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Por que pessoas com duas doses da vacina da Covid-19 ainda podem contrair a doença?

Especialistas alertam que não há vacina 100% eficaz e que imunizantes protegem contra formas graves da doença

Especialistas afirmam que uso de máscara e distanciamento deve continuar mesmo pra quem recebeu duas doses da vacina Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO E SÃO PAULO — Estudante do 5º ano de veterinária na cidade de Matão (SP), Giovanni Reggi Bortolani, de 22 anos, tomou a segunda dose da vacina CoronaVac no dia 4 de março. Um mês depois, após um jantar em família em que todos presentes acabariam contraindo a Covid-19 , ele também saiu infectado. Casos como esse — de pessoas que contraíram a doença mesmo após as duas doses da vacina — vêm causando dúvidas acerca da efetividade dos imunizantes contra o novo coronavírus.



Médicos e especialistas alertam que, mesmo após 14 dias da aplicação da segunda dose, quando se completa o ciclo de imunização, é sim possível contrair e transmitir o vírus. Isso ocorre porque as vacinas atualmente disponíveis protegem principalmente contra o desenvolvimento de formas graves da Covid-19, como explica Rosana Richtmann, infectologista do Hospital Emílio Ribas e do comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

— Quando falamos da importância da vacinação não é que a pessoa vai estar totalmente livre de pegar a doença. Mas a chance dela ser internada, intubada e ter complicações cai expressivamente e assim combatemos a pandemia — aponta Richtmann.

'Fui praticamente assintomático. Creio que a vacina ajudou bastante', disse Giovanni Bortolani, que se contaminou mesmo após duas doses da CoronaVac Foto: Divulgação / Infoglobo

A especialista ressalta que nenhuma vacina é 100% eficaz. Ela explica que, apesar das diferenças de eficácia das vacinas, todas disponíveis para vacinação atualmente possuem uma proteção para prevenção de casos moderados e graves entre 75-80% com as duas doses.

Um estudo sobre a CoronaVac, por exemplo, feito pelo Ministério da Saúde do Chile, apontou que ela é 67% efetiva na prevenção da infecção sintomática pela doença; 85% para prevenir internações e de 80% na prevenção de mortes pela Covid-19. Já duas doses da vacina Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19 podem ter cerca de 85% a 90% de efetividade contra o desenvolvimento da doença, segundo a Public Health England (PHE).

Além do tipo do imunizante, especialistas explicam que o principal fator que irá determinar o nível de proteção é o próprio organismo de cada paciente. Segundo a infectologista da Unicamp e consultora da SBI Raquel Stucchi, basicamente, há três grupos de reações às vacinas: quem desenvolve uma boa formação da imunidade celular e não adoece; aqueles que criam resposta parcial e podem ter casos leves; e uma minoria que desenvolve poucas células de defesa e pode ter casos moderados e graves.

Negacionistas gaúchos protestam, na capital Porto Alegre, com discurso na contramão da ciência, que tem como o distanciamento social a medida mais eficiente para evitar a disseminação do coronavírus Foto: DIEGO VARA / REUTERS

Parentes e amigos carregam o caixão durante o enterro de Paulo Carletti, 76, falecido por coronavírus, no cemitério de Belém Novo, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul Foto: Diego Vara / Reuters - 05/03/2021

Aglomeração em bloco improvisado na Avenida Mem de Sá, na Lapa. Na cidade do Rio, o carnaval não teve programação, mas cariocas e visitantes espalharam folia clandestina pela cidade Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo - 14/02/2021

Parentes de Tereza Santos que morreu de COVID-19 reagem durante seu sepultamento no cemitério Vila Formosa, em São Paulo Foto: Carla Carniel / Reuters

Quando o poder público nega a ciência ao povo. Dezenas de passageiros caminham após desembarcar do trem na estação da Luz, no centro de São Paulo. Nas grandes metrópoles brasileiras, enquanto se discursa sobre distanciamento social, cenas de aglomeração no transporte são comuns Foto: Miguel Schincariol / AFP - 05/03/2021

Vista aérea do cemitério do Parque Tarumã em meio à crise do coronavírus, em Manaus, Amazonas Foto: Bruno Kelly / Reuters - 25/02/2021

O grito do subúrbio. Mulher é imprensada contra porta de ônibus do BRT no Mato Alto, Campo Grande, Zona Oeste do Rio Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Parentes de Luiz Alves, 63, vítima da COVID-19, reúnem-se ao redor do caixão no cemitério de Inhaúma, no Rio de Janeiro Foto: Pilar Olivares / Reuters - 10/03/2021

Depois das aglomerações de fim de ano, o carnaval. Agente da Secretaria de Ordem Pública segura pandeiro apreendido de bloco improvisado na Avenida Mem de Sá, na Lapa Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo - 14/02/2021

Sem necessidade de apresentar comprovante de residência, o primeiro dia de vacinação em Duque de Caxias foi marcado por aglomeração, tumulto e frustração Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo - 05/03/2021

Pacientes com Covid-19 são transferidos do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), que é referencia no tratamento da doença, em Brasília. Aumento nos casos de Covid-19 causa forte impacto na rede de hospitais no Distrito Federal, que enfrenta lockdown para tentar conter a disseminação do vírus que já matou quase 270 mil brasileiros Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo - 10/03/2021

Criança usando máscara abraça adulto que veste camisa de protesto contra o lockdown em Brasília, apesar dos números da pandemia Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS - 28/02/2021

— Os pacientes que não desenvolvem imunidade a partir da vacina são na maioria idosos (devido ao processo de envelhecimento natural do sistema imunológico), imunodeprimidos e pessoas com comorbidades como obesidade e diabetes — diz Stucchi.

Faz parte desse grupo, por exemplo, a funcionária do setor de saúde de Franca, no interior de São Paulo, Cacilda Vendramini Ferreira, de 68 anos, que é diabética e hipertensa. Ela havia tomado a segunda dose em 2 de março e começou a se sentir mal em 10 de abril. Ficou oito dias internada, cinco deles na UTI, mas não precisou ser intubada.

— Se eu não tivesse tomado a vacina poderia ter sido muito pior — afirma Ferreira.

Outra funcionária do setor de Saúde da cidade, Laudicéia Satler Duarte, 53 anos, tomou a segunda dose no dia 3 de março. No fim de maio seu marido contraiu a doença e ela também se infectou, apresentando sintomas como dor de garganta, sinusite e fraqueza leve.

— Eu achava que não pegaria. Mas acredito que a vacina ajudou a não ter sintomas mais graves — conta.

O imunologista Daniel Mansur, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) explica que quando tomamos a vacina treinamos nossas células para combater o vírus. Porém, em parte dos casos, as células de defesa treinadas contra o vírus acabam não sendo suficientes para combater o antígeno.

— O vírus não é uma entidade estática. Ele se multiplica, tem seus próprios mecanismos de defesa e vai usar de tudo para continuar se replicando. É uma “corrida armamentista”, e onde tiver menos resistência pode surgir a doença — define Mansur.

Por conta dessa capacidade do vírus de infectar mesmo após a vacinação, a infectologista Raquel Stucchi ressalta que a imunização é também importante para proteger outras pessoas e o próprio sistema de saúde.

Especialistas alertam que não há vacina 100% eficaz e que imunizantes 
protegem contra formas graves da doença Foto: O Globo

— A gente insiste que a vacinação não é um ato individual, mas coletivo. Com muita gente vacinada diminui as internações e tende a diminuir a circulação do vírus. Assim a chance dessas pessoas cujo sistema imunológico não respondeu à vacina adoecerem diminui muito — analisa Stucchi.

Os especialistas alertam ainda para a importância de tomar as duas doses e completar o ciclo de imunização. Atualmente, apenas 11,11% da população brasileira recebeu as duas doses da vacina. Além disso, destaca Rosana Richtmann, se a pessoa se expõe muito a locais aglomerados, a chance dela se infectar mesmo imunizada também será maior.

— No hospital vejo muitas pessoas que, após 4 ou 5 dias da primeira dose já relaxam e acabam se contaminando e desenvolvendo a doença. Por isso é importante completar a imunização com a segunda dose e seguir usando máscara para proteger a si mesmo e aos outros — recomenda a infectologista.

O pneumologista Flávio Arbex, do município de Araraquara (SP), afirma que já atendeu pacientes que positivaram no teste de Covid mesmo depois de imunizados. A maioria evoluiu bem melhor do que aqueles que não foram vacinados.

— Mesmo vacinados, existe a chance de uma evolução ruim. Isso ocorre também com a vacina da gripe, não só com a da Covid — diz o profissional. — Não dá para baixar a guarda.

Fonte - O Globo

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