Categoria quer reajuste de 20% no salário e 30% no tíquete.
Medida descumpre liminar e orientação do sindicato.
Parada de ônibus lotada no Recanto das Emas, região administrativa do Distrito Federal (Foto: TV Globo/Reprodução)
Descumprindo a liminar do Tribunal Regional do Trabalho que determina que 70% dos ônibus circulem em horário de pico e 50% no entrepico, motoristas e cobradores do transporte público do Distrito Federal cruzaram os braços nesta segunda-feira (8) em protesto por 20% de reajuste salarial e 30% no tíquete refeição e plano de saúde familiar. A greve começou à meia-noite e foi decidida em assembleia. As empresas oferecem 8,34% de reajuste nos salários com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
O DF tem cerca de 12 mil rodoviários. Com a greve, as paradas de ônibus amanheceram lotadas. Policiais militares acompanharam a movimentação na garagem da Pioneira em Santa Maria, responsável por 200 mil passageiros de nove regiões. O DER liberou o trânsito de carros nas faixas exclusivas da EPTG e da EPNB até o meio-dia para diminuir os transtornos.
A paralisação prejudica mais de 1 milhão de passageiros de todas as regiões administrativas do DF. A opção é contrária à indicação do sindicato da categoria, que pediu aos rodoviários que cumprissem a liminar do TRT. A multa diária por descumprimento da decisão é de R$ 100 mil. Os horários de pico vão de 5h às 9h30, das 11h às 13h e das 15h às 19h30.
O trânsito nos arredores da região era intenso, e havia congestionamento também nas vias internas. O terminal do Expresso DF estava vazio. Passageiros do Gama informaram que vans piratas cobravam R$ 10 para o transporte pelo Plano Piloto.
"Votei nesse governo com a expectativa das coisas melhorarem, mas só pioram. Minha mulher nem foi trabalhar. Homem dá um jeito de ir prensado no ônibus, mas mulher não tem como. Estou indo trabalhar na incerteza de como vou voltar. Não posso perder o emprego, então tenho que fazer o possível para mantê-lo"
Marlon Santos,
motorista
Por volta das 7h15, micro-ônibus da Cootarde rodavam no Setor O, em Ceilândia. Passageiros aproveitavam os veículos para ter acesso ao centro da região e conseguir pegar o Metrô. A autarquia contava com 24 trens rodando no horário – número usado diariamente no horário de pico – e registrava movimentação intensa nas estações.
O eletrotécnico Junior Vieira classificou a greve como abusiva. Ele pegou um trem de Ceilândia para o centro de Taguatinga e aguardava havia 40 minutos um ônibus para o trabalho, no Recanto das Emas.
"O aumento que a gente recebe é de 8,5%, e eles querem mais. É uma pouca vergonha, eles estão abusando no pedido de aumento. É uma falta vergonha. Aumento de 20% é demais", disse.
O motorista Marlon Santos, de 40 anos, contou teve que pagar R$ 6 reais em um veículo de transporte pirata para sair do Riacho Fundo II até o centro de Taguatinga. Ele trabalha no SIA e passou mais de uma hora aguardando um ônibus em uma parada no centro da região.
O motorista Marlon Santos na parada de ônibus
(Foto: Isabella Calzolari/G1)
"Votei nesse governo com a expectativa das coisas melhorarem, mas só pioram. Minha mulher nem foi trabalhar. Homem dá um jeito de ir prensado no ônibus, mas mulher não tem como", declarou. "Estou indo trabalhar na incerteza de como vou voltar. Não posso perder o emprego, então tenho que fazer o possível para mantê-lo."
Por causa da greve, o comerciante Gilberto Vaz, de 56 anos, afirmou que as vendas na banca de café da manhã na parada melhoraram. Com café com leite e pão de queijo a R$1 cada, ele contou que lucrou R$ 160 até as 8h desta segunda. Em um dia normal, as vendas no horário chegam a R$ 90.
"As pessoas procuram qualquer jeito para trabalhar. Como a espera fica maior, as vendas aumentam. Eles reclamam dos efeitos da greve, mas entendem o posicionamento dos motoristas", afirmou o homem.
Trânsito em Santa Maria, região administrativa do DF, no primeiro dia de greve dos rodoviários (Foto: TV Globo/Reprodução)
O vice-presidente do sindicato, Jorge Farias, afirmou que vai cumprir a determinação da Justiça e, paralalemente, recorrer da decisão para tentar cassar a liminar. O salário de um motorista de ônibus é R$ 1.928 e o de um cobrador, R$ 1.008. As negociações com as empresas começaram em abril.
"Ao contrário de outras categorias, os rodoviários não são funcionários do GDF. Entendemos desde o início das negociações que esse é um debate que precisa ser feito entre patrões e empregados. [...] O GDF tem se mantido em uma posição de neutralidade nessas negociações justamente por entender isso"
Carlos Tomé,
secretário de Mobilidade
A última paralisação com grande adesão feita pela categoria ocorreu no dia 27 de maio, entre 11h e 15h. Os rodoviários afirmam aceitar renegociar o valor pretendido de reajuste, desde que o governo participe da discussão. O secretário de Mobilidade, Carlos Tomé, afirmou que a postura do Executivo tem sido a de acompanhar o debate entre a categoria e as empresas.
"Ao contrário de outras categorias, os rodoviários não são funcionários do GDF. Entendemos desde o início das negociações que esse é um debate que precisa ser feito entre patrões e empregados. [...] O GDF tem se mantido em uma posição de neutralidade nessas negociações justamente por entender isso", declarou.
Fiscais da pasta foram deslocados para as garagens das empresas para acompanhar a movimentação dos funcionários. As cinco – Marechal, Pioneira, Piracicabana, Urbi e São José – afirmam que entrarão com uma ação de greve no TRT. O documento vai requerer que a negociação com os trabalhadores ocorra sob a supervisão da Justiça.
CPI
A Câmara Legislativa do DF instaurou no início deste mês uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a licitação que renovou a frota de ônibus no DF, em 2012. Os primeiros convocador a depor no colegiado devem ser anunciados nesta quinta (28).
Passageiros tentam entrar em micro-ônibus lotado durante
greve no DF (Foto: Isabella Calzolari/G1)
Relator da comissão, o deputado Raimundo Ribeiro (PSDB) adiantou na última quinta (21) a convocação do ex-secretário de Transporte e atual diretor da Adasa, José Walter Vazquez. Ele é um dos citados na denúncia do Ministério Público que aponta suposto esquema de favorecimento na licitação de 2012.
Além de Vazquez, o MP cita na ação o advogado Sasha Reck, que prestou consultoria para o GDF no projeto básico da licitação, em 2009, e no julgamento de recursos do próprio edital, em 2012, enquanto representava uma das empresas participantes da concorrência.
Se condenados, os envolvidos podem perder direitos políticos e terão que pagar multa de mais de R$ 1,4 milhão. O MP também pede a anulação completa da licitação caso o suposto esquema seja confirmado pela Justiça.
Fonte - G1/DF
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