Diferentemente das vagas para alunos da rede pública, processo para a comunidade não é on-line
Manuela Rolim
manuela.rolim@jornaldebrasilia.com.br
A saga por vagas remanescentes nos centros Interescolares de Línguas (CILs) promete continuar hoje. Ainda que a previsão seja desanimadora para aqueles que não conseguiram se matricular ontem, devido à quantidade mínima de senhas disponíveis, muitos pretendem encarar, mais uma vez, horas nas filas. O transtorno pelo qual os interessados passam reflete a deficiência no sistema, que exige o cadastro presencial.
No total, a Secretaria de Educação do DF disponibilizou 3.763 vagas para a comunidade participar de cursos de inglês, espanhol e francês, em 11 centros. Elas não foram preenchidas por alunos de escolas públicas. Podem ingressar estudantes acima de 16 anos e com escolaridade a partir do 6º ano do Ensino Fundamental. Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre o número de vagas disponíveis em cada unidade para hoje.
Isso porque, ontem, longas filas se formaram na entrada dos CILs. Teve gente que dormiu na porta para garantir a oportunidade. Por volta das 18h, no CIL da 908 Sul, por exemplo, muitos pais e futuros alunos, que passaram horas na fila para conseguir uma vaga, permaneciam na unidade para homologar os documentos e validar a matrícula.
Entre eles estava a professora Alessandra Guimarães, 44 anos, que conseguiu inscrever as duas filhas nos cursos de inglês e espanhol. Para isso, ela acampou na porta da escola desde as 6h40 da última segunda-feira. "Trouxe minha cadeira de praia e dormi aqui mesmo. Não tinha outro jeito. Eu me dediquei a fazer isso, pois sei que o ensino é de excelência. Tive a oportunidade de estudar aqui e queria que minhas filhas tivessem a mesma chance", disse.
Mas a professora não negou o transtorno. "Foi desgastante ficar mais de 24 horas na fila e ainda ter de esperar para efetivar a matrícula. Precisam repensar isso. Foi desumano passar a noite aqui, com chuva e frio. Teve gente que trouxe barraca e a própria comunidade se organizou", completou.
O segurança Cleyton Fabiano Ferreira, 29, chegou no início da madrugada. Ele queria se matricular no inglês, mas só conseguiu o curso de espanhol. "Cheguei à 1h, mas só fui atendido depois das 12h. Pela manhã, pedi para um amigo guardar o meu lugar na fila e fui tirar cópia dos documentos", contou. Cleyton considera o sistema arcaico. " A internet está aí para facilitar a vida das pessoas e não foi utilizada", concluiu.
Procedimento "absurdo"
A estudante Luana Vanessa de Sousa Ribeiro, 19, chegou ao CIL da 908 Sul às 4h. Ela conseguiu uma vaga para o curso de espanhol, mas lamentou pelas pessoas que não tiveram a mesma sorte. "Muita gente que estava na fila vai voltar amanhã (hoje). É um absurdo, mas é a única forma de conseguir", diz.
Já no Centro Interescolar de Línguas do Guará (Cilg), por volta das 19h, o cenário era o mesmo. Em meio a tantos alunos esperando pela matrícula, a servidora pública Martina Gomes de Miranda, 28 anos, assumiu o controle da situação e organizou a lista. "Estava tudo organizado, mas a chuva atrapalhou. Eu já consegui a minha vaga e estou muito feliz com essa oportunidade. A gente paga muito imposto e, quando o governo oferece alguma coisa de graça, não podemos deixar passar", completou.
Procurada pelo JBr., a Secretaria de Educação informou que "as inscrições para o primeiro semestre de 2016 foram realizadas no fim do ano passado exclusivamente para alunos matriculados na rede pública de ensino, a partir do 6º ano do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), 2° e 3° segmentos. Os estudantes de escolas públicas foram contemplados com duas chamadas", concluiu.
Oferta acaba rápido
Segundo a diretora do CIL da 908 Sul, Renata Corcino, pela manhã, foram disponibilizadas quase 700 vagas e, no fim da tarde de ontem, todas já haviam passado por triagem e as matrículas estavam sendo finalizadas. "A procura foi muito boa, nos surpreendeu. Até agora, nos restam poucas vagas para amanhã (hoje). A comunidade solicitava essa oportunidade há bastante tempo", comemorou.
A diretora também reforçou que o atendimento à comunidade merece passar por melhorias no futuro. "Fizemos o que foi possível dentro do tempo que tínhamos. A decisão de proceder com essa novidade foi definida dentro do processo de matrículas de fim de ano, portanto, foi tudo muito rápido e junto com o início das aulas. Os alunos da escola pública têm uma dinâmica mais organizada, pela internet. Se fizéssemos o mesmo com a comunidade, os estudantes perderiam ainda mais tempo e, inclusive, aulas. No entanto, havendo a continuidade disso, vamos melhorar o sistema. Dessa vez, foi uma exceção", concluiu.
Já a diretora do centro do Guará, Adriana Lopes, destacou o papel da comunidade: "As pessoas se organizaram sem nenhum tumulto. Além disso, contamos com o Batalhão Escolar por causa da quantidade de gente. Ainda tenho pouquíssimas senhas para o turno da manhã, apenas para alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental".
Saiba mais
As unidades de ensino de línguas estão localizadas no Plano Piloto (duas), Gama, Taguatinga, Brazlândia, Sobradinho, Ceilândia, Guará, Planaltina, Recanto das Emas e Santa Maria. As matrículas só poderão ser efetivadas até hoje.
Os documentos necessários para a matrícula são: carteira de identidade, certidão de nascimento, CPF, duas fotos 3×4 recentes, título de eleitor, comprovante de residência e declaração escolar atualizada, além de informações sobre tipagem sanguínea e fator RH e certificado de reservista, quando necessário.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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