Apesar de ter comunicado que estava indo embora e de ter levado a maior parte de seus pertences, padre Kolela teve seu desaparecimento registrado em boletim de ocorrência. Colegas do padre disseram que ele abandonou a paróquia por estar sofrendo preconceito.
Padre Wenceslas Kolela, sacerdote que colaborava na Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo — Foto: Reprodução/Facebook
O padre congolês Quentin Venceslas Kolela, que atuava na Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, está desaparecido desde 3 de julho.
Segundo colegas do padre, ele relatou que foi assediado e destratado por integrantes da Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas), da qual faz parte. Esse preconceito, segundo os párocos, ocorreu principalmente porque Kolela é estrangeiro, e motivou sua saída.
Apesar de ter avisado que estava deixando o grupo, por meio de uma mensagem de texto, e de ter levado a maior parte de seus pertences, ele foi dado como desaparecido pelo líder da congregação, que registrou um boletim de ocorrência.
O g1 questionou a Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas) e a Arquidiocese de São Paulo sobre a acusação dos párocos. Em nota, a Congregação afirmou que "não tem nenhum conhecimento sobre tais fatos". Já a Arquidiocese de SP disse que está em diálogo "para compreender o que, de fato, ocorreu com o Sacerdote" (leia detalhes mais abaixo).
Veja abaixo o que se sabe até agora sobre o desaparecimento do padre:
O que aconteceu com o padre?
Kolela foi visto pela última vez por volta das 11h15 de 3 de julho, quando saiu da casa paroquial da Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé, para almoçar e não retornou, de acordo com um comunicado divulgado pela paróquia nas redes sociais na última sexta-feira (15).
Apesar de ter avisado que estava deixando o grupo e de ter levado a maior parte de seus pertences, ele foi dado como desaparecido pelo líder da congregação, que registrou um boletim de ocorrência no Rio de Janeiro.
Desaparecimento de missionário em São Paulo foi registrado no Rio de Janeiro
O padre Luís Gonzaga da Silva, Superior Geral dos Assuncionistas no Brasil, registrou o desaparecimento em um BO feito em 15 de julho. Na sexta-feira (22), outro boletim de ocorrência foi registrado por Gonzaga, desta vez na polícia de São Paulo.
Em entrevista ao g1, Gonzaga disse que Kolela enviou uma mensagem informando que estava deixando a paróquia.
"Quando o Kolela saiu de casa, ele enviou uma mensagem dizendo: 'Estou deixando a congregação, estou em outro lugar'", disse Gonzaga.
Segundo párocos ouvidos pela TV Globo, Kolela foi assediado e destratado por colegas da Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas), principalmente por não falar português.
Colegas de Kolela, que não quiseram se identificar, disseram que o congolês relatou que estava sofrendo uma pressão psicológica muito grande e que, por isso, abandonou a Paróquia São Judas Tadeu.
A Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas) disse que "não tem nenhum conhecimento sobre tais fatos" (leia mais abaixo).
Quem é o padre Kolela?
Quentin Venceslas Kolela é natural de Brazzaville, na República do Congo, tem 40 anos e está desde 2020 no Brasil.
Ele é integrante da Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas), uma congregação religiosa católica fundada em 1845 por um padre francês.
Qual foi a reação da comunidade após o desaparecimento do padre?
A Paróquia São Judas Tadeu publicou nas redes sociais o comunicado do desaparecimento de Kolela no último dia 15.
No texto, a igreja pede que pistas do paradeiro sejam repassadas à Polícia Militar e não informa que ele avisou, por mensagem, que estava deixando a congregação.
Publicação do desaparecimento do padre Quentin Venceslas Kolela, da Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, nas redes sociais — Foto: Reprodução/Facebook
A postagem teve mais de 1,4 mil compartilhamentos e mais de 900 comentários no Facebook, a maioria de fiéis torcendo pela localização de Kolela, mas também alguns questionando a demora em comunicar à comunidade o sumiço do padre.
"Nossa, os padres da paróquia parece que não estão preocupados. Não falam nada, não dão nenhuma notícia para os paroquianos. Tem muitos paroquianos preocupados", disse uma das fiéis.
"Desde o dia 3 o padre desapareceu e só agora comunicam aos moradores. Meu Deus, tenha misericórdia. Que ele retorne com saúde", disse outra, em comentário na postagem.
O que dizem a Congregação e a Paróquia São Judas Tatuapé?
Em entrevista ao g1, o padre Gonzaga, líder dos Assuncionistas, disse que registrou o desaparecimento de Kolela porque esperava novas comunicações após a sua saída.
Gonzaga disse que, em conversa com um delegado amigo seu, surgiu a suspeita de que não teria sido Kolela o autor da mensagem de despedida.
O líder declarou ainda que a preocupação é com o bem-estar de Kolela, que tem o visto de residência no Brasil intermediado pela Congregação dos Agostinianos da Assunção, e que ele precisa comunicar formalmente sua saída da ordem, se for o caso.
"Queremos que o encontrem bem. Se ele não quiser voltar pra ordem, não tem problema, mas que dê uma satisfação, que consiste em uma carta pedindo desligamento. Essa carta é enviada para Roma, que vai olhar o pedido de saída dele. É assim que funciona", disse Gonzaga.
Questionada sobre as acusações de que Kolela teria sido assediado, a Congregação informou, na quinta-feira (21), que "não tem nenhum conhecimento sobre tais fatos".
Em nota conjunta divulgada na sexta (22), a Congregação dos Agostinianos da Assunção e a comunidade paroquial de São Judas Tadeu disseram que as instituições "seguem apreensivas em busca de notícias do Padre Quentin Venceslas Kolela".
"Todas as informações que tínhamos sobre as circunstâncias de seu desaparecimento foram comunicadas às autoridades policiais que investigam o caso e com as quais continuamos empenhados em colaborar para o esclarecimento dos fatos. Até o momento, desconhecemos as causas do desaparecimento do Padre Kolela e expressamos nossa preocupação com sua integridade, passados tantos dias sem nenhum contato", afirma a nota conjunta.
O grupo também pede que informações sobre o paradeiro do padre sejam comunicadas às autoridades.
"Conclamamos todo o povo de Deus e as pessoas de boa vontade a se unirem a nós em oração, para que este nosso irmão seja encontrado em segurança e com plena saúde. Pedimos àqueles que eventualmente tenham qualquer nova informação sobre o Sacerdote, que comuniquem as autoridades policiais o mais rápido possível. Que Nossa Senhora da Assunção e São Judas Tadeu intercedam pelo Padre Kolela para que o Senhor o proteja de todo o mal", informa a nota.
O que diz Arquidiocese de São Paulo?
A Arquidiocese de São Paulo declarou que "acompanha com apreensão o caso do desaparecimento do Padre Kolela Quentin Vencelas, missionário da Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas) e colaborador na Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé".
A instituição disse ainda que "por meio de Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar e Vigário Episcopal para a Região Belém", está "em diálogo com a Congregação, solicitando informações e providências desta junto às autoridades públicas para compreender o que, de fato, ocorreu com o Sacerdote".
"Até o momento, a Arquidiocese desconhece as possíveis motivações do desaparecimento do Padre Kolela e pede à Congregação que, por meio de seus superiores, realize a devida averiguação de qualquer informação que ajude a elucidar o caso. A Arquidiocese de São Paulo reitera seu interesse pelo esclarecimento dos fatos e se une às orações da comunidade católica por notícias do Padre Kolela, na esperança de que ele esteja bem e seja localizado", declarou.
O que dizem as autoridades?
Procurada pelo g1, a Polícia Civil do Rio de Janeiro disse que "o caso foi registrado na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) e encaminhado à Polícia Civil do Estado de São Paulo, que dará seguimento às investigações".
Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou, em nota, que não localizou nenhum registro do desaparecimento de Kolela em seu sistema.
Questionada sobre a resposta da polícia paulista, a Polícia Civil do Rio de Janeiro declarou, nesta sexta (22), que, "de acordo com a Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), a cópia do procedimento foi enviada por meio digital (e-mail) para a Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, no mesmo dia da confecção do registro de desaparecimento na DDPA. O documento físico está em trâmite para a Polícia Civil daquele estado".
Fonte - G1/São Paulo
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