroeira da cidade, que ficou quebrada em várias partes.

O padre José Carlos, na coletiva, comemorou a prisão do suspeito.

— Desde ontem (segunda-feira) as equipes policiais têm feito um belíssimo trabalho para, quem sabe, pegar o malfeitor, quem realmente fez isso. Hoje recebemos a notícia de que, sim, tem um suspeito preso, e também temos uma testemunha ocular que pôde presenciar isso, o que certamente ajudou bastante as equipes policiais para prender o malfeitor. Então, sim, o autor do crime se encontra preso - afirmou o padre José Carlos, acrescentando que não foi a primeira vez que a igreja foi atacada. — Já conversamos com o Conselho Econômico e estamos viabilizando um meio de colocar um sistema de monitoramento aqui. Hoje, temos apenas um alarme. O que acontece em nossa Matriz São Mateus não foi a primeira vez. E, também, em outros lugares do estado isso já aconteceu. De manhã, conversava com o padre Aleixo, da Catedral de Curitiba e, há alguns anos, ele me disse que isso também já havia acontecido, com três imagens quebradas. Ele definiu como um ato de guerra. É uma preocupação no atual cenário que estamos enfrentando. Isso não é de agora. A gente teme que outros ataques possam acontecer. O que aconteceu aqui não foi um caso isolado. Nós agora rezamos para que não volte a acontecer.

Curadoria será feita para avaliar peças

O padre Nakalski revelou que as imagens continuam no mesmo lugar, da forma como foram encontradas. Ainda será feito um levantamento, junto à arquidiocese, para saber quais peças serão restauradas. A imagem de Nossa Senhora das Graças poderá ser restaurada. O padre contou que já recebeu inúmers ligações de especialistas em restauração de imagens sacras. A santa veio do exterior para o Brasil no século XX, tem fibra de vidro misturada a gesso e olhos de vidro, material pouco utilizado hoje em dia. Todo o local do crime está isolado e ainda hoje deve acontecer uma missa ministrada pelo bispo Walter Jorge Pinto de desagravo.

— As imagens estão ainda no lugar onde foram jogadas. Isolamos o local, mas elas vão seguir ali até depois da celebração de hoje. Depois, vamos fazer uma curadoria, para ver quais poderão ser levadas para reconstituição. Temos uma imagem histórica de Nossa Senhora das Graças que foi destruída. Infelizmente, teremos que saber, também, como dar destino para aquelas que não teremos como restaurar. Estamos esperando a presença do bispo (Walter Jorge Pinto) para sabermos as medidas corretas, para que se faça o melhor para a nossa comunidade, pela nossa Igreja.

Fonte - O Globo

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