“Conheço um velho ditado de tempos atrás, diz
que um pai trata dez filhos, mais dez filhos não tratam um pai”. Com essa frase
iniciamos a história de vida da mineira de Governador Valadares, Maria da
Conceição Silva do Santos, que escolheu Novo Gama como refúgio, visando criar
os cinco filhos que com muito sacrifício educou “sozinha e com a ajuda de
Deus”.
Antes de chegar no município a
aproximadamente vinte e seis anos atrás, vivia com muita dificuldade em sua cidade
natal, foi quando, ainda muito nova, não teve o apoio da família e assim
decidiu “pegar a estrada” em busca de melhores condições para os seus filhos.
Antes porém, devido as dificuldades,
matriculou um de seus filhos Elias, em uma escola de padres (seminário) para
que esse tivesse uma educação exemplar. Porém,
devido a problemas pessoais teve que retirá-lo e continuar sua caminhada a fim
de poder prover o sustendo da sua família. Ao chegar em Novo Gama, dona Maria
(como é carinhosamente chamada), foi morar no bairro do Lago Azul, na Quadra 42
e desde então, trabalhou como faxineira e lavou roupa de famílias da região
para ganhar o pouco que, segundo ela, “foi importante na educação dos seus
filhos”.
Infelizmente, nem tudo na vida acaba da forma
que é planejado. Atualmente está debilitada com sérios problemas de saúde e
deixada ao “léo” em seu singelo casebre de alvenaria com acabamento por
finaliza, sobrevivendo da ajuda de pessoas sensibilizadas com a situação de
abandono que se encontra. “Tudo que tenho dentro desta casa foi doado pelos
meus amigos dos quais sou grata eternamente, pois quando estou em dificuldades
são eles que me socorre”, disse.
Dos cinco filhos, nenhum está ao seu lado e
pelo que consta da vizinhança, esses, hoje criados, são pessoas com suas vidas
estáveis e famílias constituídas no município. Todavia, dona Maria continua seu
martírio de anos atrás.
Na última semana, esteve na Prefeitura
pedindo auxilio para a compra de medicamentos, bem como marcar exames de
rotina, necessitando urgentemente de acompanhamento de médico, pois sofre de
reumatismo, osteoporose, hipertensão, além de ter que tomar injeção a cada
quinze dias. “Pelo menos os remédios eu ganho da Prefeitura”, disse em tom de
agradecimento pela ajuda. Sensibilizado com a situação da idosa, o prefeito
Everaldo Vidal de imediato disponibilizou “do bolso”, certa quantia em dinheiro
para o pagamento da consulta, bem como para a compra de medicamento e
alimentos.
Perguntada se contava com ajuda de algum
filho, ela com o coração de mãe informou que eles não tinham condições e que
muitas vezes ainda os ajuda. Porém,
levantamentos realizados pela equipe de jornalismo demonstraram que pelo menos
um dos seus filhos possui condições suficientes para prestar assistência à mãe,
todavia fecha os olhos para o problema.
Por intermédio da assessora do gabinete da
Prefeitura Vera do Boa Vista, dona Maria ganhou uma cesta básica recheada,
inclusive com carnes.
Da vida de lutas.
Além de trabalhar diariamente fazendo faxinas
e lavando roupas, aos finais de semana ela ainda se dirige a feira do Pedregal
para trabalhar em uma barraca de venda de frutas, verduras e legumes. Por essa
empreitada, dona Maria recebe apenas R$ 20,00 pela diária. Segundo ela, o valor
arrecado no mês mal dá para custear as despesas de água e luz, porém sente-se
feliz em ainda poder trabalhar. O restante é oriundo de doações de pessoas da
comunidade. “Sei que pouco, porém fico satisfeita por saber que ainda tenho
forças para trabalhar”, enfatizou.
Dona Maria da Conceição dá a receita para os
seus 65 anos: “minha vida é lutar a cada dia para ter o que comer sobre a mesa,
não tendo medo de trabalhar”.
Apesar do abandono, ele faz questão de
lembrar dos filhos Paulo Sérgio, Elias, Adriana, Geane e Anadir, citando do
estado de saúde do filho Paulo Sérgio que atualmente está debilitado devido uma
fratura na perna. Com relação aos demais, apesar de fazer questão de dizer o
nome de cada um, nota-se a tristeza ao relatar a situação de um dos filhos, que
segundo entende, poderia dar maior atenção a mãe, mas não a ajuda. Todavia se
esquiva em dar maiores detalhes do mesmo.
Ela lembra que esse filho nasceu quando
estava sozinha. “Não morri não sei como e hoje pouco posso esperar dele”, diz
ao calcular que a dificuldade lhe impedia de contar com o apoio de familiares e
vizinhos, bem como por um atendimento de saúde adequado. “Porém coração de mãe
é muito grande e sempre há espaço para os filhos sem distinção de quem seja”,
enfatizou.
Uma dos principais desejos de dona Maria é
conseguir aposentadoria, pois entende que poderá realizar os tratamentos
médicos que necessita, sem depender diretamente de doações, bem como dar apoio
aos filhos na hora que necessitarem. “Muitas pessoas aqui no município me
fizeram promessas de me aposentar, porém prefiro fazer uma coisa por ver e
ficar com a minha consciência tranquila do que fazer as coisas atropelando o
correto e mais tarde pagar por isso. Tenho fé em Deus que vou conseguir me
aposentar e a Prefeitura, através desse anjo chamado Vera vai me ajudar a
realizar esse meu desejo e direito”, finalizou.