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Nº de casas em locais impróprios saltou de pouco mais de 2 mil para quase 5 mil

São 2.607 casas a mais, a maior parte em ocupações irregulares que já existiam, como a Chácara Santa Luzia, na Estrutural

Carla Rodrigues
carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br



O mapeamento das áreas de risco do Distrito Federal revela o aumento expressivo de invasões, além de mostrar o número de famílias expostas aos perigos de locais impróprios para moradia. De 2014 para 2015, as residências em locais perigosos passaram de 2.353 para 4.960. Ou seja, são 2.607 casas a mais, a maior parte em ocupações irregulares que já existiam, como a Chácara Santa Luzia, na Estrutural. A comunidade, hoje, tem 1,5 mil domicílios sujeitos a riscos: a maior quantidade em todas as 18 regiões que figuram na lista, feita pela Defesa Civil. 

Quem mora no local assegura que o aumento de casas é quase diário. “As pessoas precisam de um teto e, querendo ou não, a gente já se consolidou aqui. Então, não tem como proibir. Pelo contrário, se a gente puder, tenta ajudar”, conta Roseana Lima, 41 anos. A moradora de Santa Luzia admite que as mesmas casas danificadas em um grande incêndio ocorrido em outubro podem, agora, ser inundadas pelas chuvas. 

“São 25 barracos. E o governo avisa do risco, mas não temos o que fazer. A gente precisa de ajuda. Vivemos como cachorro”, desabafa a dona de casa, que menciona as visitas recorrentes de órgãos públicos. “É área irregular e a gente sabe, mas não temos para onde ir. A maioria dos moradores é catador, carroceiro, gente trabalhadora”, diz. 

O catador José Rodrigues Alves, 49 anos, revela o prejuízo que teve no incêndio que atingiu sua casa: “Estou devendo mais de R$ 1,2 mil. Tive que colocar telha de novo e tudo o mais. Não temos para onde ir. Aí, quem vai chegando vai ficando. E a gente sabe que pode acontecer de novo, de pegar fogo, de inundar tudo na chuva. Mas é a nossa casa”.
PRINCIPAIS PROBLEMAS NAS ÁREAS DE RISCO

Ocupação irregular do solo

Falta de sistema de drenagem de águas pluviais

Falta de saneamento básico

Estrutura precária das casas

Casas próximas a erosão

Lixo e esgoto jogados em córregos

Saiba mais
O mapeamento das áreas de risco do Distrito Federal foi finalizado em outubro de 2015, sendo contabilizadas 36 áreas de risco em 18 regiões administrativas. No mapeamento, foram levadas em consideração as vulnerabilidades e as ameaças de cada local, sendo classificado um risco. 

Como uma das medidas para minimizar os efeitos do período chuvoso, informou a Defesa Civil, foi realizado o Plano de Contingências entre vários órgãos para o período chuvoso. Com o plano, foram realizadas as seguintes medidas minimizadoras:
Limpeza de bueiros;
Podas de árvores;
Visitas as comunidades - com orientação do risco;
Monitoramento pelos agentes da Defesa Civil;
Plano de chamada para atendimento de ocorrências em virtude das chuvas.

Cenário mudou desde o início do estudo

O levantamento vem sendo feito ao longo de quatro anos pela Defesa Civil. Por isso, o último número revela, de fato, a quantidade total de locais impróprios para moradia. Em 2012, quando o trabalho teve início, o número era de 2.279 residências em 37 áreas de risco, o que significa também que alguns espaços foram, de fato, combatidos. 
Segundo o coronel da Defesa Civil Sérgio Bezerra, algumas regiões, como Ceilândia e Samambaia, tiveram áreas de risco extintas desde o início do levantamento. “Arniqueiras tinha três áreas, agora são duas. Ceilândia tinha seis, agora são cinco. Em Samambaia, tinha outra, mas erradicamos”, conta Bezerra. 
Em outros lugares, por limitações, como entrada nos condomínios, não era possível saber a dimensão dos problemas. Porém, na conclusão do estudo, assegura o coronel, todo os locais foram visitados e, assim, fica mais viável o controle. “Avaliamos as cidades em todos os seus pontos. Em termos de quantidade, de construções. A gente sabe muito bem ao avaliar, por exemplo, a Estrutural, que o foco único é a Santa Luzia. Por isso, é mais fácil, agora, controlar”, explica o representante da Defesa Civil. 

Fercal: morros como o RJ

“Nesses lugares, se chover muito e em pouco tempo, vai dar problema”, alerta o major da Defesa Civil Mário Henrique Furtado, referindo-se também à ventania comum durante temporais. A afirmação pode ser confirmada, por exemplo, na Fercal, região que mais tem áreas de risco mapeadas pela Defesa Civil. Segundo os moradores do local, chuva e vento são perigosos para quem vive no topo dos morros. “Quando tem chuva, os ventos ficam muito fortes e é certo que vai sair telha”, diz o corretor imobiliário Obelton Dias, de 29 anos. 
Na Fercal, há oito áreas de risco no total. E, segundo o major Furtado, são lugares “sem planejamento, sem sistema de drenagem e que não têm orientação das técnicas construtivas de edificações”. Ali, ressalta, “as construções fazem recortes de morros, muito parecido com o Rio de Janeiro, e isso pode ensejar grandes problemas”. Por isso, na entrada de uma das áreas, uma placa avisa sobre os riscos. 
“Quando chove vira lama. Nas primeiras chuvas deste ano, no mês passado, minha casa ficou sem telha. Eu corri e me escondi debaixo de um pé de goiaba. Depois, fui para a casa de uma vizinha. Mas é assim aqui: venta muito e enche de lama para todo o lugar”, conta o armazenista Nélio Pereira, 48 anos. Ele diz, porém, que apesar dos riscos não vai deixar a casa por não ter para onde ir. “Moro aqui há oito anos. Não tenho outro lugar”, salienta. 
Ainda de acordo com o morador da Fercal, quando perdeu as telhas da residência no temporal, o governo o ajudou com 40 telhas novas. “Eu comprei outras 40. E assim a gente vai se virando”, diz. 
Segundo a presidente da Agência de Fiscalização (Agefis), Bruna Pinheiro, o aumento na quantidade de invasões já é conhecido pelo órgão. O crescimento começou, afirma, no período eleitoral, no ano passado. “O mapeamento da Defesa Civil só veio a corroborar com tudo o que a Agefis vem acompanhando e combatendo. Essas invasões são prejudiciais, inclusive, para quem mora nesses locais”, diz.

Locais são prioridade para derrubadas

Depois da divulgação do levantamento das áreas de risco, a presidente da Agefis, Bruna Pinheiro, afirma que o trabalho será focado nesses locais. “Vamos colocá-las como prioridade nos critérios de derrubada. Fazemos operações quase que semanalmente na Santa Luzia”, salienta. O maior problema, porém, é justamente o fator humano. Segundo Bruna Pinheiro, a própria Estrutural é um exemplo disso. “Tem ali uma população de catadores e o governo não pode ignorar isso”, destaca. 
Ontem, a Defesa Civil interditou três casas na Colônia Agrícola Sucupira, no Riacho Fundo I, e três em Sobradinho por terem as estruturas físicas afetadas pelas fortes chuvas de sábado. A primeira área foi considerada pelo órgão como local passível de acidente, emergência ou desastre em mapeamento dos lugares de risco do Distrito Federal. Os moradores foram para as residências de parentes.


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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