Daniel Cardozo
daniel.cardozo@jornaldebrasilia.com.br
Para a deputada distrital Liliane Roriz (PRTB), a paciência com o governo já tem a validade ameaçada. Passados quase cem dias de gestão, as reclamações sobre o caos financeiro deixado pelo governo anterior passam a perder credibilidade. “A partir de agora, temos que cobrar mais duro do governo, porque ele já tem uma margem para se trabalhar, para criar oportunidades”, avalia. E para contar com o apoio da Câmara Legislativa, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) precisa aprimorar o diálogo com os parlamentares. “O deputado pode ajudar muito, se tiver a disposição para fazê-lo, porque é ele quem está perto das bases. Ele sabe o que as comunidades precisam. Se o governador for inteligente – acredito que seja - ele vai poder usar mais da disponibilidade dos deputados”, afirmou, cobrando uma melhor articulação com o Legislativo.
A senhora acredita exista uma estratégia do governador Rollemberg de se aproximar da família Roriz e do capital político que ela possui?
Eu acho que a questão é o reconhecimento ao trabalho dedicado à cidade, que minha família, meu pai e minha mãe fizeram. O governador compreende que há uma experiência muito grande e essa aproximação é mais do que natural. Sabendo do amor que meu pai tem pela cidade, é natural que o governador atual queira compartilhar ideias e experiências. Meu pai entendeu isso e nada mais do que a gente quer é que qualquer governante que assuma esta cidade tenha o mesmo zelo para governar.
Existe a possibilidade de deixar a bancada governista em algum momento?
Olha, eu não posso afirmar isso. Mas sou da base até que algum projeto não esteja conforme a vontade da população. Por enquanto, quero dar um voto de confiança para o governador Rodrigo Rollemberg, no sentido de que o Distrito Federal precisa desse voto de confiança, para que ele assuma posturas diferentes em relação à gestão, trazendo mais tranquilidade à cidade. Estou ao lado dele, serei a favor dele até onde ele estiver com esse propósito de lutar pelo Distrito Federal. Sempre digo que sou da base de apoio à minha cidade. Não apoio um governo, mas sim à cidade.
Fazendo as contas, o governador tem a maioria na Câmara Legislativa?
Tem a maioria. Não é uma maioria satisfeita cem por cento, mas sim uma maioria que dá uma certa tranquilidade para governar.
O que falta para que o governador se aproxime dessa maioria e mantenha uma base satisfeita?
Falta muita conversa. Acho que o diálogo com o próprio governador e que ele assuma posturas de compromisso com a cidade. Nem sempre o deputado quer espaço político e cargos no governo. Ele quer fazer um bom trabalho nas bases e ter o governo à disposição para ajudar a resolver problemas da cidade. O que é necessário é muito diálogo e entendimento, que é muito necessário hoje. A Câmara Legislativa e os deputados estão muito dispostos a ajudar o governador, mas é preciso um pouco mais de atenção. Eu sempre disse que cada deputado tem sua personalidade diferente e é preciso conversar com cada um deles individualmente, para que eles entendam que Brasília está passando por uma situação difícil e tudo vai ser colocado nos eixos. Até porque o deputado pode ajudar muito o governador, se tiver a disposição para fazê-lo, porque é ele quem está perto das bases. O deputado sabe o que as comunidades precisam, escuta o que precisa ser feito. Se o governador for inteligente – acredito que seja - ele vai poder usar mais da disponibilidade dos deputados. É preciso ouvir mais, afinal somos representantes do povo.
A articulação política do Palácio do Buriti tem sido muito criticada pelos deputados. Qual é problema?
Eu não posso falar por que o diálogo é difícil. Tenho que falar por mim. Comigo, o diálogo é razoavelmente fácil. Eu entendo que a cidade tem que ter um pouco de paciência, embora a gente saiba que esse limite está chegando ao fim e que esse diálogo depende muito de quem é o intermediário. Se não foi achada ainda a pessoa ideal para essa conversa, acho que o governador tem que ligar para cada deputado e chamar para uma conversa.
Em três meses de governo, que tipo de avaliação é possível fazer?
Veja, acho que a partir agora, temos que cobrar mais duro do governo, porque ele já tem uma margem para se trabalhar, para criar oportunidades de trabalho. Na verdade, o governo precisa estimular empresas para que elas sejam motivadas para se instalarem em Brasília. O setor produtivo está muito desmotivado e existe um pessimismo muito grande. Eu acho que o governo tem que dar oportunidade para que esses empresários voltem a investir na cidade. Eu tenho ficado muito alerta a isso e fiz um projeto que dá taxas de impostos mais baixas depois de dois anos de estadia no Distrito Federal. Isso motiva o empresário e o faz entender que o governo faz seu papel de contrapartida. Temos que colaborar com o governo e dar mecanismos para que não sejam feitas leis proibitivas.
O setor empresarial já está contrariado com a questão dos pagamentos. É possível atrair mais empresários?
Com certeza. Você precisa ter muito mais diálogo com os empresários, porque não só Brasília como o Brasil passa por uma crise muito grande. Mas a gente tem que entender que o estado de Goiás não pode criar mais expectativa para as empresas deixarem de vir para cá e irem para Goiás. O governo tem que achar uma forma para os empresários terem melhores expectativas.
A senhora foi uma das poucas opositoras ao governo Agnelo. Que tipo de aprendizado foi possível obter?
Historicamente, minha família sempre foi oposição ao Partido dos Trabalhadores, embora no meu caso fosse uma oposição muito discreta, por achar que a cidade estava sempre em primeiro lugar. Nunca fui oposição radical, sempre busquei o melhor para a cidade. Ser base sempre tem uma premissa na minha cabeça: estou na situação, mas quero, acima de tudo, o melhor para o Distrito Federal. É o que fiz quando o governador vetou meu projeto, que preservava a quadra 901 Norte. Fui muito dura. Não gostei e me espantei pelo fato de ter lutado com ele contra o PPCUB, que o governo anterior queria aprovar. Fui radicalmente contra esse veto. Logo depois, o governador falou comigo que era favorável a essa preservação. O plano de Lúcio Costa tem que ser intocável. Falei para ele que ia derrubar esse veto. Ele entendeu e conversei com todos os meus colegas, que me apoiaram. Não vou abrir mão disso, porque é a cidade que eu amo e vou lutar por isso. Mesmo que eu seja da base do governador, vou pensar sempre nesse amor que eu tenho por Brasília.
Qual o momento mais oportuno para discutir PPCUB e Luos?
Têm que ser revistos os dois projetos. O governador acompanhou e fez audiências públicas quando era senador e sabe que tem que haver um ajustamento. A cidade cresceu e existe a prerrogativa de se conservar a cidade como patrimônio cultural da humanidade. Eu acho que o PPCUB tem que ser avaliado pelo Iphan e é preciso que se restabeleçam novos conselheiros no Conplan. É uma discussão que tem que ser diferente do passado. A cidade precisa ouvir o que pode ou não ser feito e entenda qual o mistério por trás do PPCUB, qual a razão do governo anterior querer que a Câmara o aprovasse a toque de caixa. O governador Rollemberg tem história na cidade, como Elisa Costa, que acompanhou toda a campanha, foi à posse do governador. Ela é uma pessoa que acompanha muito essa questão. O governador vai entender que isso tem que ser melhor discutido. Não sei quando isso poderia acontecer, mas acredito que é importante que seja colocado em discussão. Até porque sempre vamos ficar naquele medo, pavor, que venha para assombrar a tranquilidade do morador de Brasília.
A revitalização da W3 é uma das questões que devem ser levadas em conta quando se fala em PPCUB. Como fazer isso?
Entre meus projetos, eu criei um que dá incentivos para os moradores e comerciantes que reformarem calçadas, marquises, fachadas. Em contrapartida, será concedido um desconto no IPTU. Todos os governos tentaram revitalizar a W3, mas o assunto não foi adiante. Será um estímulo às pessoas que vivem naquela área para a tornarem atrativa. Será bom tanto para o comerciante tanto para os moradores. A cidade vai ficar mais bonita. A avenida que foi muito famosa décadas atrás passa a ser reutilizada e pode ser até um ponto turístico novamente.
Nos primeiros três meses, o governo reclamou constantemente da crise financeira. É possível superá-la ainda este ano?
Sim. Acho que esse ajuste de contas sempre é muito ruim para a cidade. Mas temos que entender que as áreas básicas, como a saúde, segurança e educação não sejam afetadas. Afinal de contas, temos um fundo que nos garante isso, a estabilidade. Então, acho que no próximo semestre, com o ajuste todo que tem sido feito, podemos passar a partir de agosto uma tranquilidade maior, com ele cumprindo as promessas de campanha, em todas as áreas. Assim como prometeu no seu plano de governo. É o que eu espero.
O caminho para superar a crise é com aumento de impostos?
Não. Eu acho que seria melhor cortar gastos desnecessários, com viagens, carros de luxo. Tem que enxugar a máquina. As pessoas no governo têm que entender que precisam usar menos telefone, menos supérfluos. Ou seja, quem está envolvido com o governo tem que entender que é um servidor público e não um gastador público. É preciso pensar que a máquina gira em torno de economia. Cada secretário, servidor precisa ter esse zelo com o dinheiro público.
O aumento do IPTU perdeu força?
É, o IPTU não tem como. O País já passa por essas dificuldades e não tem porque aumentar e eu sou totalmente contra um reajuste.
A redução no número de administrações foi deixada de lado, já que vários deputados se manifestaram contra. Tem alguma chance de ser aprovada?
No meu ponto de vista, não. É, aliás, o ponto de vista das comunidades dessas áreas. É muito ruim. Não acho que seja uma economia muito relevante acabar com algumas administrações. Tem que se readaptar ao momento, diminuir o número de servidores, mas acho que acabar com elas eu também não sou a favor.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
Leia também em www.agenciasatelite.com.br