Entre a perda de um filho e a recuperação de outro, a professora Eliana Ledo Rocha Brandão se define entre um misto de fragilidade e fortaleza. Ela é mãe dos gêmeos siameses Heitor e Arthur, separados em cirurgia realizada no final do mês passado em Goiânia. O primeiro se recupera em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Materno Infantil. Já Arthur, não resistiu e morreu três dias após o procedimento.
“Antes de entrar naquela UTI eu sou uma Eliana. Depois que eu entro na UTI eu tenho que me transformar porque eu não quero deixar ele [Heitor] entender que a gente está triste, ou que ele possa se sentir até culpado”, conta.
Eliana explica que há momentos em que precisa disfarçar a tristeza na frente de Heitor, como quando lê as mensagens de apoio postadas em redes sociais. “A cada mensagem que eu lia eu me desabava em choro. E aí às vezes ele acordava e eu tinha que colocar a máscara para ele não perceber que eu estava chorando.”
Perda Natural de Riacho de Santana, cidade do interior da Bahia, a mãe dos siameses veio a Goiânia um mês antes do nascimento dos filhos para que eles tivessem acompanhamento desde o parto, em maio de 2009. Após o nascimento, ela voltou para a terra natal por um período e, desde 2010, mora em Goiânia com os siameses. O marido e a filha mais velha, de 7 anos, continuaram no Nordeste.
Eliana revela sentir que ainda não pôde viver o luto pela perda do filho. “Ainda não tive o momento de poder extravasar esse momento pela partida de Arthur, mas eu vou ter esse momento”, desabafa a mãe.
Antes da cirurgia, Eliana afirmou que, apesar das restrições físicas, os filhos não possuíam nenhum problema cognitivo. Com personalidades “totalmente diferentes”, os gêmeos sonhavam com a cirurgia, segundo a mãe. "Eles querem se separar, não querem desistir porque sabem que vão ter liberdade, uma independência maior, poder ir sem precisar da permissão do outro", disse a mãe antes do procedimento.
“A gente tem que ser forte para todas as situações e adversidades que tem na vida. Nos momentos de alegria e de tristeza então a gente tem que estar sempre firme e forte. Um amor tão forte, tão verdadeiro, que a gente quer abraçar tudo ao mesmo tempo”, explica.
Ela conta ainda que se surpreende com a repercussão do caso dos filhos e considera fundamental o apoio recebido durante o processo: “A gente tira a força na oração, oração que está vindo de muitas pessoas, inclusive gente que nem conhece a gente, pessoas de cada canto desse Brasil, e amigos, família.”
Eliana com os filhos antes de cirurgia de separação (Foto: Sílvio Túlio/G1)
Separação
A cirurgia de separação de Heitor e o irmão Arthur Brandão ocorreu no dia 24 de fevereiro e durou cerca de 15 horas. Arthur morreu três dias depois, após sofrer duas paradas cardíacas.
Os gêmeos eram unidos pelo tórax, abdômen e bacia, compartilhando o fígado e genitália. Desde que nasceram, eles eram preparados para a cirurgia de separação. Os siameses passaram por 15 procedimentos cirúrgicos, entre eles alguns para implantação de expansores no corpo para que tivessem pele suficiente para a separação. Os meninos só alcançaram as condições necessárias para a cirurgia neste ano.
Segundo o pai dos gêmeos afirmou na segunda-feira (2), o filho sobrevivente não perguntou mais do irmão após sua morte. Em um texto postado em uma rede social, ele diz acreditar que o filho "sabe ou sente" que o irmão não está mais ali e que só vai contar o que ocorreu quando Heitor questionar onde está o irmão.
Fonte: G1/GO
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