Presidente do partido é acusado de fraudar atas para mudar o estatuto e emplacar amigos e parentes no comando da sigla.
Presidente do recém criado partido PROS, Eurípedes Junior(Janine Moraes/CB/D.A Press/VEJA)
Não é novidade que a criação de partidos políticos se tornou um negócio lucrativo para aproveitadores de todo o tipo. Os benefícios incluem o acesso a recursos do fundo partidário, um percentual do salário dos apadrinhados na máquina pública e, sobretudo, a venda do tempo de TV a siglas maiores. Hoje, 28 partidos possuem representação no Congresso. Entre eles, há muitos cujo conteúdo ideológico é o que menos importa. O caso mais representativo talvez seja o do Pros, criado em 2013. A legenda é presidida por Eurípedes Júnior, cuja maior vitória foi a conquista de um lugar na Câmara de Vereadores de Planaltina (GO), no entorno do Distrito Federal. Menos de dois anos depois de fundar o partido, Eurípedes é alvo de graves acusações.
Ao nascer, o Pros atraiu parlamentares e membros de outros partidos. Certamente não por causa das suas bandeiras, genéricas e similares às de outras siglas. As migrações se devem sobretudo à janela aberta a cada vez que nasce uma legenda. É uma das poucas oportunidades que políticos com mandato possuem de trocar de sigla e manter o cargo. Sem qualquer identidade ideológica, o partido tem doze deputados federais e um governador. Chegou a comandar o Ministério da Educação, por meio do destemperado Cid Gomes.
Não demorou muito para que o partido se mostrasse igual aos demais também em outro aspecto. Há indícios de que Eurípedes Júnior fraudou as atas de duas reuniões da legenda: uma para alterar o estatuto e outra para emplacar amigos e parentes na Executiva da sigla.
As assembleias teriam ocorrido em 5 de janeiro de 2014 na casa de João Leite, aliado de Eurípedes e advogado do partido. Houve mudança no estatuto da sigla e eleição de uma nova Executiva, mesmo com os mandatos vigentes até setembro de 2017. A lista de eleitos inclui dois sobrinhos, duas primas, a irmã e a mãe de Eurípedes, além de parentes do próprio Leite.
Nem mesmo o presidente do partido estava presente às reuniões: um cartão de embarque mostra que ele embarcou para São Paulo no dia anterior, com retorno previsto para o fim da tarde do dia 5, já fora do horário para participar das reuniões. O problema é ainda pior: "As assinaturas que acompanham as atas não foram colhidas na ocasião, mas eram assinaturas anteriores realizadas pelo partido", diz em uma das representações Henrique José Pinto, empresário e antigo braço-direito de Eurípedes no Pros. Outros três integrantes da sigla fizeram queixas semelhantes ao Ministério Público Federal, que apura o caso.
Se a fraude for comprovada, não terá sido a primeira vez em que Eurípedes se envolveu em algo do tipo. O presidente do Pros possui três nomes, três números de RG e três de CPF diferentes. Atende por "Eurípedes Gomes de Macedo Júnior", filho de Maria Aparecida dos Santos e Eurípedes Gomes de Macedo. Mas também pode ser "Eurípeges George Junior", filho de maria Aparecida George Gomes e Eurípedes Gomes de Macedo. Ou ainda "Eurípedes George Macedo Júnior", filho de Maria Aparecida Macedo dos Santos e Eurípedes George Macedo. Um RG foi emitido no Distrito Federal, outro em Goiás e o terceiro em Mato Grosso do Sul.
Eurípedes ainda tem passagem na política pelo crime de receptação de produto roubado. Dentro do Pros, outras denúncias também surgiram. O ex-deputado José Augusto Maia diz que o comando da sigla receberia 6 milhões de reais para integrar a coalizão de Paulo Câmara (PSB) ao governo de Pernambuco em 2014. O próprio Maia receberia 2,5 milhões de reais do acerto. "Eu não aceitei. A proposta era indecorosa, para eu ficar com uma parte do dinheiro e a outra parte com eles", afirma. Depois disso, ele acabou destituído do comando estadual do partido. Paulo Câmara nega veementemente ter oferecido dinheiro ao Pros.
As denúncias se dão em meio a uma disputa dentro da sigla. O grupo de Cid e Ciro Gomes quer aumentar seu poder sobre o partido. Eurípedes, por sua vez, pediu que o Tribunal Superior Eleitoral bloqueasse todas as senhas estaduais e municipais do partido. Agora, só ele e seus aliados controlam a filiação de novos membros. Concorde ou não com os métodos de Eurípedes Júnior, o contribuinte é quem paga as contas do Pros. Só em 2015,o partido recebeu mais de 7 milhões de reais via fundo partidário. Na última semana, a Câmara dos Deputados perdeu mais uma chance de enfraquecer os partidos de aluguel: bastava extinguir as coligações nas eleições para vereador e deputado. Mas a Casa rejeitou a mudança e manteve o filão tão bem explorado pelo presidente do Pros.
Fonte - Revista Veja
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