Imagine uma escola inteira vendo, na internet, fotos e imagens de uma estudante adolescente transando.
Parece um pesadelo, mas esta cena hoje é mais comum na vida real do que se pensa.
Muitas adolescentes apaixonadas topam aparecer nuas na webcam, ou serem filmadas e fotografadas sem roupa pelo namorado. O problema é que quando o relacionamento acaba, as imagens acabam sendo divulgadas publicamente por vingança.
Esse foi um dos temas abordados pela procuradora do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro e integrante do Grupo de Combate aos Crimes de divulgação de Pornografia Infantojuvenil e Racismo na Internet, Neide de Oliveira, durante debate promovido em parceria pela Childhood Brasil e a revista Capricho, no dia 23 de setembro último, na pré-estréia do filme Confiar, que aborda o abuso sexual de uma adolescente de 14 anos.
A procuradora conta que um caso no Rio de Janeiro causou muita repercussão e devastou a família.
“Os pais, desesperados, chamaram a polícia militar e queriam que fossem apreendidos todos os celulares dos alunos na escola e até a Polícia Federal entrou no meio”, afirma.
Ela avalia que é muito comum os pais, como aparece no filme Confiar, tentarem fazer justiça com as próprias mãos.
Na história que o filme retrata, o pai da garota ficou tão perdido, tão atordoado, que só pensava em se vingar do criminoso, o que acaba prejudicando-o no trabalho e abalando toda a própria família.
A especialista afirma, no entanto, que por mais difícil que seja é preciso ter calma para enfrentar uma situação delicada como esta, começando por providenciar, o mais rápido possível, a retirada das imagens da internet.
Neide frisa que divulgar material de sexo explícito ou pornografia infantojuvenil na internet é crime, e que qualquer pessoa a partir dos 12 anos de idade pode ser punida por este ato.
Outra recomendação é que as adolescentes informem seus pais, mesmo estando envergonhadas, porque é neles que elas realmente podem confiar.
A especialista também alerta sobre o perigo de conhecer um abusador sexual na internet, tendo constatado num projeto do qual participou no Rio de Janeiro, que é cada vez mais frequente o número de adolescentes que se encontra com estranhos que conheceram na internet. Uma pesquisa com alunos do projeto, revelou que 29% dos estudantes já tinham se encontrado com um desconhecido com quem batiam papo online.
O estudo revelou também que 10% destes alunos já tinham passado por alguma situação desagradável no encontro. Link para mais informações sobre a pesquisa.
Normalmente, a menina pensa que é uma pessoa da sua idade, mas ele tem técnicas para persuadir e ganhar sua confiança.
Ela cita como exemplo o caso da garota de 14 anos do filme Confiar, que acabou sendo abusada por um homem de 40 anos que ela pensava ser um estudante da sua idade.
“É fácil ter um olhar crítico quando se olha a história de fora, mas eles (os abusadores) usam uma argumentação forte para seduzir a menina, explorando sua vulnerabilidade”, conta.
Neide adverte que, se a menina desconfiar de uma conversa ou ficar na dúvida, deve comunicar os pais, antes de se encontrar com pessoa. “É um perigo não contar para nenhum adulto com quem está conversando”, afirma a especialista.
Também alerta aos adolescentes que tomem cuidado ao postar fotos nas redes sociais e enviá-las por e-mail, porque as imagens podem ser manipuladas, como ocorreu no filme, quando a menina abusada teve uma montagem de sua foto divulgada num site pornográfico. Os abusadores também costumam utilizar as imagens como forma de chantagear as vítimas. No filme, a menina teria fornecido material suficiente para ele fazer ameaças.
Neide frisa, ainda, que a internet é um espaço público como outro qualquer e não tem sentido fazer online o que não se faria na vida real.
Além da procuradora Neide de Oliveira, participaram do debate: a diretora executiva da Childhood Brasil, Ana Maria Drummond; o coordenador de TI da Safernet, Caio Almeida; a psicóloga da Unesp e organizadora do livro “A exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil”, Renata Libório, e a estudante Anne Beatrice Drews, que desenvolve um projeto sobre o uso seguro da internet no colégio em que estuda.(Childhood Brasil).