Em pichação dentro do CEF 33, vândalos juraram gestora de morte. Ela tentava combater o tráfico
Jurana Lopes
Especial para o Jornal de Brasília
Vândalos invadiram o Centro de Ensino Fundamental 33 de Ceilândia, na EQNP 12, durante a madrugada, e destruíram a biblioteca. Além de roubarem um computador, picharam as paredes com as frases “Vou matar a Renata. Só um recado, sai fora”, referindo-se à então diretora. Renata Ferreira e o vice pediram exoneração e as aulas foram suspensas ontem.
A ação criminosa teria ocorrido por conta da atuação da gestão do CEF 33 no combate ao tráfico de drogas dentro e nos arredores da escola. Há mais de um mês, a direção conseguiu colocar dois policiais do Batalhão Escolar patrulhando a área, o que teria inibido o tráfico. Além disso, a diretora chamava a polícia sempre que encontrava alunos usando ou vendendo drogas.
Segundo o relato de servidores, até o ano passado, a escola era tranquila. Mas, neste ano, depois da chegada de alguns alunos transferidos, a situação começou a mudar. Para piorar, faltam porteiros e vigilantes. “É lamentável o que aconteceu. Tentamos fazer um trabalho pedagógico diferenciado e fomos impedidos. Se a nova direção tentar enfrentar os traficantes, vai acontecer a mesma coisa, vão ameaçar de morte”, prevê a ex-diretora, que ocupava o cargo desde 2013.
Renata teme por sua família e não pretende mais assumir a mesma função em outra escola. Quer voltar à sala de aula.
Pais preocupados
O pai de uma aluna de 11 anos do 7º ano está preocupado. “Minha filha gosta de estudar aqui, mas o problema é que eu e minha esposa temos que levar e buscar por causa dos traficantes que ficam nessa praça em frente à escola. Essa é a primeira vez que essa escola tem uma direção que bata de frente com os traficantes, por isso aconteceu isso”, explicou.
Para ele, falta investigação para acabar com o tráfico: “Já denunciamos o caso várias vezes à Polícia Civil, mas nenhuma ação é feita”.
Estudantes presenciam uso de drogas
Um aluno do 6º ano, de 12 anos, presenciou um colega com uma arma dentro da escola. Também já ofereceram drogas a ele. “Um dia, quando eu estava saindo da aula, um menino me chamou no meio da pracinha e perguntou se eu não queria maconha. Eu disse que não e fui embora”, contou.
Outro estudante, de 13 anos, sofreu ameaça quando viu alunos escondendo drogas em um bueiro. “Disseram que, se eu contasse alguma coisa, iam me quebrar na porrada”, afirmou. O aluno já viu colegas usando entorpecentes no banheiro e até mesmo dentro de sala, com o professor presente.
Ontem, houve uma reunião entre docentes do CEF 33 e o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) para decidir como proceder diante do problema. “Entramos em contato com a Regional de Ceilândia e eles garantiram que vão mandar porteiros e vigilantes, além de colocar policiamento ostensivo nos arredores”, explicou Samuel Fernandes, diretor do Sinpro-DF.
Ele reforça que o problema é antigo. “Não é de hoje que alunos usam drogas dentro do CEF 33, mas, por causa do pulso firme da direção, que chamava a polícia sempre que necessário, a venda de drogas diminuiu e os bandidos acharam ruim”, conclui.
Versão oficial
Em nota, a Secretaria de Educação informou que está fazendo reuniões, quando necessário, com a presença de diretores de unidades educacionais, para conversar sobre o assunto violência e segurança. A pasta informou que possui parceria com o Batalhão Escolar da Polícia Militar, que trabalha na prevenção, fazendo rondas até as 18h30 e visitas educativas. No período noturno, viaturas da PM estão presentes nas proximidades das instituições de ensino. Além disso, a SE-DF conta com o Projeto Político Pedagógico, desenvolvido pela pasta, que predispõe debates com os estudantes, em salas de aula, sobre temas da atualidade e que estejam diretamente relacionados aos conteúdos desenvolvidos pelos professores. Violência, drogas, cidadania e direitos humanos são alguns dos assuntos.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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